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Europeus impedem mudanças no subsídio regional ao açúcar

Vários países da União Européia, como Itália, Espanha e Polônia, fizeram oposição ao plano da União Européia de cortar os preços do açúcar em 39% até 2010 e reduzir subsídios e a produção local. Uma votação sobre o tema é esperada para novembro, mas já existe um clima contrário em Bruxelas à redução dos preços e subsídios. O Brasil sofreu fortes críticas, até mesmo absurdas, de agricultores europeus, que fazem açúcar a partir da beterraba.

O encontro em Bruxelas, sobre a política do açúcar, começou na segunda-feira e acabou ontem sob protestos de aproximadamente 7 mil agricultores de vários países europeus. Eles são contra a reforma do setor e dizem que os grandes beneficiados com as mudanças serão os produtores brasileiros. Os agricultores europeus acusam o Brasil de tentar deter o monopólio mundial da produção e da industrialização de açúcar.

Segundo os agricultores, o baixo preço do açúcar brasileiro se deve aos reduzidos padrões sociais e ambientais de produção do País. Para a ministra da Agricultura da Alemanha, Renate Künast, a crítica é correta, mas não se pode encontrar uma solução “olhando para o passado”.

A comissária européia da agricultura, Mariannn Fischer Boel, disse que a aprovação da reforma no setor europeu de açúcar é crucial para a sobrevivência dos agricultores que produzem a mercadoria na Europa.

“Os países vieram preparados para uma reação política e expressaram com força seus receios”, disse Margaret Beckett, ministra da agricultura do Reino Unido.

Os protestos envolveram também indústrias como a Danisco A/S a fabricante de implementos agrícolas. Os agricultores acamparam em frente ao prédio onde os ministros discutiam a questão. “Os produtores europeus de açúcar querem ter um futuro”, dizia uma das faixas penduradas em prédios na frente do local de encontro.

Fischer Boel disse aos ministros que ela não tem mais opção. Ela precisará dos votos da maioria dos ministros em novembro para que os cortes sejam fixados. “Nós começaremos várias conversas para saber se podemos encontrar soluções”, disse. Além da Itália, Espanha e Polônia, ela terá de convencer ministros da Irlanda, Finlândia, Grécia e Portugal, que se opõem aos cortes. A Organização Mundial do Comércio (OMC) deu ganho de causa ao Brasil, Austrália e Tailândia, em abril deste ano, condenando os subsídios europeus aos agricultores que produzem açúcar.

“Mexicanos”

Segundo o serviço estatal alemão de notícias, Deutsche Welle, as críticas dos agricultores europeus misturam argumentos plausíveis com outros discutíveis e até mesmo absurdos.

Em entrevista à influente emissora de rádio Deutschlandfunk, um agricultor belga que cultiva 70 hectares de beterraba apresentou suas opiniões contra a reforma do setor açucareiro: “No Brasil, os produtores possuem áreas enormes, com mais de mil hectares. Eles contratam mexicanos por cinco francos ao dia. E podem usar produtos químicos proibidos por aqui. Isso é claramente uma concorrência injusta”. Além do Brasil, os agricultores alemães elegeram um outro inimigo: a ministra Künast, do Partido Verde. Em Bruxelas, vários cartazes traziam a expressão “Fora Künast”. A ministra não se intimidou e subiu num palanque improvisado para defender a reforma do setor.