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Etanol 'rouba' mercado da gasolina no 1º quadrimestre

Etanol 'rouba' mercado da gasolina no 1º quadrimestre

Com menos dinheiro no bolso, o motorista brasileiro está enchendo o tanque com mais etanol hidratado. O efeito psicológico do reajuste da gasolina C, que chegou neste ano a até 13% nos postos de algumas regiões do país, fez com que a fatia de mercado do biocombustível aumentasse seis pontos percentuais desde dezembro, para 30,3% em abril. Com a demanda por gasolina em queda, o market share do hidratado tende a subir nos próximos meses e poderá, ao longo do ano, se aproximar dos picos de 2009, acima de 40%.

Entre janeiro e abril, o consumo de hidratado no país foi de 5,465 bilhões de litros, 32% mais que no primeiro quadrimestre de 2014, conforme dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). No mesmo intervalo, a demanda por gasolina “C” decresceu 4%, diante da percepção negativa vinda do reajuste, potencializado pela retomada da cobrança da Cide. Abastecer com etanol hidratado em vez de gasolina foi vantajoso na maior parte do quadrimestre em cinco Estados – São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Isso acontece, conforme parâmetro mais aceito pelo mercado, quando o preço do biocombustível é inferior a 70% do preço da gasolina nos postos.

Conforme o diretor da trading Bioagência, Tarcilo Rodrigues, a explicação mais generalista para a guinada do etanol neste ano é que, com o aumento dos preços da gasolina, o motorista passou a encher o tanque de etanol com menos dinheiro do que se fosse completar com o concorrente fóssil. “Mas o mercado de varejo é mais complexo do que isso. Estamos falando de percepções econômicas, níveis de escolaridade e comportamento diversos”, observa.

Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, por exemplo, não é vantajoso ao motorista usar etanol – e, portanto, o market share do biocombustível vem permanecendo imóvel em 4% há alguns anos. Por outro lado, em Estados do Nordeste, onde o biocombustível também não é competitivo, mas a paridade não fica tão distante dos 70%, sua participação aumentou neste ano.

Na Bahia, por exemplo, onde a relação com o preço da gasolina foi de 72% em abril, o market share do etanol foi a 18% até abril, ante uma fatia de 11% que persistiu nos últimos dois últimos anos. Na Paraíba, onde a paridade foi de 73% até abril, a participação do etanol saltou para 17%, após ficar no patamar de 9,2% durante o ano passado.

No entanto, a lua de mel do motorista com o combustível verde pode não perdurar até o fim deste ano. Os modelos econômicos, diz o especialista, indicam que haverá produção de hidratado suficiente para um consumo mensal de 1,3 bilhão de litros em 12 meses – contados a partir de abril. A demanda, no entanto, já encosta no patamar de 1,5 bilhão. “A ‘correção’ entre oferta e demanda terá que vir com aumento de preço, o que pode voltar a criar resistência por parte do consumidor”, diz Rodrigues.

O ponto de equilíbrio dessa equação pode mudar, a depender de quanto do caldo da cana que iria para a produção de açúcar neste ciclo 2015/16 será direcionado para a fabricação de mais etanol, explica o diretor da trading. “Demanda temos. Quanto mais produção tivermos, menor o impacto nos preços”.

Também vai pesar nessa conta a política de reajuste dos preços da gasolina no país. Desde março deste ano, voltou a defasagem entre o valor de importação da gasolina pela Petrobras e o preço de venda do produto no mercado interno. Nas contas de Rodrigues, essa diferença, que passou novamente a trazer prejuízo à estatal, abre espaço para um reajuste de R$ 0,50 por litro nos postos, o equivalente a uma alta de 16% frente ao preço médio do litro da gasolina no Estado de São Paulo – de R$ 3,411, na última semana de maio, conforme a ANP.

(Fonte: Valor Econômico)