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Etanol deve opor Lula e Chávez em cúpula de energia

A reunião de cúpula energética da Comunidada Sul-Americana de Nações (Casa), programada para abril, em Caracas, acontece com os dois principais impulsionadores do projeto de integração energética, Brasil e Venezuela, divididos em relação ao estímulo à produção do etanol na região.

O presidente venezuelano Hugo Chávez criticou esta semana em viagem à Jamaica o programa brasileiro de etanol e disse que conversaria sobre isso com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Chávez disse que há “um problema ético e ecológico” com o etanol. Ele disse que os países podem importar petróleo da Venezuela e não precisam utilizar suas terras para plantar cana-de-açúcar – segundo ele, “o alimento dos carros dos ricos”.

O presidente venezuelano disse que pediria ao Brasil e à Colômbia (que fez um acordo com os Estados Unidos para aumentar a produção do combustível) “que utilizem suas terras para produzir alimentos para os 300 milhões de famintos da América Latina e Caribe”.

No Palácio do Planalto, o discurso de Chávez é visto como um discurso político, para se contrapor ao do presidente americano George W. Bush, de apoio à podução de etanol na região, sem maiores conseqüências para a relação entre os dois países.

Cooperação Regional

Na reunião de abril, o governo brasileiro vai manter a proposta que vem oferecendo aos outros países da região especialmente nos últimos dois anos, de cooperação técnica para que eles também produzam etanol.

“Temos clareza de que um programa de biocombustíveis é uma excelente oportunidade, seja do ponto de vista econômico, ecológico ou social. E também contribui para a segurança energética dos países que dependem de fonte externa”, afirma o diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, Ricardo Dorneles.

Ele diz que vários países já aceitaram o apoio do Brasil para desenvolver seus projetos, como Bolívia, Paraguai, Uruguai e Equador, mas que a decisão sobre a matriz energética é de cada país.

“Assim como o consumidor brasileiro decide, cada país tem que tomar sua decisão se é bom ou não. O país é soberano. Não cabe a outro decidir”, afirmou.

O protocolo de intenções assinado por Brasil e Estados Unidos durante a visita de Bush prevê a pesquisa conjunta e a produção em terceiros países, começando pela América Central e Caribe.

A Petrobras já exporta álcool para a Venezuela – no ano passado, foram 120 milhões de litros – para a mistura na gasolina, e tem projetos de investir na produção no país em conjunto com a PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo.

Já existe também investimento privado brasileiro na Jamaica, para a transformação de álcool hidratado em álcool de exportação para os Estados Unidos dentro da cota isenta de impostos concedida à América Central.

Na visita que fez a vários países da América Latina desde o fim da semana, para coincidir com a visita de Bush pela região, Chávez assinou acordos na área de petróleo e gás com Argentina, Bolívia, Nicarágua e Jamaica.

Marketing

O historiador José Flávio Sombra Saraiva, professor da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (Ibri), acha que as declarações de Chávez não passam de “marketing político” e um esforço para valorizar o petróleo, o principal produto de exportação do país.

“Mas ele sabe seus limites”, acredita Saraiva. Ele acha que na cúpula de Caracas Chávez vai “fazer discursos fortes para a mídia, mas nos bastidores vai fazer um acordo com os outros países”.

A engenheira Suzana Kahn Ribeiro, professora do Programa de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acha que o processo de integração energética da América do Sul e do aumento do uso do etanol ainda está no início, mas já começou e não tem volta.

“A integração energética está indo bem, o Brasil até contornou de maneira positiva a questão do gás. Não se deve dar tanta importância a líderes populistas, que eles vivem disso”, afirmou.