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Especialista quer peso menor de hidroelétrica

A fatia das hidroelétricas na matriz energética do País precisa cair dos atuais 85% para 65%. A proposta é do presidente da Associação Brasileira dos Geradores de Termoelétricas (Abraget), Xisto Vieira Filho, para quem “apostar todas as fichas na hidroeletricidade é um convite ao racionamento”. Ele falou sobre o assunto no programa Panorama do Brasil, transmitido na manhã de hoje pela TV B, afiliada do SBT na região de Campinas e Santos.

Vieira lembrou a importância da energia hidroelétrica para um país do tamanho do Brasil, mas lembrou: “Para suprir uma possível falta de energia hídrica, é preciso que se instalem térmicas a gás natural, a carvão brasileiro e importado, a biomassa e também à base de energia nuclear”.

As termoelétricas, na avaliação de Xisto Vieira, apresentam, entre outros pontos, vantagens ambientais: “Já dominamos a questão da poluição e a questão da captura do dióxido de carbono estará resolvida dentro de cinco anos”.

Apesar dessa e de outras vantagens, assegura Xavier, as termoelétricas ainda têm participação modesta na matriz energética brasileira: “O aumento que tem acontecido em relação a essa alternativa ainda é insignificante”.

Prioridade na China

O especialista lembra que, ao contrário do que acontece no Brasil, as termoelétricas crescem de maneira acentuada em países como a China, que tem apresentado crescimento econômico de dois dígitos nos últimos anos: “Na China, a cada semana entra em operação uma térmica de carvão de 600 megawatts (MW). Enquanto isso nós, no Brasil, que também temos demanda crescente por energia, colocamos em funcionamento uma dessas unidades por ano”.

Esse quadro tem como uma de suas principais causas o excesso de regulação, na avaliação do presidente da Abraget: “Há previsão de penalidades significativas e excessivamente rígidas para geradores termoelétricas”.

Com a possibilidade de investimento, afirma Xavier, há grande desestímulo a investimentos no setor: “É claro que projetos submetidos a cláusulas de penalidade tão severas têm mais dificuldade de conseguir investimentos”.

Ele cita um exemplo de punição para reforçar sua tese: “Chega-se ao absurdo de se ter de pagar uma multa de R$ 550 por megawatt/hora no caso de falta de insumo, por exemplo”.

Xisto Vieira defende a regulação, mas recorda que ela deve ser feita de maneira adequada: “É evidente que os agentes reguladores têm de zelar pelos interesses dos consumidores cativos, da mesma forma que precisam atenuar distorções do mercado. Mas também devem proporcionar sinalizações que incentivem os investidores, e não que os afastem”.

Solução à vista

Nesse cenário, os problemas para geração de energia se acumulam, na avaliação do especialista: “Hoje, as dificuldades para construção de novas unidades hidroelétricas são enormes, principalmente aquelas que têm grandes reservatórios”.

Para ele, a situação tem se agravado nos últimos tempos: “Os potenciais hidroelétricos mais próximos dos centros de carga se esgotaram, as distâncias cada vez maiores dos centros de consumo encarecem os custos de transmissão. A geração termoelétrica aparece como uma ótima solução para esses problemas”.

Para minorar os problemas que ameaçam o fornecimento de energia no País, o presidente da Abraget defende a definição de um estudo de planejamento, a ser feito pelo Governo Federal.

Esse estudo teria de levar em conta itens como preço, conjuntura, disponibilidade e nível de risco com o qual se pretende operar o sistema. “Não dá mais para se basear em um risco de déficit de 5%, simplesmente porque essa postura significaria aceitar que o País teria um racionamento a cada 20 anos”. O risco de 5% é o adotado atualmente pelo governo.

De acordo com Xisto Vieira, a situação ideal seria ter um risco de déficit zero, mas essa possibilidade é inviável: “Seria muito caro para um sistema predominantemente hidroelétrico. Por isso, chegamos à conclusão de que um risco próximo de 1% seria sustentável”.

Vieira recorda que é importante lembrar o custo do déficit: “Em períodos de racionamento, pode custar para o País até R$ 3.200 por megawatt/hora. Esse nível é um absurdo”.

Os estudos de Xisto Vieira apontam que o Brasil deve acrescentar em sua matriz energética 3 mil megawatts em média por ano de energia térmico, nos próximos oito anos.

Ambiente na pauta

Outro entrevistado do programa Panorama do Brasil também falou da situação da energia no País – Armando Ricardo Júnior, representante do conselho consultivo da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Eficiência Energética (Abesco).

Ricardo garante que, quando se fala de energia, a geração sempre vai afetar o meio ambiente: “Quanto menos se precisar de energia, menor o desgaste do meio ambiente. Por isso, temos de diminuir bastante a demanda”.

O técnico acredita que a geração virtual de energia “vem justamente agregar o que não estava disponível no sistema”. Ele explica que toda demanda e consumo de energia elétrica retirada da rede por meio de eficiência energética podem ser considerados geração virtual.

Armando Ricardo propõe que o governo incentive ou determine novos padrões de desempenho energético para equipamentos, tecnologias e processos mais eficientes de toda a cadeia produtiva. Além disso, defende a adoção de padrões técnicos obrigatórios e aplicação de recursos em pesquisa para reduzir perdas técnicas.

A análise do especialista é que existem alternativas para reduzir os problemas energéticos do País, sem que haja necessidade de se ter atenção exclusivamente para a energia hidroelétrica: “Toda a discussão em torno das usinas do rio Madeira dá a falsa impressão de que é a única opção que o Brasil tem para aumentar a oferta de energia. Nossa associação procura mostrar que existem outros caminhos para o setor”.

Eficiência energética

Um dos maiores problemas na discussão sobre a energia, na avaliação da Abesco, é que o debate costuma colocar a eficiência energética em plano secundário. Essa situação se repete, de acordo com a entidade, como ficou claro quando o governo anunciou, não faz muito tempo, um Plano B para fortalecer as termoelétricas e a energia nuclear. A eficiência energética, lembra a associação, não apareceu nesse discurso.

Armando Ricardo explica que o papel das associadas da Abesco (companhias de economia de energia, ou Esco, pela sigla em inglês) é oferecer aos clientes soluções e alternativas para o uso racional e eficiente de energia e água, com diminuição dos impactos ambientais: “As soluções permitem eliminar desperdício e modernizar suas instalações”.