Os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e do Peru, Alan García, fizeram nesta segunda-feira alertas sobre o efeito do crescimento da produção de biocombustíveis na alta dos preços mundiais dos alimentos.
Morales, em discurso nas Nações Unidas, em Nova York, disse que a produção de biocombustíveis prejudica os mais pobres e criticou
“alguns presidentes sul-americanos” por apoiar o uso desses combustíveis.
Segundo o correspondente da BBC Daniel Schweimler, a declaração de Morales é uma clara referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A produção de etanol é a menina dos olhos do governo Lula, que tem repetido que o Brasil possui terras suficientes para o plantio de cana-de-açúcar (da qual o etanol brasileiro é feito) sem ocupar espaço de lavouras de alimentos.
Neste domingo, Lula voltou a defender os biocombustíveis, durante a inauguração de um escritório da Embrapa em Acra, capital de Gana.
Lula criticou a tarifa imposta ao etanol brasileiro por países desenvolvidos. “Quando lançamos a proposta de produzir biodiesel no Brasil, eu imaginava que não iríamos ter muitos adversários no mundo desenvolvido”, disse o presidente.
Morales fez seu discurso durante um fórum da ONU sobre o impacto das mudanças climáticas sobre os povos indígenas.
O presidente boliviano também disse que o capitalismo deveria ser erradicado para que o planeta possa ser salvo dos efeitos das mudanças climáticas.
O peruano Alan García atacou os biocombustíveis afirmando que a demanda por esses combustíveis ameaça a produção mundial de alimentos.
O presidente peruano pediu aos países industrializados que reduzam o uso de terras agrícolas para a produção de biocombustíveis.
Garcia disse também que o Peru está entre as vítimas da política de reversão de terras para a produção de etanol.
“Nos fóruns internacionais, faremos um vigoroso chamado aos países maiores e mais ricos para limitar com prudência esta reconversão de terras para o etanol”, disse Garcia.
Segundo o correspondente da BBC em Lima, Dan Collyns, cerca de 40% dos peruanos vivem abaixo da linha de pobreza e foram severamente atingidos pela alta nos preços dos alimentos.
Nesta terça-feira, deverá ser realizado em Londres um encontro marcado pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, para discutir as políticas atuais da União Européia que encorajam a produção de biocombustíveis.
Antes do encontro, Brown disse que a Grã-Bretanha deveria ser “mais seletiva” em seu apoio aos biocombustíveis.