Cana-de-açúcar

Estudo revela que expansão da área plantada de cana para produção de etanol pode anular ganhos ambientais

Artigo “How green is sugarcane ethanol?”, do professor Marcelo Sant’Anna (FGV EPGE), discute a sustentabilidade do etanol de cana-de-açúcar brasileiro como alternativa aos combustíveis fósseis

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Na busca por soluções que reduzam a emissão de carbono, o emprego de combustível etanol surge como uma opção “verde”, mas os ganhos ambientais não são tão evidentes quando aspectos de sua produção são levados em conta. No artigo “How green is sugarcane ethanol?”, o professor da EPGE, Marcelo Sant’Anna, aborda a questão da sustentabilidade do etanol de cana-de-açúcar brasileiro como alternativa aos combustíveis fósseis.

O trabalho destaca que o etanol de cana provém de fonte renovável e alternativa aos combustíveis fósseis, sendo de bastante importância na matriz energética global. Entretanto, neste processo de substituição energética é preciso também avaliar aspectos ambientais da sua produção, como o uso de terra e as emissões de gases de efeito estufa ao longo de seu ciclo de produção, além de possíveis impactos indiretos.

O texto investiga em particular o quanto do aumento de produção vem do uso de áreas de plantios já existentes, representando aumento de produtividade, e o quanto resulta da expansão da área plantada. Este aspecto é importante pois eventuais desflorestamentos podem anular os ganhos ambientais do uso do etanol de cana como substitutivo de combustíveis fósseis.

O trabalho combina um modelo dinâmico de uso de terra, que envolve preços, eficiência de transporte, decisões de plantio, replantio e expansão do cultivo, dentre outros fatores particulares à indústria de cana-de-açúcar. O modelo é estimado com o auxílio de dados de satélites.

O estudo do economista conclui que 92% do aumento da produção do etanol de cana brasileiro vêm da expansão da área plantada, sendo os restantes 8% vindos de aumento de produtividade de áreas previamente utilizadas. Do total das novas áreas plantadas, estima-se que 19% correspondem a desflorestamentos.

Uma questão central é o tempo necessário para que a substituição de combustíveis fósseis pelo etanol de cana compense as emissões de carbono do desmatamento inicial. O estudo de Sant’Anna estima que são necessários cerca de 20 anos para que essa compensação seja alcançada, um número significativamente menor do que os 167 anos estimados para o etanol de milho nos EUA.

Este estudo é um passo importante na direção de políticas mais informadas e sustentáveis para o uso de biocombustíveis, destacando a necessidade de um equilíbrio entre produção agrícola e conservação ambiental. Ao desvendar as complexas interações entre agricultura, economia e ecologia, Sant’Anna oferece uma base sólida para futuras discussões e decisões sobre o papel dos biocombustíveis no combate às mudanças climáticas.

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