Um estudo divulgado nesta quinta-feira em Moçambique apontou que o país africano tem “grandes potencialidades” para se tornar um importante exportador mundial de biocombustíveis, mas as autoridades devem ter em atenção à distribuição de terras destinadas à sua produção devido ao “potencial conflito entre energia e alimentos”.
O trabalho foi divulgado por Edward Hoyt, chefe da equipe que elaborou o primeiro relatório sobre as possibilidades de desenvolvimento de uma indústria de biocombustíveis em Moçambique.
“Encontramos, em termos gerais, que o país tem grandes possibilidades para a produção das matérias-primas que poderão ser aproveitadas para a produção de biocombustíveis e tem grandes potencialidades naturais para ter um papel relevante neste domínio no plano internacional”, disse Hoyt, da empresa norte-americana Econergy.
O estudo “Avaliação dos Biocombustíveis em Moçambique” indica que a produção no país “seria competitiva”, levando em consideração “o padrão em outros países” e diante das “excelentes condições naturais existentes”, além do “crescimento contínuo da procura de etanol” e de biodiesel no mercado internacional.
Terras para plantio
De acordo com o estudo, Moçambique tem 27 milhões de hectares de terras férteis, incluindo 5 milhões já em produção, a maioria “concentradas nas zonas altas do centro e norte” do país.
O documento estima que “as terras de fato disponíveis para o cultivo de biocombustíveis” variem “entre um valor mínimo de 6,5 milhões de hectares e um valor máximo de 15 milhões de hectares”.
Apesar disso, o mercado doméstico de combustíveis em Moçambique é bem reduzido, com 80% cento de diesel, 20% de gasolina, consumindo anualmente 500 milhões de litros. A vizinha África do Sul consome 20 bilhões de litros por ano.
“A duplicação da área atualmente dedicada à produção de cana-de-açúcar, que é aproximadamente de 35 mil hectares, renderia uma quantidade suficiente de etanol para substituir toda a gasolina consumida em Moçambique e geraria aproximadamente 7.500 empregos”, diz o estudo.
Em outro cenário, o levantamento feito pela Econergy indica que com o cultivo de 500 mil hectares de jatrofa e 2,5 milhões de hectares de girassol “seria possível substituir todo o consumo de biodiesel no país e gerar 40 mil empregos”.
Benefícios
Como vantagens, o relatório apresenta a redução do déficit energético do país (apesar de exportar eletricidade e gás natural, Moçambique importa todos os combustíveis que consome), o estímulo das “atividades de desenvolvimento rural”, a “criação de empregos locais” e a oportunidade que os biocombustíveis representam para Moçambique “assegurar que o desenvolvimento não acarretará danos ambientais significativos”.
Os autores do estudo recomendam ao governo moçambicano que, numa primeira fase, fomente a criação de um mercado doméstico “gerando a procura de etanol e biodiesel para os transportes e fins industriais que atualmente utilizam a gasolina e o diesel”.
Além disso, sugere que sejam exploradas “maneiras de vincular a produção de biocombustíveis e as exportações com o acesso à tecnologia e ao investimento no contexto dos acordos bilaterais de cooperação”.