Considero o etanol produzido de milho insustentável tanto econômica quanto energeticamente. Porém, tudo pode mudar, dependendo de uma enzima presente no estômago da vaca e que pode ser a chave para a otimização da produção de bioetanol a partir do milho. Os cientistas entendem que conseguir biocombustível mais barato passa pelo aproveitamento de todas as partes da planta e não apenas do grão do cereal. Para tanto, criaram em laboratório uma variedade de milho que possui uma enzima presente no estômago da vaca. Isto foi possível pela inserção na planta de um gene da bactéria que produz a enzima e participa na digestão de fibras vegetais. Segundo a investigação, esta alteração genética do milho faz com que os polissacarídios armazenados nas folhas e na espiga possam ser convertidos em açúcar reutilizável, sem o recurso aos habituais e caros processos químicos.
Aproveitamento total
Não apenas o amido ou a sacarose passam a ser transformados em etanol, mas a porção de fibra, composta por hemicelulose e celulose. As vacas, com a ajuda de determinadas bactérias, conseguem converter estas fibras em energia. A produção da enzima pela planta de milho permite que o mesmo processo possa ser completado nos fermentadores, com a planta de milho completa, incluindo os colmos. Na indústria tradicional apenas os grãos são utilizados para produzir etanol. Produzir mais combustível, com menos custos, significa romper com o passado e criar um ambiente favorável para a produção sustentável de etanol, como já é possível com a cana-de-açúcar.
Evolução
Para transformar celulose em açúcar eram necessárias três enzimas. A variedade de milho transgênica, alterada especificamente para a produção de biocombustível, chama-se Spartan Corn III, e difere das tentativas anteriores por conter as três enzimas necessárias. Na primeira tentativa, em 2007, a enzima de um micróbio que vive em nascentes termais desfazia a celulose em vários pedaços, para posterior fermentação. A segunda tentativa, com o uso de um gene presente em fungos, convertia os pedaços de celulose produzidos pela enzima anterior em pares de moléculas de açúcar. Mas o Spartan Corn III produz uma enzima que separa os pares de moléculas do açúcar em açúcares simples. Estes açúcares estão prontos para fermentar e produzir etanol, o que significa que quando a celulose é reduzida a esta unidade pode ser utilizada para produzir etanol. Falta, agora, comprovar que esta tecnologia torna o etanol de milho tão rentável e sustentável quanto o de cana-de-açúcar.