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EUA têm mais dinheiro, mas Brasil tem a matéria-prima

Nem todos acreditam que o Brasil está ficando para trás na corrida pelo etanol de celulose. Para o engenheiro químico Jaime Finguerut, o País não só tem condições de competir nas pesquisas, como poderá dominar a tecnologia até mesmo antes dos americanos.

“Não temos US$ 1 bilhão, mas temos alguns diferenciais muito fortes”, diz. “Essa tecnologia tem de começar aqui. Se não der certo no Brasil, não vai dar certo em lugar nenhum.”

Finguerut é gerente de desenvolvimento estratégico industrial do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), um núcleo privado de pesquisa da indústria sucroalcooleira.

A grande vantagem do Brasil, segundo especialistas, é ter uma fonte de biomassa farta, altamente energética, de fácil digestão e imediatamente disponível: o bagaço da cana.

Enquanto os Estados Unidos precisariam criar uma cadeia de produção inteiramente nova para a biomassa de milho ou gramíneas, por exemplo, o bagaço brasileiro já está integrado à cadeia produtiva da cana – moído, lavado e pronto para uso.

Quase todo o bagaço hoje é queimado nas próprias usinas para produzir eletricidade. Com a transformação de celulose, tudo isso poderia virar álcool também.

Nenhum outro país possui um estoque tão farto de biomassa. “Existe uma verdade preponderante: o bagaço é nosso”, diz a pesquisadora Elba Bon, coordenadora científica do Projeto Bioetanol, do qual o CTC faz parte. “Eles (os americanos) têm todas as vantagens tecnológicas, mas nós temos a matéria-prima.”

A tecnologia para transformar celulose em etanol, na verdade, já existe. Está sendo usada em várias plantas piloto ao redor do mundo, inclusive uma no Centro de Pesquisas da Petrobrás, no Rio, inaugurada em outubro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas não há nada em escala comercial.

Em resumo, o processo é possível, mas é caro demais. Um dos gargalos é o custo das enzimas necessárias para quebrar a celulose em pedaços menores, passíveis de fermentação. Cientistas no mundo todo estão à caça de microrganismos capazes de sintetizar enzimas mais eficientes e com menor custo de produção.

O Projeto Bioetanol patenteou no ano passado um processo de transformação enzimática de celulose, que precisa ser testado em escala industrial.

Álcool vs. Eletricidade

Para o especialista Luiz Augusto Horta Nogueira, professor da Universidade Federal de Itajubá e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, o etanol celulósico não é prioridade para o Brasil.

Segundo ele, é mais vantajoso ao País usar o bagaço para produzir eletricidade do que álcool. “Falar em etanol de bagaço hoje é precipitado”, disse. “É não fazer as contas.”

Mesmo no cenário mais otimista, calcula ele, o custo do etanol de celulose será equivalente ao do etanol convencional da cana: 23 centavos de dólar.