Não deve haver nenhuma surpresa no fato que neste encontro do presidente Lula com o seu colega norte-americano não se tenha conseguido arrancar um compromisso para a redução da tarifa de importação do nosso etanol.
Obama, da mesma forma que Bush e os presidentes anteriores, está empenhado em devolver aos Estados Unidos a autonomia energética. Eles não podem se dar ao luxo de dispensar as três autonomias: a alimentar, a energética e a militar. Têm a alimentar tranqüilamente, e a militar indiscutivelmente, mas não têm mais a autonomia energética. É por isso que continuam a fabricar etanol do milho, apesar de ser muito menos eficiente e de custos mais elevados de extração que de outras fontes, como a cana principalmente. Mas o problema não é o preço. Como o que eles perseguem é a autonomia, não vão trocar a dependência da importação de petróleo pela da importação do álcool. O objetivo é produzir internamente toda a energ! ia de que precisam e ponto final.
Há um dado que nós não podemos perder de vista. Os Estados Unidos estão investindo somas altíssimas, muito mais do que nós gastamos, nas pesquisas para produção do etanol por novas tecnologias, com a utilização do conhecimento de desenvolvimento biológico ou de processos enzimáticos. Estão procurando tudo quanto é forma de produzir etanol das fontes mais variadas, da madeira às algas marinhas, sempre por novos caminhos de pesquisa.
O Brasil tem hoje investimentos em muitos desses processos, mas não devemos nos enganar: vamos precisar trabalhar duro, porque, apesar de nossa liderança na produção do etanol, não é seguro que possamos mantê-la por esses próximos quinze anos, dado o volume de recursos que os demais países estão destinando para a pesquisa. Não há dúvida de que vão ser desenvolvidos métodos mais eficientes de produção de etanol, de modo que precisamos estar preparados para uma competição muito mais feroz.
Nós temos v! antagens graças ao avanço que fizemos no desenvolvimento dos equipamentos flex fuel e da estrutura de sua utilização no sistema viário. Não tenho dúvidas de que o etanol vai ser o principal combustível dos nossos meios de transporte e por esse motivo não acredito que nós vamos nos transformar em grandes exportadores.
De qualquer forma creio que a discussão do tema pelos dois presidentes foi um fato muito positivo. Muitos países estão agindo com os Estados Unidos, investindo um volume substancial de recursos em pesquisas para desenvolver outros métodos e fontes de produção do etanol. A vantagem brasileira é que nós desenvolvemos muito antes dos demais uma tecnologia para utilizar etanol no transporte. Hoje, os nossos veículos flex fuel já consomem todo o etanol que produzimos. Ele hoje já é mais importante que a gasolina em termos de transporte viário. Então eu não creio que tenhamos de nos preocupar em demasia com essa questão do protecionismo em relação às nossas exportações ! do etanol, porque elas não serão muito importantes nem a curto nem a médio prazo. Não vejo, mesmo, o etanol se transformar num produto de exportação importante para o Brasil.
Nível de exportação do etanol não justifica preocupação com protecionismo dos EUA.
Antônio Delfim Netto