O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou no dia 24/02/12, o “Plano Estratégico do Setor sucroalcooleiro para 2015”, que está dividido em três partes:
1ª) Renovação dos canaviais. Para esse fim serão destinados R$ 29 bilhões para a renovação de 6,4 milhões de hectares (mha), ou seja, 77,11% do total da área cultivada de 8,3 mha.
2ª) Aumento da produção de cana-de-açúcar. Serão destinados R$ 8,5 bilhões para que as usinas em operação aumentem a produção própria de matéria prima, já que, existe uma ociosidade na moagem em torno de 16%. Considerando os custos atuais, essa quantia será suficiente para que a área plantada seja expandida em mais 1,4 mha.
3ª) Expansão da área plantada. Está programada a ampliação da área plantada de cana-de-açúcar em mais 3,8 mha, o que, somados aos 8,3 mha já plantados (e que serão renovados), daria uma área total de 12,1 mha cultivados com cana. Para tal, serão necessários investimentos da ordem de R$ 23,5 bilhões.
A grande vantagem do Brasil é que podemos expandir as áreas para cultivo da cana, sem necessidade de derrubar uma só árvore, visto que ainda temos muita área degradada a ser aproveitada (é meta de o Mapa recuperar 15 mha de áreas de pastagens degradadas entre os anos de 2010 e 2020,agricultura.gov.br).
Segundo a excelente apresentação “Os desafios do setor sucroenergético e o Movimento + Etanol”, da União da Indústria de Cana-de-Açúcar – Unica (unica.com.br), o Brasil precisa produzir 1,2 bilhão de toneladas de cana até 2020 para que se possa atender a demanda por etanol (50% da frota, ciclo Otto; hoje 36%) e açúcar (51,1 milhões de toneladas).
Considerando que a safra (estimada) 2012/2013 fique em torno de 550 milhões de toneladas, para que atingíssemos a quantidade prevista para 2020, teríamos qu e aumentar a produção de cana numa média anual contínua em 10,0%. Esse percentual é inatingível, tendo em vista o tempo de 18 meses entre o plantio e o início de produção de um canavial novo, acrescida da necessidade de construção de novas usinas.
Ademais, para que se alcance a meta de 2020, aos R$ 61 bilhões do Mapa teríamos que acrescentar mais R$ 95 bilhões de outras fontes, visto que serão necessários investimentos totais de R$ 156 bilhões, incluindo aí a construção de 120 usinas greenfields (novas), média de 15 unidades por ano.
Mesmo se conseguíssemos produzir 1,2 bilhões de toneladas/ano de cana em 2020, seguramente haveria um excesso de oferta de matéria prima, pois não teríamos como aproveitá-la para produção de etanol e açúcar, tendo em vista a capacidade de fornecimento do nosso parque industrial. Se começarmos agir já – governo e iniciativa privada –, em 10 anos talvez possamos alcançar estes objetivos.
Nesse sentido, o bom exemplo a ser seguido é o da Logum Logística, empresa formada pela Odebrecht Transport Participações, Petrobras, Copersucar, Raízen (cada uma com 20% de participação), Camargo Correa Óleo e Gás e a Uniduto (10% para cada empresa), que está construindo o etanolduto com uma extensão total de 1,3 mil quilômetros através dos estados de Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
Com investimento total da ordem de R$ 7 bilhões, depois de concluído o etanolduto terá capacidade de transportar anualmente 20 bilhões de litros de combustível, diminuindo sobremaneira a utilização do modal rodoviário e seus altos custos financeiros e ambientais.
A Logum Logística sabe que a crise pela qual passa o setor sucroalcooleiro é passageira e que segundo Marcos Jank, ex-presidente da Unica “o futuro energético não é o petróleo, são as energias renováveis. E o etanol tem potencial para ser a mais viável delas, desde que, claro, haja uma política que o fereça segurança e infraestrutura para sua produção.”
No entanto, como vimos mais acima, do total de R$ 61 bilhões previstos no Plano do MAPA, o ministério destinou R$ 60,960 bilhões (99,93%) para renovação e plantio de novos canaviais e somente a irrisória quantia de R$ 40 milhões (0,07%) para pesquisas com etanol celulósico e novas variedades de cana.
Enquanto os Estados Unidos gastam bilhões de dólares na pesquisa de novas fontes e tecnologias e construção de usinas para aumentar a produção do etanol a partir da celulose, o Brasil investe uma ninharia para este fim.
Será que as nossas autoridades do setor energético são tão despreparadas, que não conhecem as recentes pesquisas que mostram que com o uso do bagaço e palhiças da cana, podemos aumentar em pelo menos 50% a produção de etanol, sem que para isso seja necessário plantar um só hectare de cana?
Humberto Viana Guimarães é engenheiro civil e consultor, formado pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com especialização em materiais explosivos, estruturas de concreto, geração de energia e saneamento