Diante da dependência de importações para suprir a demanda interna, a Petrobras poderá incluir gasolina no portfólio da refinaria Abreu e Lima, que está sendo construída em Pernambuco. A possibilidade foi informada recentemente a engenheiros que trabalham no empreendimento.
Pelo projeto original, a refinaria, com capacidade para processar 230 mil barris diários, produziria óleo diesel, gás liquefeito de petróleo (GLP), coque, nafta e enxofre. Questionada sobre a possibilidade de inclusão da gasolina, a estatal se limitou a informar que 70% da produção da refinaria pernambucana será de Diesel S-10.
O crescimento da frota nacional nos últimos anos não foi acompanhado pela capacidade de refino, o que elevou significativamente as importações, sobretudo de diesel e gasolina. A desvalorização do real, portanto, tem impacto ainda maior sobre o desempenho da Petrobras, já que a importação de combustíveis tem peso próximo de 30% nos gastos da estatal.
Os engenheiros de Abreu e Lima também foram informados por seus superiores de que o empreendimento não receberá mesmo o aporte da estatal venezuelana PDVSA. A refinaria será, portanto, uma unidade “100% Petrobras”.
A desistência da estatal venezuelana deverá resultar em mais reajustes no já inchado orçamento da refinaria pernambucana. Atualmente, Abreu e Lima tem custo estimado em US$ 17 bilhões, valor sete vezes superior ao anunciado originalmente.
Em abril, o diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, disse que, confirmada a desistência da PDVSA, seria necessária uma adaptação que custaria em torno de 5% do total do projeto. Pelos valores atuais, algo próximo de US$ 850 milhões.
Isso se deve ao fato de a refinaria ter sido idealizada para processar dois tipos de óleo: o brasileiro, da Bacia de Campos, e o venezuelano, da Bacia do Orinoco. Apesar disso, o relatório de impacto ambiental, de dezembro de 2006, previa testes para o processamento “alternativo” de 100% de óleo brasileiro.
Os últimos prazos anunciados para a entrada em operação de Abreu e Lima também estão na berlinda, segundo fontes que acompanham a obra. O período de chuvas em Pernambuco, que já dura mais de dois meses, vem ocasionando sucessivas interrupções nos trabalhos. Outro problema é ligado aos operários, que estariam fazendo o trabalho em banho-maria para garantir emprego por mais tempo. É longo o histórico de problemas envolvendo os trabalhadores da refinaria, que chegaram a queimar vários ônibus durante uma greve em 2012.
Nesta quinta-feira, os acessos ao porto de Suape, onde fica a refinaria, foram bloqueados por protestos convocados por centrais sindicais. A maioria dos trabalhadores da refinaria não aderiu à manifestação, mas todos foram impedidos de entrar no canteiro de obras. Oficialmente, a estatal mantém o prazo de novembro de 2014 para início da operação do primeiro trem de refino da refinaria. O segundo está previsto para 2015. Por meio da assessoria de imprensa, a estatal informou ainda que 75% das obras físicas da refinaria estão concluídas e que a empresa “continua aberta à negociação com a PDVSA”.