Pela primeira vez em seis meses de crise econômica global, o nível de ocupação industrial em São Paulo registrou variação positiva. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), no período fevereiro-março, há um saldo positivo de 7.
500 postos de trabalho (número arredondado, variação positiva de 0,31%).
Nos meses de dezembro de 2008 e janeiro de 2009, o índice de emprego foi de -1,3%; e no período janeiro-fevereiro deste ano, de -1,8%.A Fiesp atribuiu o resultado positivo ao setor sucroalcooleiro, que ocupou 26.933 trabalhadores entre fevereiro e março. O desempenho contrasta com o resultado obtido em outros setores industriais, que registraram baixa de 19.433 postos de trabalho.
A razão das contratações na produção de álcool e açúcar foi a antecipação da colheita da cana em São Paulo, geralmente feita nos meses de abril. Foi preciso antecipar a colheita para que o setor gerasse fluxo de caixa para capital de giro, explicou a Fiesp. O capital de giro é uma coisa que sumiu e ficou muito cara. “Os bancos estão resistindo muito em emprestar para o setor sucroalcooleiro”, disse o gerente do Departamento de Economia da Fiesp, André Rebelo.
“m vez de pegar dinheiro emprestado, os produtores resolveram espremer cana” completou o economista. Ele destacou que também está sendo colhida a cana que não foi processada no final do ano passado.Apesar do resultado positivo, os dados acumulados mostram o impacto da crise financeira mundial no setor de transformação no estado mais industrializado do Brasil.
Conforme a pesquisa sobre nível de emprego em São Paulo, entre dezembro do ano passado e março deste ano, o saldo é de 66.500 postos de trabalhos fechados.
Na comparação estática dos meses de março de 2008 e março de 2009, o resultado é ainda pior: menos 133 mil empregos na indústria. Em 12 meses, o resultado é de 1,3%, ainda positivo, pois inclui no período os meses que antecederam a crise, quando havia crescimento em vários subsetores industriais.Segundo Rebelo, os resultados são meio bons, pois a maioria dos setores está desempregando.
Para ele, a crise ainda está fazendo estragos, e ninguém pode prever o comportamento da economia. “Eu não sei se o fim da crise é nesse patamar mais baixo ou se tem uma retomada e melhoria pra sair desse buraco. E quem falar que sabe está mentindo”, afirmou. “A gente estava comemorando que o Brasil ia ser o país que menos ia sentir a crise, aí veio o resultado do PIB [Produto Interno Bruto] e foi uma paulada para baixo. Aí falaram que no primeiro trimestre iríamos sair da crise. Não saímos”, lembrou Rebelo.
Ele disse que o estrago no PIB e na produção industrial foi muito grande, mas, no emprego, ainda foi pequeno. Além da alta de ocupações nos setores de processamento de álcool (produção de combustível, 23,8%) e açúcar (produção alimentícia, 9,7%), a Fiesp identificou no mês de março ligeira variação positiva em mais três setores: couros e calçados; móveis e produtos diversos (brinquedos).
Isso aí é efeito do câmbio nos setores que estavam sofrendo uma competitividade ruim, explicou Rebelo. De acordo com o economista, chama a atenção, no entanto, o fato de o setor de automotores, reboques e carrocerias beneficiado desde dezembro com a isenção e redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos de passeio ter registrado queda de ocupações de 1,7% em fevereiro e março ou de 6,7% no período de dezembro de 2008 a março deste ano.
De acordo com Rebelo, as demissões ocorrem devido à expectativa de diminuição de atividade (a projeção do setor é de queda de produção de 11% em 2009). As empresas estão demitindo porque estão olhando para a frente e não estão vendo novas vendas. Se não tem venda no futuro, não tem produção. Se não tem produção, paga-se o salário do trabalhador e ele não gera valor para a empresa.
Por isso, acrescentou, manda-se embora, para não quebrar. Não é por maldade.Rebelo também vê limites nos efeitos das políticas de isenção de IPI. O bom desempenho de março não se sustenta, está associado à redução do imposto. Gera antecipação da decisão da compra, o que é um efeito bom, mas a prorrogação tem efeito menor, ressaltou, lembrando que uma nova compra de veículos não acontecerá em breve.
A curva do nível de emprego na indústria desenhada pela Fiesp repete padrão já verificado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com a Pesquisa Mensal de Emprego, e pelo Ministério do Trabalho e Emprego, com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
As três pesquisas usam metodologias e recortes diferentes. A pesquisa da Fiesp se baseia em amostra de 3 mil empresas informantes (representando 50% do produto industrial) e considera ocupações formais divididas por 22 subsetores do estado de São Paulo.
A pesquisa do IBGE baseia-se também em dados amostrais e é realizada para medir o número de ocupações em seis regiões metropolitanas; enquanto o Caged tem caráter de registro censitário e é elaborado para medir a variação de postos com carteira de trabalho assinada em 15 subsetores agrupados. Além da variação setorial, a Fiesp verificou diferenças regionais nos níveis de ocupação e emprego.
Se, no estado de São Paulo, o resultado é positivo (0,31%); na chamada Grande São Paulo (região metropolitana da capital), o desempenho é inferior (-1,05%); o que contrasta com os resultados positivos do interior (1,33%).As diferenças regionais confirmam os resultados setoriais.
As regiões que apresentaram os melhores saldos de emprego são aquelas onde estão localizadas as lavouras e as unidades de processamento da cana para fabricação de combustíveis ou de açúcar Araçatuba, Araraquara, Presidente Prudente, Botucatu e Jau. Com informações da Agência Brasil. (AB)