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Estudo do IEA mostra que mecanização vai desempregar

Estudo realizado por uma equipe de pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, estima que a introdução de máquinas na colheita da cana-de-açúcar desemprega cerca de 2.700 pessoas por safra para cada 1% de área mecanizada. Para este cálculo, o IEA utilizou informações dos levantamentos da safra 2007/08, como quantidade colhida em média por homem, produção de cana e tempo da safra (assumindo 132 dias efetivamente trabalhados).

O estudo sobre a qualificação dos trabalhadores na cana-de-açúcar (inclusive os que vão ser desempregados pela mecanização), realizado por solicitação da Comissão Especial de Bioenergia do Governo do Estado de São Paulo, permite concluir que o desemprego na colheita da cana se acelerou, pois a meta de 30% da produção da cana-de-açúcar colhida por máquinas foi ultrapassada, atingindo a marca de 41%. O trabalho foi elaborado pelos pesquisadores Carlos Eduardo Fredo, José Eduardo Rodrigues Veiga, Celma da Silva Lago Baptistella e Maria Carlota Meloni Vicente.

“A cana-de-açúcar hoje é responsável pela contratação do maior número de trabalhadores”, dizem os técnicos do IEA. “Cultura de características sazonais, da mesma forma que contrata um grande número de trabalhadores, dispensa esse número quase em sua totalidade ao término da colheita. Como ocorreu em outras culturas como amendoim e soja, a cana-de-açúcar está em franco processo de mecanização, principalmente na operação de colheita. Ou seja, este processo está substituindo o trabalho manual pelo mecanizado. As razões são simples: reduz o tempo da colheita, aumenta a produtividade e reduz o custo gasto com contratação de mão-de-obra.”

A preocupação ambiental levou os governos federal e paulista a estabelecerem prazos para a erradicação da queima da cana e, conseqüentemente, acelerou a substituição do trabalho manual pelo mecânico. Isto se deu pelos mecanismos do Decreto Federal de 1998, da Lei 11.241 de 2002 do governo paulista e, mais recentemente, do Protocolo Agro Ambiental (2007).

Assim, o Protocolo Agroambiental, de adesão voluntária, antecipa para 2014 o fim da (eliminação total) da queima da cana na colheita nas áreas mecanizáveis, previsto para 2021 na Lei 11.241. Já nas áreas não-mecanizáveis, o prazo da eliminação total da queima da cana pode ser, voluntariamente, antecipado para 2017, quando a Lei prevê até 2031. As usinas que aderirem ao Protocolo e cumprirem as metas estabelecidas serão beneficiadas com o Certificado Agro Ambiental, que facilitará a comercialização do etanol.

A pesquisa constata que é fundamental conhecer o perfil desse trabalhador, no que diz respeito a gênero, grau de instrução e faixa etária, para uma política eficaz de realocação. “Mais do que isso, é preciso conhecer também o perfil dos outros grupos de trabalhadores inseridos na cadeia de produção da cana, como tratoristas e operadores de máquinas, supervisores, outras ocupações agrícolas e não-agrícolas.”

Segundo o estudo, dificilmente o contingente formado por cortadores de cana será absorvido dentro do setor canavieiro ou dentro do setor agropecuário e até mesmo em outros setores econômicos, sem que antes passe por três fases importantes: motivação do indivíduo para que entenda seu papel dentro da economia brasileira e a importância de mudar de emprego; requalificação deste trabalhador na qual muitos passarão até mesmo pela alfabetização; e por último, o acesso a cursos profissionalizantes para exercerem novas funções. “É um trabalho árduo e difícil, porém não impossível”, concluem os pesquisadores do IEA.

No Brasil, há cerca de 600 trabalhadores contratados na área agrícola, sobretudo, para corte de cana. Em São Paulo, são cerca de 180 mil trabalhadores, segundo a Unica.