A 30ª edição da Expointer, encerrada ontem no Parque de Exposições Assis Brasil em Esteio, fechou com resultados positivos em todos os segmentos. Segundo balanço parcial (até meio-dia) apresentado pela governadora Yeda Crusius, a comercialização total neste ano somou R$ 131,5 milhões, uma alta de 37,3% em relação ao ano passado. O desempenho da feira superou, inclusive, a projeção inicial dos organizadores do evento, que apostam em acréscimo da ordem de 30%.
Para a governadora, os resultados dão ainda mais otimismo ao Estado e ao setor produtivo em relação à recuperação do agronegócio gaúcho e brasileiro, sentido tanto nos preços dos grãos, quanto na pecuária. Os números, computados, no entanto, ainda sofrerão alterações e, segundo ela, serão apresentados em sua totalidade nos próximos dias, assim que os relatórios forem concluídos.
No balanço dos R$ 131,5 milhões divulgados estão incluídas as negociações do setor de máquinas agrícolas – que foi de R$ 120,1 milhões. No entanto, outros R$ 35,9 milhões foram comercializados em Esteio pelo setor automotivo (carros, caminhonetes etc) e não fazem parte do montante apresentado ontem.
Em animais, a venda chegou a R$ 9,4 milhões, contra os R$ 7,3 milhões de 2006, representando alta de 27,9%. A agroindústria familiar negociou R$ 585 mil, contra R$ 449,5 mil da edição anterior, saldo 30,1% maior. Já o artesanato gerou R$ 1,3 milhão, um crescimento de 26,8% em relação a 2006.
Em relação ao número de visitantes, a feira contou com um incremento de 8,6%: foram 695 mil pessoas, contra os 640 mil do ano passado. O número de expositores passou de 2.895 em 2006, para 3.160 neste ano, aumento de 8,4%.
A governadora ressaltou os investimentos feitos no parque para esta primeira Expointer de seu mandato. Segundo ela, o governo investiu R$ 325 mil em melhorias no Parque Assis Brasil, sendo R$ 280 mil na colocação de piso e construção das 13 cozinhas do Pavilhão da Agricultura Familiar, R$ 15 mil na construção de baias para os pôneis e os R$ 30 mil restantes, foram aplicados, por meio da Secretaria de Agricultura, no Centro de Manejo e Pesagem.
O movimento computado nas instituições financeiras, comprova a confiança depositada no futuro do setor primário. No Banrisul, o crescimento foi de 53,4%, totalizando R$ 16,5 milhões em financiamentos, contra os R$ 10,7 milhões do ano passado. O Banco do Brasil movimentou R$ 49,5 milhões, 40,1% mais se comparado aos R$ 35,3 milhões de 2006. Já a CaixaRS apresentou 400% de crescimento, passando de R$ 20 milhões em 2006, para R$ 80 milhões neste ano, o Sicredi passou dos R$ 9 milhões em 2006 para R$ 17 milhões, aumento de 88,9%. O Brde movimentou R$ 123 milhões, uma alta de 130,7% se comparado aos R$ 53,3 milhões do ano passado.
Yeda abordou também a questão do estacionamento do parque, ainda deficitário. Junto com as vias de acesso, serão suas prioridades para a próxima edição da feira. Só o Sindicato das Indústrias de Máquinas do Estado (Simers) foi responsável pela ampliação de 4 mil vagas neste ano, mas outras 3 mil novas vagas estão previstas para 2007.
Para ela, é difícil sanar esse problema em sua totalidade, pelo grande e crescente fluxo de visitantes. Em relação à bilheteria, Yeda disse que foi feito um estudo de maximização de resultados que resolveu uma série de problemas e resultou em lucro de R$ 500,00 superior à média dos anos anteriores.
Vendas de máquinas e implementos agrícolas chegam a R$ 120,1 milhões
As vendas de máquinas e implementos agrícolas na Expointer, que se encerrou ontem, superaram as expectativas do setor, chegando à marca dos R$ 120,1 milhões até o meio-dia de ontem, um incremento de 38,1% em relação à edição do ano passado. Representantes do setor previam um aumento na ordem de 30% sobre a comercialização de 2006, cujo montante total em vendas foi de R$ 87 milhões.
