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EUA sugerem a México produzir biocombustíveis

O México “estuda com atenção” o modelo energético do Brasil, país que passou de importador de petróleo a exportador de biocombustíveis em três décadas. Quem informou foi uma fonte da chancelaria mexicana, não identificada por motivos diplomáticos.

O assunto esteve na agenda dos presidentes Felipe Calderón e George W. Bush nos encontros desta semana, e a Folha apurou que o modelo brasileiro foi mencionado pela equipe do americano como uma alternativa para aliviar o setor. O problema seria determinar a fonte do biocombustível.

O milho é a base da indústria alimentícia mexicana, e a produção do álcool a partir dele é menos eficiente do que com cana-de-açúcar, como no Brasil. Uma opção apontada pelos norte-americanos a seus colegas mexicanos seria o investimento em novas fontes de álcool, principalmente a celulose. Isso aliviaria o mercado interno e liberaria mais petróleo, principal produto de exportação do México.

“Diferentes países terão ritmos diferentes para entrar nesse assunto”, disse o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow. “Mas vocês [o Brasil] chegaram lá antes e dão um bom exemplo de como fazer o negócio, de como fazer a transição de um modelo baseado no petróleo para um com maior uso de biocombustíveis.”

O principal parceiro latino-americano dos EUA passa por dilema energético semelhante ao do seu vizinho ao norte, embora por motivos diferentes. Quinto principal produtor de petróleo do mundo e terceiro maior exportador do produto para os EUA, o México vê sua produção declinar.

O símbolo da crise é o campo de Cantarell, o segundo maior do mundo, que responde por cerca de 60% do petróleo extraído pelo México e que teve uma produção média de 1,78 milhão de barris por dia em 2006, queda de 13% em relação a 2005. “A continuar nesse ritmo, o México pode passar de exportador a importador em dez anos”, disse o diplomata.

Estatal

Cantarell é a principal fonte de renda da Pemex, a estatal mexicana de petróleo, um setor que o país estatizou nos anos 30. Já a Pemex é a principal contribuinte do Orçamento mexicano, com cerca de 70% destinados ao governo.

Bush e Calderón tocaram no assunto em seu encontro, há dois dias. O mexicano afirmou que não discutiu a questão da abertura da exploração do petróleo a empresas estrangeiras com seu colega norte-americano por ser uma “questão mexicana”. Mas tratou de colocar panos quentes, mesmo assim.

“Nós não privatizaremos uma companhia que pertence aos mexicanos, como é o caso da Pemex”, disse Calderón. Depois, tocaria no caso da reserva de Cantarell. “Temos problemas com o declínio especialmente de Cantarell, que tem sido muito importante na produção do petróleo ao longo dos anos”, concedeu. “Mas temos de deixar bem claro o fato de que nós dividiremos a responsabilidade [da questão] entre o Congresso e o presidente.”