Estoques reduzidos, resultado da entressafra, e aumento das exportações de açúcar fizeram o preço do etanol atingir uma situação inédita no Estado. Pela primeira vez, o valor do álcool hidratado nas bombas supera o da gasolina comum em estabelecimentos no Rio Grande do Sul.
– O valor do etanol nunca esteve tão alto, com preço equivalente e, inclusive, superior ao da gasolina – afirma o vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), Alisio Vaz.
Conforme o dirigente, nas extremidades do país, como o Rio Grande do Sul, os reflexos são mais evidentes – em razão da distância das usinas de São Paulo, que produzem 70% do total de etanol no país. Pelo levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP), na semana encerrada em 19 de março, o Rio Grande do Sul era o Estado mais vantajoso para abastecer o carro com gasolina: o etanol correspondia, em média, a 90,7% do valor do combustível fóssil.
Em um levantamento feito por Zero Hora em 20 postos na Zona Norte ontem à tarde, quatro vendiam o combustível renovável a um preço igual ou superior à gasolina (confira tabela ao lado). Mesmo nos estabelecimentos em que o álcool hidratado estava abaixo da gasolina, a diferença não atingia o percentual mínimo, de 70%, para compensar o uso do combustível.
Um representante do setor no Estado confirma o momento histórico em que o custo do etanol para as distribuidoras superou o da gasolina. Em janeiro deste ano, o litro do etanol era distribuído aos postos por R$ 2,22. Neste mês, chegou a R$ 2,42 – ante R$ 2,34 da gasolina.
– Tivemos um aumento de 20% em poucos meses. Isso nunca tinha acontecido antes – afirma a fonte.
Produtores sentiram menos pressão este ano
Entre outros fatores, a alta do preço é justificada pelo período de entressafra da cana-de-açúcar e pela capitalização das usinas que, diante das oportunidades em exportar açúcar, diminuíram a produção de etanol.
– Os produtores se sentiram menos pressionados pelo preço neste ano, justamente pela venda de açúcar ao Exterior – explica Miriam Bacchi, professora e pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP.
O crescimento das vendas de carros flex também é apontado como uma das causas para a demanda sustentada por etanol. Para o coordenador de produto da Ticket Car, Eduardo Lopes, a produção de etanol precisa ser ampliada, sob pena da falta do combustível causar um colapso no futuro.
– A migração para os modelos flex foi incentivada, agora algo precisa ser feito – assinala.