Para o presidente do Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers), Cláudio Bier, o incremento verificado em Esteio pode ser atribuído a uma série de fatores. “O preço do gado está muito bom, assim como o preço do leite, sem falar na confirmação de uma safra cheia”, disse. Os números apresentados ao meio-dia de ontem no Parque Assis Brasil, porém, devem crescer ainda mais e alcançar os R$ 123 milhões, segundo Bier.
O dirigente destacou ainda a importância da diversificação produtiva, com o trabalho dos produtores voltando-se para o setor de bioenergia. “Esse é um ambiente novo para os produtores de cereais, que poderá animá-los, inclusive no aumento da área plantada”, frisou.
Bier considerou o resultado deste ano mais significativo do que o alcançado em 2004, um dos mais volumosos em termos de vendas, com a comercialização de R$ 240 milhões. “Aquele foi um ano excelente, mas este foi ainda mais importante, por representar e confirmar a retomada do agronegócio no Rio Grande do Sul”, salientou o dirigente.
Nesta edição da Expointer, 60% dos negócios foram fechados através de contratos de financiamento, contra 40% de contratos pagos à vista. “Verificamos uma tendência de modificação nesses percentuais, pois costumeiramente os pedidos de crédito chegavam a 80%, enquanto que os negócios à vista não ultrapassavam os 20%”, lembrou. Segundo Bier, as máquinas que mais puxaram os negócios foram as plantadeiras e os tratores, especialmente adquiridos por necessidade de reposição da frota nas propriedades após um longo período sem investimentos pela crise do setor primário. “Foram três anos de depressão, durante os quais ninguém comprou. Quem tinha máquinas velhas, não se animava a trocar.”
Bier prospecta que o segundo semestre deste ano deve ser ainda melhor do que o primeiro – com crescimento de 30% sobre o mesmo período do ano passado – em função da confirmação dos resultados positivos da lavoura. “Os primeiros seis meses foram de compras de necessidade, para não perder parte das lavouras em função de máquinas defasadas. De agora em diante, a safra recorde já aconteceu e os preços estão razoáveis, o que deve elevar em até 45% as vendas, em relação ao segundo semestre de 2006.” A média de crescimento do setor, ao ano, chegará a 35% na avaliação do presidente do Simers.
Ministro intima fiscais a encerrar greve nesta semana
Os fiscais federais agropecuários em greve devem voltar ao trabalho nesta semana, caso contrário o governo usará os mecanismos que tem à disposição para evitar prejuízo nas exportações brasileiras. A afirmação foi feita pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, durante a visita à Expointer no sábado.
Entre as possíveis medidas estão a transferência da responsabilidade pela fiscalização das exportações aos estados ou para outras instituições, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e o corte do ponto dos funcionários grevistas. O ministro disse ainda que entende as reivindicações dos fiscais, mas o governo não aceita ser refém. “Não negociamos enquanto permanecer a greve. Essa é uma posição de governo. Voltem a trabalhar que me comprometo a pensar nas questões de carreira”, afirmou.
Stephanes chegou a Esteio ao meio-dia, um dia depois da data prevista e tradicional para a presença de ministros na inauguração oficial da feira. A ausência ocorreu em função da participação em um simpósio sobre plantio direto no Paraná. “Acredito que vir à feira hoje (sábado) foi muito melhor porque tive mais possibilidade de conhecer e ouvir os produtores e representantes”, afirmou depois de percorrer os pavilhões da exposição e se reunir com o secretário da Agricultura, João Carlos Machado, e integrantes de entidades do setor agropecuário.
A ausência, no entanto, frustrou dirigentes das principais entidades promotoras do evento, como a Federação da Agricultura do Estado (Farsul). No entendimento do presidente da entidade, Carlos Sperotto, a não-vinda de Stephanes “não trouxe muito conforto aos produtores, mas ele compareceu um dia depois e parece que ajustou os pontos”, salientou.
