A indústria de etanol do Brasil enfrenta tanto pressões de aumento do custo da terra e da mão de obra, como tornou-se uma vítima não intencional do controle de preços da gasolina para frear a inflação, avalia a Agência Internacional de Energia (AIE).
Esse controle sobre o preço afeta severamente a indústria de etanol em termos econômicos, estima a agência em relatório sobre as perspectivas de médio prazo no setor do petróleo.
A AIE destaca que, como a revolução que toma conta na produção de petróleo, também a indústria de bicombustível passa por um processo de transformação que deverá continuar na segunda metade da década.
A agência aponta dificuldades de diferente natureza que o setor de bicombustível enfrenta nos três grandes mercados – Estados Unidos, Brasil e União Europeia. Nota que as políticas de apoio nos dois maiores produtores, o Brasil e os EUA, eram baseadas na percepção de valor da substituição do petróleo para reduzir a dependência em relação ao combustível importado. Só que o Brasil e os EUA desde então descobriram e desenvolveram amplas reservas de petróleo não convencional e o bicombustível pode ter sido em parte uma “vítima” desse sucesso.
Tanto no Brasil como nos EUA e na UE, as políticas de apoio parecem ter diminuído para a indústria de bicombustível, resultando em menor perspectiva de produção esperada para o resto da década.
No Brasil, a AIE nota que o aumento da capacidade de produção de etanol estagnou, várias plantas de etanol foram fechadas e “mais capacidade pode estar em risco”.
Quanto aos EUA, uma surpreendente contração na demanda de gasolina, desde que os mandatos de uso de bicombustível foram introduzidos, expôs falhas na política de etanol e causou incertezas sobre a direção política futura no setor.
No caso da UE, após queixas de práticas desleais impostas contra o bicombustível estrangeiro, as inquietaçõ es agora são sobre a sustentabilidade ambiental do bicombustível convencional.
Assim, em Brasil, EUA e UE o anunciado progresso em etanol de segunda geração que os tornaria comercialmente viável “está se provando ser ilusório”.
A AIE aponta, porém, crescente apoio para o bicombustível em outras economias emergentes e em desenvolvimento, sobretudo nos países importadores de petróleo que subsidiam pesadamente o consumo de combustível. O objetivo é reduzir a importação de petróleo e baixar a fatura dessas compras.
Segundo a agência, vários países da Ásia e da África adotaram recentemente novos planos de mistura de etanol com gasolina ou elevaram suas metas existentes para o uso de etanol ou biodiesel.
Nesse cenário, a AIE projeta aumento da produção global de combustíveis em 2,3 milhões de barris ao dia em 2019, significando 18% a mais do que os níveis de 2013, mas ainda 50 mil barris ao dia abaixo da projeção feita no ano passado para 2018.
Fonte: Valor Econômico