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Especificações técnicas dificultam importações de etanol americano

Alguns consideram uma heresia. Outros não descartam a opção. Mas o fato é que importar etanol, para o Brasil, não é algo tão simples assim, pelo menos no curto prazo. Os entraves vão desde o tempo que o combustível levaria para chegar ao país até questões técnicas que teriam que ser objeto de alteração de legislação para viabilizar o uso do álcool estrangeiro, principalmente o americano.

O etanol americano não tem, por exemplo, as mesmas especificações exigidas pela legislação brasileira. Tarcilo Rodrigues, diretor da trading Bioagência, especializada em etanol, explica que o álcool brasileiro pode, no máximo, ter 0,5% de água, enquanto o americano sai da usina com 0,9%. “Para o Brasil, é mais simples exportar aos EUA, por que, neste caso, não é necessário desidratar! o produto, mas somente acrescentar água”.

Tarcilo acrescenta que, como ainda não é uma commodity, o etanol tem, em diferentes regiões do, mundo especificações distintas. “Quando o Brasil vai exportar para a Europa, por exemplo, as usinas aqui têm que fazer adaptações para produzir com uma quantidade ainda menor de água”, diz ele.

Outro entrave é a composição final do etanol americano, que já sai da usina misturado à gasolina. “É um percentual pequeno, mas há a mistura, que é obrigatória para evitar que esse etanol produzido para fins químicos seja usado como bebida”, explica Mário Silveira, da consultoria FCStone.

Ambos os especialistas concordam que essas regras podem mudar. No entanto, não é um processo que se resolve do dia para noite.

O prazo, aliás, é outro obstáculo à importação de etanol para esta safra. Há um risco muito elevado, segundo Júlio Borges, da Job Economia e Planejamento, de que o etanol eventualmente negociado nesta semana com os! EUA chegue no Brasil por volta de março, quando um razoável número de usinas já deverá estar moendo cana no Centro-Sul e, portanto, os preços deverão estar mais baixos. Atualmente, segundo Borges, o metro cúbico do etanol nos EUA vale US$ 470, valor que no Centro-Sul do Brasil está em US$ 740.

“Essa diferença, de cerca de US$ 300, é mais do que suficiente para bancar frete, impostos e taxas. Mas, do ponto de vista de oportunidade de negócio, pode não ser uma boa alternativa”, diz Borges.

Mas, afinal, há risco ou não de desabastecimento? Alguns agentes do governo vêm acenando com a possibilidade de o Brasil ter de importar etanol por causa desse risco. Ontem, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, reforçou essa linha: “Nós não gostamos da ideia e preferimos arrumar soluções internas. Mas não está descartada a possibilidade”, disse ele.

Isso porque o aumento de vendas de carros flex combinado com o preço muito baixo do etanol durante toda a safra ao cons! umidor, provocaram uma explosão de consumo de álcool hidratado, aquele que abastece diretamente o veículo. De acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), o consumo de etanol até novembro de 2009 tinha superado o de 2008, já 43% maior que o de 2007.

Com a alta do preço do etanol na bomba pesando no bolso, o consumidor pisou no freio e consumo do combustível recuou 30% em comparação com o volume em dezembro. Apesar de a ANP não ter divulgado as estatísticas de do último mês de 2009, o volume levantado pelo Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), que representa de 50% a 60% do mercado, foi de vendas de 960 milhões de litros de álcool hidratado em dezembro.

Em contrapartida, o consumo de gasolina subiu 26% em relação a janeiro de 2009 e recuou 3% em relação a dezembro. “Em dezembro, o consumo de gasolina é muito elevado, por isso, janeiro recuar em relação a dezembro não é parâmetro a ser considerado”, diz Alisio Mendes Vaz, vice-pre! sidente executivo do Sindicom.