O Espírito Santo começa a despontar para o segmento sucroalcooleiro, com investimentos em novas usinas e no porto de Vitória, que já surge como alternativa para escoar açúcar e álcool e desafogar o “tráfego” de Santos (SP), o maior porto da América Latina. O Infinity Bio-Energy, fundo criado por investidores americanos e britânicos, anunciou que fará investimentos de US$ 240 milhões na construção de novas duas usinas no Estado. E um novo terminal da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) escoará álcool do Triângulo Mineiro e de Goiás via Vitória.
Sem tradição em cana, as seis usinas instaladas no Estado, todas de pequeno porte, moem cerca de 4 milhões de toneladas por safra, ou quase 1% da produção nacional – em torno de 420 milhões de toneladas. Mas a boa demanda, sobretudo por álcool, nos mercados interno e externo está estimulando a produção em regiões com pouca tradição.
O Infinity Bio-Energy, companhia listada na bolsa de Londres desde 23 de maio, construirá duas usinas no Estado e deverá utilizar a estrutura portuária de Vitória, como base exportadora de álcool, segundo o CEO Sérgio Thompson-Flores. Segundo ele, a empresa também tem planos para investir em novas usinas no Mato Grosso do Sul. Hoje o grupo também controla a Coopernavi, de Naviraí (MS) e a Cridasa, em Pedro Canário (ES).
Segundo Flores, o Infinity entrou no Brasil este ano por meio do fundo americano Evergreen. Este fundo comprou a usina Alcana, de Nanuque (MG), e Coopernavi, de Naviraí (MS). “O Infinity incorporou o Evergreen e assumiu 100% do controle da Alcana e 51% da Cridasa”, disse Flores.
As duas novas usinas do Infinity ainda aguardam a liberação da licença ambiental e devem moer 3 milhões de toneladas cada unidade em sua fase final de projeto.
A produção de cana deve aumentar no médio prazo. As usinas capixabas planejam ampliar de 60 mil hectares para 100 mil hectares a área de cana plantada no Estado, segundo a Secretaria de Agricultura do Estado. Algumas unidades também já estudam incrementar as suas capacidades industriais instaladas.
No âmbito logístico, o porto de Vitória prepara-se para absorver a chegada da cana. A principal notícia refere-se à construção de um novo terminal da CVRD. O projeto está sendo desenvolvido em parceria com o Oiltanking, a segunda maior operadora do mundo de terminais para granéis líquidos. Ela será responsável pelo aporte estimado de US$ 12 milhões em tancagem.
Em entrevista ao Valor, o gerente de projetos da Oiltanking no Brasil, Peter Van Wessel, afirmou que o terminal escoará a produção de álcool do Triângulo Mineiro – hoje feita integralmente por Santos – e Goiás via Vitória. Em menor volume, o álcool produzido por usinas do norte do Espírito Santo também serão direcionadas ao novo terminal. “É importante lembrar que os custos serão mais competitivos em relação a Santos, que está mais longe”, disse Van Wessel.
A Oiltanking informa ainda, na edição de agosto de sua revista institucional, que a capacidade inicial do terminal será de 34 milhões de litros de álcool, mas que o volume anual pode subir para cerca de 1 bilhão de litros.
O projeto, que segundo Van Wessel, está na fase de licenciamento ambiental, deverá começar já no início de 2007 e a estimativa é que o terminal opere a partir de maio de 2008. Procurada pelo Valor, a CVRD respondeu que “não comenta o assunto”.
Além do terminal da Vale, o porto de Vitória estuda também criar outro terminal para escoar o álcool das usinas capixabas. Na semana passada, o porto realizou uma operação inédita ao embarcar 5,4 milhões de litros de álcool da Lasa -situada no norte do Espírito Santo – para a Nigéria.
Segundo Danilo Queiroz, diretor de comercialização e fiscalização da Codesa (Companhia Docas do Espírito Santo), apesar de ter sido experimental, a operação deve gerar um novo nicho de mercado no porto. “Esse tipo de embarque é o ponto de partida para a implantação de um terminal especializado para a movimentação de álcool a granel pelo Porto de Vitória, uma importante mercadoria para o comércio internacional brasileiro”, disse.
Conforme a Secretaria da Agricultura do Estado do Espírito Santo, a cana responde por quase 5% do agronegócio. O Estado é o maior produtor de café robusta do país, e também cultiva cereais, olerícolas, frutas e leite. O setor sucroalcooleiro movimenta por ano cerca de R$ 300 milhões na economia local e gera aproximadamente 10 mil empregos diretos.