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Eu não tinha mais desafios no governo, diz economista

Ao se despedir da coordenação da Secretaria de Relações Internacionais vinculada ao Ministério da Agricultura, Elisabete Serodio garante que saiu com o dever cumprido, uma vez que foi bem-sucedida no papel que lhe foi atribuído: o de estruturar e dar corpo à secretaria. “Eu não tinha mais desafios no governo”, diz.

Conhecida pelo seu temperamento forte, Elisabete encontrou resistência de funcionários mais antigos do ministério ao assumir uma secretaria criada para estreitar o relacionamento entre o Ministério da Agricultura e o Itamaraty, comentou um funcionário do alto escalão do governo. Diplomática, ela diz que sua saída reflete seu desejo de ficar mais perto da família. Foi na sede da Unica que Elisabete recebeu o Valor para esta entrevista:

Valor: O desfecho bem-sucedido do painel do açúcar na Organização Mundial do Comércio (OMC) foi seu passaporte para o governo?

Elisabete Serodio: Acho que não. Não tenho idéia de como o ministro [da Agricultura, Roberto Rodrigues] chegou ao meu nome, mas tenho evidências de que fui indicada por pessoas ligadas ao ministério as quais eu tinha ligação por conta dos assuntos envolvendo comércio internacional. (…) Foi surpreendente. Não tive nenhum sinal de que seria convidada para esse cargo. Foi um grande desafio.

Valor: Sua permanência na secretaria não foi muito longa.

Elisabete: Já tinha feito o que deveria ser feito. Quando a secretaria começou a funcionar [em março de 2005. Elisabete foi nomeada oficialmente em fevereiro], não havia orçamento. Vivemos o ano todo pedindo dinheiro emprestado, até para pagar passagens (…). Não havia estrutura. Não tínhamos nada, nem mesa, cadeira, fax, sala, lápis. Hoje você chega lá e vê uma secretaria que tem endereço, credibilidade, diversas reuniões internacionais agendadas, e como se já tivesse funcionando há muito tempo.

Valor: Sua saída está relacionada a alguma resistência dentro do ministério?

Elisabete: Não. Não tinha mais vontade de morar em Brasília. Acaba dividindo minha família. (…) Tive a possibilidade de voltar para perto de casa e focar no que já conheço [açúcar e álcool, com o convite de retorno à Unica].

Valor: A senhora pegou um projeto difícil. Estruturar uma secretaria que não existia no papel.

Elisabete: O ministro me disse que estava realizando um sonho. Ele me apresentou um projeto da secretaria dividido em três departamentos: assuntos comerciais – que acompanha as negociações internacionais -, assuntos sanitários e fitossanitários – que tinha a função de ser especialista em normas -, e promoção internacional do agronegócio – que tem a proposta de trabalhar junto com o setor privado em “road shows” e mostras, sem se apegar à idéia antiga de feiras promocionais. Tudo isso foi realizado. Essa secretaria hoje tem contato direto com o Itamaraty.

Valor: Com o seu retorno ao setor privado, qual seu grande desafio depois de acompanhar de perto a vitória do Brasil na OMC?

Elisabete: Temos vários assuntos em pauta. Acompanho tudo o que está acontecendo em negociações internacionais, envolvendo Mercosul, Comunidade Andina, Alca (Área de Livre Comércio das Americas). Tem muito o que ser feito no que diz respeito a acesso a novos mercados, o que envolve as negociações regionais, bilaterais e multilaterais, como foi o caso do processo aberto na OMC.

Valor: Há um grande novo processo que pode ser levado à OMC, caso do álcool, que tem seu acesso restrito em mercados como União Européia e Estados Unidos?

Elisabete: Essas discussões de acesso a mercados envolvendo o álcool ainda estão no âmbito da Rodada de Doha. Meu papel é escarafunchar onde o produto está sofrendo restrições, mas não temos nenhuma grande evidência. Certamente este não é o único tema em questão (…). Temos que estudar a possibilidade de colocar nosso excedente exportável em novos mercados, avançar também a distribuição de açúcar e álcool no mercado interno, além da acompanhar a implementação da União Européia em seu regime de açúcar. (MS)