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Exportação brasileira ainda mais dependente da China

Acentua-se a dependência das exportações brasileiras da China. Conforme mostrou o Valor na sua edição de sexta-feira, a China tornou-se o maior importador de produtos brasileiros, ultrapassando a União Europeia, quatro anos depois de já ter superado os Estados Unidos. Durante décadas, a Europa e os EUA foram os maiores parceiros comerciais dos brasileiros.

A ultrapassagem da União Europeia pela China não se deu de forma repentina. Foi um processo relativamente rápido em se tratando de movimento de importação e exportação, mas tinha se iniciado na década passada. Em 2007, os chineses absorviam 7% das vendas brasileiras ao exterior. Ano a ano, houve avanço dessa fatia. A União Europeia, que comprava 24,5% de tudo o que o Brasil exportava em 2007, perdeu representatividade de forma gradativa.

Neste ano, porém, a economia em ritmo mais fraco, com retração da produção industrial, provocou queda na demanda europeia por produtos brasileiros. Assim, a exportação brasileira para o bloco europeu caiu 8,1% de janeiro a agosto na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com os dados do Ministério do Desenvolvimento. Isso fez a fatia dos embarques brasileiros destinada à União Europeia recuar de 20,4% de janeiro a agosto de 2012 para 19,3% em igual período deste ano. Em comportamento inverso, as vendas de produtos brasileiros para os chineses tiveram alta de 9,1%. O resultado foi o aumento da parcela de embarques rumo ao país asiático. Na mesma comparação, a fatia subiu de 18,2% para 20,3%.

Quais as consequências para o Brasil e as empresas brasileiras dessa mudança de cenário no comercio exterior? A primeira e mais óbvia é que as variações da economia chinesa estão tendo e continuarão a ter um impacto bastante forte na balança comercial do país. Como a pauta de produtos vendidos pelo Brasil aos chineses é principalmente de matérias-primas como minério de ferro e soja, o país se beneficiou bastante do ritmo de crescimento acelerado mantido pela nação asiática nos últimos anos. Agora que a economia chinesa passa por uma fase de incremento mais moderado do seu Produto Interno Bruto (Pib), o Brasil continua vendendo muita soja e muito minério de ferro para eles, mas fica mais exposto às oscilações da sua economia.

Além disso, como a China compra principalmente esse tipo de produto – básico -, a tendência de o Brasil se tornar um exportador principalmente de commodities parece inevitável, pelo menos por um longo período, diante da dependência das compras feitas pelos chineses. O levantamento do Ministério do Desenvolvimento até julho (os dados detalhados sobre a balança comercial até agosto ainda não estão disponíveis) mostra que as vendas de soja para a China representaram 9,65% de tudo o que foi exportado durante este período. As vendas de minério de ferro representaram mais 6,10%.

Esses dois itens da pauta de exportação mostraram aumento em relação ao mesmo período do ano passado, diferentemente do que ocorreu com produtos industrializados ou semi-industrializados. As vendas de ferro liga ou mesmo de óleo de soja para a China caíram nos primeiros sete meses do ano.

Ou seja, há um movimento de empobrecimento da pauta de exportação, como dizem os especialistas. Com o maior espaço da China, o conjunto dos embarques perde diversidade e se concentra em itens de menor valor agregado.

Essa é uma situação bem diversa do que ocorre nas relações comerciais do Brasil com a União Europeia. Dados do ministério mostram que os produtos industrializados representam quase metade da pauta de exportação aos europeus. Manufaturados e semimanufaturados respondem por 47,9% do que a UE compra do Brasil atualmente. Nas vendas para os chineses são os básicos que prevalecem, com participação de 87,4% na exportação para o país asiático.

Tanto as exportações para a China como para a União Europeia sofreram, neste ano, a contribuição negativa da queda dos embarques de petróleo. Nas vendas aos chineses, os embarques do óleo bruto caíram 29,7% no acumulado até agosto, contra iguais meses de 2012. A soja, porém, compensou essa queda. A venda do grão à China cresceu 34% no período. A soja respondeu por 47,6% das exportações brasileira aos chineses de janeiro a agosto.