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Etanol de milho é a principal aposta dos Estados Unidos

Maior consumidor mundial de petróleo como combustível automotivo, os EUA decidiram substituí-lo por fontes alternativas, principalmente o etanol de milho. Convencidos de que o petróleo representa ameaça ao futuro da economia pela instabilidade de preços, dependência das fontes de suprimento – 66% das reservas provadas mundiais encontram-se no conturbado Oriente Médio – e elevada participação na matriz energética, pois 90% desta depende de petróleo, gás natural e carvão -, os americanos correm para implementar a lei assinada pelo presidente George W. Bush, em 2005.

A Lei de Política Energética de 2005 estabelece como meta de consumo 28,4 bilhões de litros de biocombustíveis para 2012, com incentivo federal de US$ 0,14 por litro e alguns incentivos estaduais. Dos biocombustíveis, o etanol é a principal aposta em função dos lobbies dos produtores de milho, a commodity mais beneficiada por subsídios. Só em 2005, o milho recebeu US$ 8,7 bilhões em subvenções. Estas neutralizam os riscos de preço e mercado para os produtores. É por isso que, comparando os preços recebidos pelos produtores com a área cultivada de milho, esta se mantém ainda que os preços sejam baixos e até mesmo menores do que os custos de produção.

O etanol também tem crescido na agenda americana por pressões ambientais e pelas medidas previstas na Lei de Política Energética de 2005. Em 1992, a Lei Federal do Ar Limpo instituiu uma mistura de 10% de produtos oxigenados na gasolina dos grandes centros urbanos, como o MTBE (éter metil terbutílico), substância química usada na gasolina como aditivo oxigenado, e o etanol. O uso do MTBE foi abolido recentemente, o que motivou o crescimento acentuado do consumo de etanol.

A mistura E10, 10% de etanol e 90% de gasolina, vem elevando a procura pelo combustível extraído do milho. A maioria dos carros hoje comercializados podem rodar com esse mix. O governo americano concede incentivos às montadoras para estimular a venda de carros Flex, preparados para receber 85% de etanol e 15% de gasolina (E85), mistura disponível principalmente no Meio Oeste. Apenas os veículos Flex podem usá-la. Além desta ser uma frota ainda pequena, estimada em pouco mais de cinco milhões de veículos, a maioria dos proprietários de carros Flex continua a abastecê-los com gasolina. As principais montadoras estão fabricando modelos compatíveis com a mistura E85.

Entretanto, será difícil a adesão dos consumidores ao E85 em função da escassez de redes especializadas. Segundo pesquisa do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), há apenas 700 bombas de etanol operando nos mais de 170 mil postos americanos, o que torna difícil uma ampla aceitação do produto pelo consumidor a curto prazo. A maioria das bombas se concentra no Meio Oeste pouco populoso, enquanto os maiores centros consumidores estão nas costas do Atlântico e do Pacífico.

Além de estipular o uso de 15,1 bilhões de litros em 2006 e 28,4 bilhões de litros de etanol a partir de 2012, o pacote de política energética de 2005 estabelece incentivos para pesquisa e desenvolvimento do etanol celulósico, que pode ser feito com resíduos descartados, como as folhas que cobrem as espigas e a palha do arroz. Para esse programa, serão destinados US$ 160 milhões neste ano. No total, o Departamento de Energia dos EUA fornecerá US$ 2 bilhões para financiar novas tecnologias, como a conversão de biomassa em etanol.

Em 2005, a produção americana de etanol atingiu 16,2 bilhões de litros, para um consumo de 14 bilhões de litros, ou menos de 3% do mercado de gasolina, cujo consumo foi de aproximadamente 530 bilhões de litros. No mesmo período, as importações foram de 820 milhões de litros e as exportações ficaram em 340 milhões. Neste ano, de janeiro a setembro, as compras externas americanas de etanol totalizaram cerca de 2 bilhões de litros, sendo o Brasil o principal fornecedor, com 1,3 milhão, seguido de Jamaica, China, Costa Rica, El Salvador, Trinidad e Tobago, Canadá, África do Sul e Argentina.

Os estados consumidores das costas Leste e Oeste são favoráveis à importação de etanol, mas os estados produtores centrais (Corn Belt do Meio Oeste), onde se concentra o lobby do milho, resistem. A tarifa de importação de etanol é de US$ 0,54 por galão (US$ 0,14 por litro). Atualmente, apenas 25 países do Caribe e da América Central têm o direito de exportar até 7% da demanda americana com isenção total de tarifas no âmbito da Lei de Parceria Comercial da Bacia do Caribe (CBTPA na sigla em inglês). Segundo o Icone, a eventual redução das respectivas tarifas e de outras formas de proteção de fronteira é um assunto que deveria fazer parte da agenda Brasil-EUA.

Este ano pode ser considerado um marco na história do etanol nos EUA. Pela primeira vez, o país e o Canadá constróem e expandem capacidade para mais de quatro bilhões de galões (15,2 bilhões de litros) de etanol, segundo a Ethanol Producer Magazine. A Renewable Fuels Association (RFA) anunciou em novembro que a indústria de etanol está preparada para aumentar a produção em mais de 20% neste ano em relação a 2005. Com 97 usinas de etanol operando nos EUA e outras 33 em construção, a indústria está pronta para ultrapassar 7,5 bilhões de galões (28,4 bilhões de litros) de combustíveis renováveis, atendendo a meta até 2012 estabelecida pela Lei de Política Energética de 2005.

Em 2006, a produção deve atingir cerca de 19 bilhões de litros, segundo a Energy Information Administration. A Kiplinger Agriculture Letter estima que as usinas de etanol usarão 23% da safra americana de milho no ano que vem, mais do dobro de 2004, deixando 58% para o consumo humano e animal nos EUA depois das exportações. Com a demanda por etanol em pleno crescimento, há uma expectativa de que os preços do milho em 2007 subam para US$ 2,50 por bushel ou mais.