Além do encerramento da greve, o ministro ouviu das autoridades outros pleitos relativos ao zoneamento da soja e o refinanciamento de dívidas dos produtores rurais. Segundo Stephanes, o ministério aplica rigor técnico aos estudos de zoneamento, mas tem capacidade para avaliar situações pontuais, como já ocorreu com a liberação para o plantio de soja sem restrição em São Gabriel, Santa Margarida do Sul e Triunfo. “Vamos analisar a situação de outros municípios conforme foi solicitado hoje”, anunciou.
Sobre as dívidas do setor, o ministro reiterou que o decreto regulamentando o pagamento estabelece a prorrogação de até 70% dos valores, desde que sejam pagos, no mínimo, 15% e outros 15% recebem abono. No entanto, houve uma interpretação equivocada do Banco do Brasil de que seriam analisados caso a caso, mas que isso já foi superado.
“Em uma negociação entre um gerente de banco e um agricultor, quem perde é o agricultor”, comparou. Se enquadram nessa situação, os produtores com renda principal proveniente de algodão, arroz, milho, soja, sorgo ou trigo, cujo financiamento foi contratado até 30 de junho de 2006 e em data posterior com os encargos estabelecidos para a safra 2005/2006; tenha taxas de juros superiores a 8,75% ao ano e esteja com o pagamento das parcelas vencidas até o final do ano passado em dia.
Farsul destaca bons resultados nos remates
O balanço da Expointer divulgado ontem pelo Sistema Farsul destacou os bons resultados em vendas, especialmente nos remates. “Chegamos a R$ 9,4 milhões nos leilões, com destaque para as vendas de eqüinos realizados antes da feira, que contribuiu de forma significativa para estes valores”, ressaltou o presidente da Farsul, Carlos Sperotto.
O dirigente destacou o sucesso do remate de novilhas realizado em Esteio, que possibilitou a comercialização de 1.136 exemplares e um faturamento de R$ 1,8 milhão, contra os 973 animais de 2006, que totalizaram R$ 550 mil. “Não se comercializou mais por falta de animais. Não sobrou animais de argola e os bretes estão vazios”, salientou.
Este resultado, de acordo com Sperotto, já sinaliza para a possibilidade de bons negócios durante as feiras de primavera, que se iniciam a partir deste mês. “As perspectivas são favoráveis, no que diz respeito à demanda compradora e aos preços.”
Durante o encontro, o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Frederico Antunes, aproveitou para criticar a reestruturação da Emater, com o anúncio de demissão de 400 trabalhadores da empresa, feito durante a feira. “Acredito que havia outras maneiras e outro momento para que esse assunto fosse discutido, e de uma forma mais democrática”, afirmou o parlamentar.
Sperotto rebateu afirmando que a medida faz parte da nova maneira de governar, preconizada pela governadora Yeda Crusius. “Se tem que cortar, deixa cortar”, protestou. O presidente da Farsul também respondeu de forma contundente uma questão levantada por Frederico Antunes referente à importância da Secretaria de Irrigação para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul. “Essa secretaria não existe nem no site do governo. Ela ainda é virtual”, queixou-se.
Outro ponto polêmico tratado no encontro diz respeito à proibição da entrada de animais de outros estados na Expointer. “A barreira sanitária é preventiva. O caso de aftosa no Paraná foi resolvido em gabinete, não em laboratório. Não podemos liberar para animais nessas condições”, afirmou Sperotto. De acordo com o dirigente, o secretário da Agricultura, João Carlos Machado, acertou ao manter firme sua posição de proibir o ingresso de animais de outros estados, sob pena de prejudicar o trabalho desenvolvido pelos criadores gaúchos.
Rústicos são destaque em vendas
Leandro Brixius
Os leilões de animais rústicos confir-
maram as expectativas e foram
destaque em valorização entre as vendas de animais na Expointer 2007. Angus, Hereford, Braford e Devon comercializaram exemplares que agora terão a tarefa de repovoar os campos gaúchos. A crise dos últimos dois anos fez com que os criadores vendessem fêmeas para se capitalizar e pagar os financiamentos. Isso provocou a falta de carne atualmente no mercado e fez com que o produto aumentasse de preço. Agora, aproveitando o bom momento do agronegócio, é preciso investir nos touros.
