Os estoques de álcool em poder das usinas e nos tanques das distribuidoras de combustível são apenas suficientes para atender ao consumo doméstico até abril, quando se inicia o corte da cana na região Centro-Sul. As estimativas são de que o volume disponível para comercialização são de em torno de 4,2 bilhões de litros, número igual ao total da demanda do mercado interno até o fim de abril. O consumo interno é hoje de 1,05 bilhão de litros por mês. O chamado estoque de passagem, que resta da safra de um ano para se somar ao volume da produção da safra seguinte, seria de entre 300 e 400 milhões de litros, o que correspondente ao lastro dos tanques e dos dutos do combustível, que não podem ser comercializados.
“O mercado interno será atendido neste período de entressafra, mas sem folga”, disse o usineiro José Pessoa de Queiroz Bisneto. Qualquer problema com o clima até abril poderá comprometer os planos do setor de ampliar as vendas no mercado interno e de, pelo menos, repetir as exportações de 2,26 milhões de litros do ano passado. Por enquanto, as lavouras de cana se desenvolveram em condições ideais. As chuvas foram suficientes e as previsões meteorológicas indicam que deverão ser abundantes nos próximos dois meses. O risco maior é de o outono ser chuvoso, como ocorreu em 2004, quando a elevada incidência de chuva comprometeu a qualidade e dificultou o corte da cana.
Preços em queda
A estimativa é de que a produção de álcool na região Centro-Sul chegue a 14,9 bilhões de litros, 14% mais que na safra anterior, e que a safra do nordeste se mantenha em 1,4 bilhão de litros. Caso se confirme, o volume da oferta ao mercado interno, mais as exportações, sejam igual ao da produção, repetindo a situação de estoques de segurança baixos para garantir o atendimento do consumo doméstico.
Estimativas de oferta e de consumo tão apertadas não explicam a queda acentuada dos preços do combustível no mercado desde novembro, quase 10% para o álcool anidro e para o hidratado. O assessor técnico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), José Ricardo Severo, atribui a queda aos estoques elevados em poder das distribuidoras de combustível, que teriam então se retirado do mercado. A ausência de compradores no mercado interno teria contribuído para a desvalorização do produto. Se o prognóstico for confirmado, a queda nos preços seria temporária.
Severo não acredita na repetição da crise de oferta ocorrida em meados da década passada. Para ele, as usinas, que perderam a tutela do governo na administração dos preços do combustível, agora estão aprendendo a sobreviver de forma independente e garantir o atendimento do mercado interno.
As usinas deverão antecipar o início da safra para meados de março, acredita Queiroz. As condições adversas de clima durante a safra passada fizeram com que cerca de 6 a 7 milhões de toneladas de cana ficassem em pé e só deverão ser cortadas no início da próxima safra, quando se espera que tenham recuperado o nível de sacarose.
É possível que a receita de US$ 600 milhões obtidas no ano passado com exportações seja mantida em 2005. Para isso, é preciso que os preços internacionais do petróleo se mantenha em níveis elevados. Queiroz não acredita, porém, na ampliação do espaço conquistado no exterior. Isso dependeria da expansão das lavouras, o que só deverá ocorrer a médio prazo.
A maior participação do produto brasileiro no mercado internacional depende de novos investimentos e maior agressividade na venda do produto. Para isso, será preciso mudar o perfil das empresas do setor, com o ingresso de novos parceiros, especialmente estrangeiros. As empresas, segundo Queiroz, estão em processo de reestruturação, para se profissionalizarem e crescer de forma ordenada. Até lá, as vendas ao exterior serão feitas de acordo com a disponibilidade dos estoques, no mercado spot.