Um dos destaques da conferência foi a palestra de Nelson Furtado, PhD e há 10 anos coordenador do Programa Rio Biodiesel, da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia. O laboratório, situado na UFRJ, é endossado pela ANP como o principal certificador de biodiesel do Brasil e mantém 29 projetos de pesquisa, tendo recebido aportes de aproximadamente R$ 1 milhão/ano.
O especialista resumiu, de forma didática, dados referentes às características e ao potencial energético de diversas plantas oleaginosas. As plantas de maior potencial de produtividade (acima de 2 mil litros de óleo por hectare) são o babaçu, o coco, a palma (dendê) e o pinhão manso, sendo as duas últimas as mais promissoras para o Brasil. A soja tem um potencial mais reduzido, e a mamona – exaltada no início do Governo Lula como uma grande esperança – apresenta alta viscosidade, que impede seu bom aproveitamento.
Furtado destacou que, hoje, surge no Brasil uma nova indústria que aproveita antigos rejeitos do processo químico de produção de biodiesel (a indústria gliceroquímica), de imenso potencial, assim como todo o restante da biomassa.
Embora o uso do biodiesel já estivesse num estágio avançado na Alemanha, matriz de parte de nossa indústria, no início da década havia uma grande resistência da parte da indústria automotiva nacional em aceitar o biodiesel. A ação incisiva do Governo Lula foi um impulso para a continuidade das pesquisas e implantação de fábricas de biocombustíveis, deixando para trás as incertezas do passado.
Pinhão manso é promessa
Furtado é um grande defensor do plantio de oleaginosas no estado do Rio de Janeiro com fins energéticos, apontando que as condições climáticas são bastante semelhantes às do semi-árido nordestino. O pesquisador vislumbra um grande potencial do pinhão manso, espécie de plantio proibido no passado e hoje estudada amplamente por diversas universidades. Uma tese de doutorado realizada dentro do programa Rio Biodiesel poderá abreviar o início do plantio em larga escala, favorecendo, assim, a agricultura familiar. Pela rusticidade, fácil adaptação e alta produtividade, o pinhão manso pode ser uma importante alternativa energética para países pobres se tornarem menos dependentes de combustíveis fósseis.
Nelson Furtado concluiu sua fala com a seguinte reflexão: “Não precisamos adotar modelos homogêneos na questão dos combustíveis no Brasil”.