“Esse é um ótimo indicativo para as feiras da primavera que começam no final de setembro, pois há compradores e necessidade de produzir carne de qualidade. Com isso, deve faltar touro nesta temporada”, prevê o leiloeiro Eduardo Knorr, da Knorr Remates. Os reprodutores rústicos são os responsáveis por emprenhar as vacas em 80% do rebanho gaúcho, formando o que se chama de gado geral, abastecedor dos frigoríficos.
Entre os remates de rústicos na feira de Esteio, o Angus teve o maior volume de vendas e comercializou 57 animais por R$ 318 mil, com preço médio de R$ 5.578,94, segundo informações da organização da Expointer. A valorização mais alta por animal foi de exemplares Braford, arrematados por R$ 7,5 mil. O leilão da raça faturou R$ 172,5 mil com a venda de 23 touros. Os remates de Hereford e Devon também foram bem valorizados.
O entusiasmo também se refletiu nas vendas de animais de elite. “Essa é, disparada, a melhor Expointer dos últimos anos, mas esse bom momento nada mais é do que uma pequena recuperação dos períodos de dificuldades”, avalia Knorr. Para o leiloeiro, o Rio Grande do Sul só vai conseguir crescer exportando carne de qualidade e não competindo em volume com os estados do Brasil Central. Por isso, os destaques em vendas das raças britânicas.
Nos leilões de animais de elite, os destaques foram justamente os campões nos julgamentos, como a comercialização de 50% do Grande Campeão Braford, São Luiz Jakão, da Cabanha Pedro Surreaux, de Uruguaiana, vendido por R$ 30 mil. No Golden Angus, o maior negócio foi a venda de 50% do reservado de Grande Campeão, o terneiro ASD 530 Brigadier, por R$ 18,75 mil. No total, foram arrematados 23 lotes por R$ 278,6 mil. No Top Devon, o preço máximo foi conquistado na venda de Garupa 7118G4800, Grande Campeão da Cabanha Azul, que foi arrematado por R$ 18,2 mil. Já a Grande Campeã, Corticeiras 899, da Corticeiras Agropecuária, saiu por R$ 14 mil.
Julgamentos das raças bovinas de corte consideram evolução genética
O Rio Grande do Sul é reconhecido pela excelência dos animais de raças européias que cria, condição alcançada por sucessivas décadas de investimento em melhoramento genético realizado pelos criadores. Angus, Hereford, Braford, Devon, Charolês e Limousin, entre outras, encontraram no Sul do Brasil condições de adaptação e produtores interessados em tirar o máximo proveito de suas potencialidades. O resultado disso tudo é o que se viu nas pistas de julgamento da Expointer 2007.
“Neste ano, vi a melhor representação de exemplares Braford na Expointer, tanto em quantidade como em qualidade”, avalia o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Joal Brazzalle Leal, responsável pelos julgamentos da raça. Os jurados de outras raças também destacaram a qualidade da evolução dos animais. “Assim como no julgamento de fêmeas, me surpreendi com o Angus apresentado em Esteio. O grande campeão tem muito boa musculatura, profundidade e um excelente tamanho médio”, afirma o jurado argentino, Nelson Ariel Macagno. Ele também se mostrou satisfeito com a uniformidade da raça. “Fui surpreendido, positivamente, com o que vi no Brasil. É a primeira vez que julgo em Esteio e os criadores têm de manter esse nível genético”, elogia. Na raça Devon, a uniformidade dos animais também foi ressaltada. “Nossa grande conquista este ano foi ter equiparado em qualidade genética todos os participantes”, diz a presidente da Associação de Criadores de Devon, Elizabeth Cirne Lima.
Para o presidente da Associação Brasileira de Hereford e Braford, Fernando Lopa, os animais deste ano apresentaram maior volume de carne. Para o Joal Brazzalle Leal, essa evolução qualitativa nas raças deve se refletir no aumento da produção. “É preciso atingir cada vez mais qualidade e não só preços”, destaca.