O setor alcooleiro do Brasil pode ter se animado cedo demais com a aprovação do “triplo 20”, conjunto de medidas ambientais que a União Européia aprovou no último dia 17 que permite prever que o continente importará mais etanol a partir de 2009. Até 2020, os 27 países que compõem o bloco terão de reduzir em 20% as emissões de gases em relação aos dados de 1990. Também terão de garantir que 20% da matriz energética e 10% da energia veicular do continente seja formada por combustível renovável, e ainda reduzir o consumo energético em 20%.
Mesmo com posições que o bloco considera as “mais avançadas já tomadas no mundo” em relação ao aquecimento global, a Europa revela cautela quanto a ir às compras atrás de combustíveis renováveis – setor em que o Brasil é líder tecnológico por seu investimento no etanol de cana-de-açúcar. Por enquanto, o discurso europeu permanece o mesmo: pretende analisar com cautela que tipo de biocombustível quer.
ultima = 0;
“O grande desafio é transformar o etanol em commodity”
Os produtores do etanol brasileiro vêm fazendo propaganda positiva do produto na Europa e nos EUA, inclusive com a abertura de escritórios, para contra-atacar o receio quanto ao uso de trabalho escravo e degradação ambiental. Para o diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, Adriano Pires – um dos maiores especialistas em combustíveis do país – esse trabalho funciona, mas as barreiras cairão apenas quando o etanol se tornar uma commodity sujeita a legislação própria e especificações claras.
Leia a matéria completa
Encontro entre Lula e Sarkozy
A 2ª Cúpula UE/Brasil terá lugar hoje no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, com a presença dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e do atual presidente do Conselho da União Européia, o presidente francês Nicolas Sarkozy, que está no Rio de Janeiro acompanhado da primeira-dama, a ex-modelo Carla Bruni. O principal tema a ser tratado será a resposta à crise econômica mundial, mas, de acordo com o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, serão abordadas ainda questões climáticas, o desenvolvimento energético e a integração do bloco com a América Latina e o Mercosul.
Leia a matéria completa
“Defendemos que deve haver mais biocombustível, mas temos de saber qual biocombustível, que não destrua a alimentação e não tenha impacto nos preços (dos alimentos) como se verificou nos EUA”, disse o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, que está no Rio de Janeiro para participar da 2ª Cúpula União-Européia/ Brasil. Ele se referia ao etanol de milho norte-americano, que no primeiro semestre deste ano foi responsável pela alta na demanda e no preço dos grãos em todo o mundo.
Mas o conselheiro de Ciência e Tecnologia da União Européia no Brasil, Angel Landabaso, garante que, hoje, o continente só pode contar com o Brasil para cumprir suas metas. “Teríamos de multiplicar por seis nosso consumo de etanol, e o único capaz de fornecer isso é Brasil, pela tecnologia e quantidade”. Ele ressalva que, primeiro, o mercado terá de se estabelecer de maneira formal no velho continente. “O etanol ainda é um subproduto na Europa.”
Para pesquisadores do ramo, há uma boa notícia de efeitos mais imediatos. A partir do ano que vem e ao longo de dois ou três anos, União Européia e Brasil investirão 4 milhões de euros, cada um no financiamento de novas pesquisas científicas na área de tecnologia de biocombustíveis de segunda geração (baseados em resíduos orgânicos como o bagaço da cana-de-açúcar). O edital do processo seletivo será publicado em fevereiro pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e a seleção ocorre em maio.
Dentro da questão energética, o segundo tema em que a União Européia mais tem interesse em cooperar com o Brasil é a geração de energia por fusão – processo que envolve a colisão de átomos de hidrogênio a temperaturas ainda mais elevadas que no interior do Sol, mas que ainda está a 20 ou 30 anos da produção comercial. O Brasil pode entrar como parceiro nesta pesquisa porque o país concentra 95% da produção mundial de um minério crucial no processo, o nióbio.
Crise e meio ambiente
Questionado sobre que prioridade o bloco europeu dará à questão ambiental em meio à crise econômica, Durão Barroso disse acreditar que os investimentos no meio ambiente podem andar junto com a recuperação financeira em curso no bloco – que pretende investir boa parte do pacote de recuperação econômica votado na semana passada – de 1,5% do PIB europeu – na economia “verde”.
“Estamos à procura de investimentos para deixar a indústria com menor teor de carbono”, disse Barroso, acrescentando que o avanço tecnológico nesse setor é notável na Alemanha e que o bloco vem criando muito emprego no setor ambiental.