A falta de chuvas nas últimas semanas em São Paulo e Paraná –os dois principais Estados com cana-de-açúcar do Brasil– já começa a colocar os produtores em estado de alerta.
Além de retardar o desenvolvimento da cana da safra 2005/06, que começará a ser colhida em março, a escassez de umidade pode comprometer o plantio de produto a ser colhido na segunda metade de 2006.
No Paraná, onde praticamente não chove desde o início deste mês, a estiagem já provocou perdas irreversíveis na produtividade, segundo a Associação dos Produtores de Açúcar e Álcool do Paraná (Alcopar).
“Esta é a época de maior crescimento vegetativo da cana, quando normalmente há sol, calor e água. Com a seca, estamos sendo prejudicados”, disse Adriano da Silva Dias, superintendente da Alcopar.
Assim que houver chuva, a cana voltará a crescer, mas o período em que ficou atrofiada com a falta de água não poderá ser recuperado, segundo Dias.
No norte de São Paulo, principal área de cana do Brasil, há áreas que já mostram sinais de escassez hídrica, como folhas retorcidas, mas a situação pode ser revertida caso chova nos próximos dias, afirmou o diretor de uma usina da região.
“Se não chover em uma semana ou dez dias, a situação começa a complicar. Mas ainda é cedo para dizer qualquer coisa”, afirmou ele.
A situação pode melhorar a partir do fim de semana, para quando está prevista a chegada de uma frente fria trazendo chuvas generalizadas porém sem grande volume para os dois Estados, segundo a Somar Meteorologia.
EFEITOS PARA 2006
A falta de chuva já começou a afetar no Paraná o plantio de cana-de-açúcar de ano e meio (com ciclo de 18 meses), que normalmente é plantada no início do ano e colhida no segundo semestre do ano seguinte.
“Está tudo parado (o plantio). Ninguém está plantando desde o início da quinzena”, disse Dias, lembrando que o plantio pode ser retomado com a volta das chuvas, mas que a produtividade pode ficar comprometida.
“É em março que tem o maior plantio porque tem mais chuva e, portanto, uma maior possibilidade de germinação”, explicou.
No norte de São Paulo, a situação não é tão grave, conforme técnicos.
Segundo um diretor de usina, o plantio será prejudicado apenas se não chover até o início de março — mês que concentra o maior volume de plantio de cana de ano e meio.
“Tivemos um janeiro com chuvas boas, acima da média, e no momento ainda tempos uma boa reserva hídrica no solo”, disse Neriberto Simões, consultor técnico do Procana, empresa de consultoria de Ribeirão Preto.
“Até o momento, pelo menos, as condições de plantio são muito boas”, disse.
Todo ano, as usinas paulistas renovam, em média, 20 por cento da área plantada, sendo que a maior parte corresponde a este tipo de cana, de maior produtividade que a cana com ciclo de um ano. O percentual é ainda maior em companhias que estão expandindo a produção.