Mercado

Exportação de álcool pode aumentar área de cana

Os empresários do setor sucroalcooleiro, os usineiros, são unânimes em afirmar: a exportação de álcool anidro, principalmente para a Ásia, é a solução para expandir a área plantada. “É uma das alternativas para a nossa indústria, mas também acredito na retomada do carro a álcool no País, além do uso de veículos flexíveis, que usam álcool ou gasolina”, diz o presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Única), Eduardo Pereira de Carvalho. “O Brasil tem uma área de expansão extraordinária para a agricultura, mas dependerá do fechamento de contratos para que isso ocorra”, diz o usineiro Maurílio Biagi Filho, diretor da Companhia Energética Santa Elisa, de Sertãozinho (SP).

A expectativa de usineiros e profissionais ligados ao setor foi discutida durante a Fenasucro, evento que reuniu, na semana passada, em Sertãozinho, o setor sucroalcooleiro do País. A provável expansão da área plantada justifica-se após o Japão aprovar, recentemente, a adição não-compulsória de 3% de álcool anidro à gasolina. A medida, que visa reduzir a emissão de gás carbônico no ar – causador do efeito estufa -, prevê que o Japão importará, numa primeira etapa, 1,8 bilhão de litros de álcool anidro. O Brasil, que tem capacidade instalada (cerca de 300 unidades) para produzir 16 bilhões de litros/ano, e produz 13,5 bilhões de litros, é um forte candidato a abastecer o mercado japonês.

Dúvidas – As dúvidas persistem, porém. Se o contrato com os japoneses for fechado, o Brasil terá condições de suprir essa demanda em curto prazo? Além disso, pergunta-se se há canaviais suficientes, e se seria necessário para criar novas áreas de plantio, além de ampliar a infra-estrutura para exportação. “O Brasil está numa situação boa, pois ocupa 50 milhões de hectares de sua área agricultável e tem mais 100 milhões de hectares disponíveis”, afirma Biagi Filho. “Sonhamos com a exportação de álcool anidro e o Japão é o país que está mais próximo disso”, diz o presidente da Organização dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Orplana), Manoel Ortolan, que também preside a Associação dos Fornecedores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste). Ortolan cita, aliás, que está sobrando cana no campo nesta safra: de 15 milhões a 20 milhões de toneladas, o que daria para produzir de 1,3 bilhão a 1,5 bilhão de litros de álcool anidro. Carvalho, da Única, divulga um número próximo:

18 milhões de toneladas a mais, para produzir 1,2 bilhão a 1,4 bilhão de litros. E preocupa-se: “O pessoal planta antes de ter mercado, é preciso mais controle.”

Parceria – O presidente da Câmara Setorial de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, Luiz Carlos Corrêa de Carvalho, diz que existem conversas com os japoneses, que fariam um contrato amarrado para garantir o fornecimento e evitar problemas como o ocorrido no Proálcool, quando, por causa dos preços, os usineiros deram prioridade à produção de açúcar para exportar e reduziram a de álcool, prejudicando o consumidor brasileiro. “A demanda é segura e rotulada, pois os japoneses não entrarão num programa para abastecer o seu mercado interno se não tiver tudo bem amarrado”, diz Corrêa de Carvalho. Ele acrescenta que os nipônicos podem até investir no País, fazendo parcerias. A abertura do mercado japonês para o álcool anidro brasileiro significaria um crescimento de empregos no setor:

Corrêa de Carvalho calcula que, para cada 1 milhão de litros, são necessários 40 empregos. “Imaginando um programa de exportação de 1 bilhão de litros, isso significa entre 40 mil e 50 mil novos empregos”, diz ele.

“Com a exigência da redução da queima de cana, substituída pela mecanização, nos próximos 20 anos, os novos empregos supririam essa perda”, diz Carvalho, da Única.

Se o Brasil aumentar as exportações de álcool anidro, será necessária e possível a abertura de novas áreas de plantio de cana em regiões não-tradicionais (a maior parte da cana plantada, hoje, está em São Paulo e em alguns Estados do Nordeste), como no Centro-Oeste e nos Estados da Bahia, Minas Gerais e Pará. Ortolan revela que dez novas unidades (usinas) estão no papel e quatro devem ser instaladas em breve no País. Mas o futuro empresário terá que analisar bem o solo antes de iniciar o plantio. Se for em área agricultável, com plantios de soja, arroz e milho, por exemplo, que serviriam para a rotação de cultura, é preciso ainda analisar as características de solo e clima.

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