A indústria de etanol atualmente em expansão nos Estados Unidos deverá modificar o aspecto da geografia de todo o chamado cinturão cerealista, possivelmente levando os produtores agrícolas a plantar seu milho no próximo ano em uma superfície muito maior do que em qualquer outra época desde a Segunda Guerra Mundial.
“Sugeri que talvez devamos aumentar a superfície da lavoura de milho para algo entre 35,6 e 36,02 milhões de hectares”, diz o especialista em economia agrícola, Chris Hurt, da Purdue University.
“Isto equivale a um aumento de 4,05 milhões de hectares em relação a 2006, e representaria a maior superfície já plantada com milho nos Estados Unidos, desde 1946”, diz. Segundo ele, a nova área representa o estado americano de Montana.
O plantio de milho nos EUA chegou ao pico de 45,7 milhões de hectares em 1932, mas a criação de híbridos de maior rendimento e de fertilizantes comerciais, no pós-guerra, tornou possível plantar mais milho em uma superfície menor.
A expansão da indústria de biocombustíveis, porém, agora está prestes a fazer com que a chamada América rural volte a ter a fisionomia que tinha há várias gerações, com a imensa seqüência de campos de altos pés de milho, longas espigas de trigo ou de arbustos de soja.
“A esta altura, vamos precisar de um maciço aumento do plantio de milho para 2007”, disse Hurt. “Este aumento está sendo impulsionado principalmente pelo etanol, mas também temos uma demanda muito intensa para exportação”, diz.
No primeiro semestre do ano os produtores plantaram milho em cerca de 31,8 milhões de hectares de terra, colhendo neste final de ano pouco mais de 10,9 bilhões de bushels.
Cerca de 2,1 bilhões de bushels da safra de milho de 2006 deverão ser consumidos pelas 110 fábricas de etanol em todo o país. Entretanto, até o final de 2007, talvez seja necessário o dobro disso para alimentar 71 novas fábricas ou ampliações, segundo a Associação de Combustíveis Renováveis dos EUA.
“Nossa utilização do milho no próximo ano poderá chegar a 12,5 bilhões de bushels. Podemos utilizar parte dos estoques, mas não mais de 300 milhões de bushels. Portanto, no próximo ano teremos de produzir cerca de 12,2 bilhões de bushels de milho”, diz.
Isto exigirá um esforço sem precedentes, pois a maior safra de milho produzida nos EUA totalizou apenas 11,8 bilhões de bushels em 2004.
Para o analista John Roach, “descobrimos um novo uso para o milho, mais valioso e que segue até que o alto preço do grão acabe com ele”, diz. O debate em torno de quanto será preciso crescer para abastecer a indústria de etanol desenvolve-se há anos, cristalizando-se recentemente depois que a Informa Economics previu plantio de milho em 2007 de 34,9 milhões de hectares, ou 2,95 milhões acima de 2006, maior aumento em 60 anos.
Altas fazem grão dispensar subsídio oficial americano
Este é um excelente momento para os produtores de milho da cidade de Friesland nos EUA. A demanda de etanol aumentou tanto o preço do milho que ele não precisa mais dos subsídios do governo. Agora recebe os dividendos da United Wisconsin Grain Producers, uma fábrica de etanol de Friesland na qual ele e outros 900 produtores investiram.
“Se eu soubesse que teria este desempenho, teria investido muito mais”, disse John Casey ao Milwaukee Journal Sentinel.
A fábrica foi inaugurada em 2000 e produz 40 milhões de galões (3,8 litros cada) de etanol ao ano. Agora, seus operadores resolveram dobrar a capacidade. O número de fábricas de etanol em todo o país aumentou 33% nos dois últimos anos. Atualmente, há 109 em operação e 57 em construção.
A demanda é multiplicada pela legislação federal, que pede que os EUA praticamente dobrem seu uso de biocombustíveis para 7,5 bilhões de galões até 2012. O governador Jim Doyle prometeu quase US$ 80 milhões em empréstimos, subsídios e incentivos fiscais para ajudar a montar companhias de biocombustível do estado americano de Wisconsin.
Vários produtores precipitaram-se paras aproveitar das oportunidades, na esperança de que o etanol garanta seus lucros futuros. “É o tipo de coisa que acontece na agricultura uma vez em uma ou duas décadas”, afirmou Keith Collins, principal economista do Departamento da Agricultura dos EUA.