Embora a conta prática dos 70% entre o preço do álcool e o da gasolina seja uma forma de avaliar qual combustível vale mais a pena, é importante lembrar que a escolha também depende do uso que o motorista faz do carro.
“Se o veículo fica muito tempo parado, é melhor abastecer com gasolina”, afirma Luigi Chiarella, 57, gerente de pós-venda da Ventuno (Fiat). Para o engenheiro Roger Gondim, da Volkswagen, o ideal é que cada motorista faça seu próprio teste, usando sempre o mesmo posto.
Primeiro, deixe o tanque ficar na reserva e encha de gasolina. Depois de uma semana, complete com gasolina e calcule o custo por quilômetro. Depois, rode de novo até a reserva e repita a medição, só que com álcool.
Dois mundos
De acordo com especialistas, quem mistura os dois combustíveis pode fazer isso para unir o melhor de dois mundos: o desempenho e o preço do álcool com a autonomia da gasolina.
“Se o consumidor fizer a mistura, vai ter um carro com potência mais alta do que se abastecer só com gasolina”, diz o engenheiro Clovis Teruo Matsumoto, 30, do Instituto Mauá de Tecnologia.
Mesmo assim, a dúvida dos clientes persiste. Apesar de ter comprado um VW Fox Total Flex, a secretária Clélia Mara Sbeghen Pascoalino, 43, nunca teve coragem de misturar os dois combustíveis. “Não sei se pode, se dá certo. Deixo chegar até o final da reserva e abasteço.”
Nos dois primeiros tanques, ela usou só gasolina. Agora está rodando apenas com álcool para comparar o consumo.
Há quem aprecie ainda o efeito psicológico de abastecer sem ter de desembolsar muito dinheiro. “Fiquei encantada quando enchi o tanque pela primeira vez. Gastei só R$ 27. Na hora, achei até que o frentista havia errado em alguma coisa”, lembra a administradora financeira Regina Célia Alves Medeiros, 35, dona de uma picape Chevrolet Montana Flexpower.
Segundo as fábricas, os principais argumentos de venda de modelos com motor flexível são não precisar escolher o combustível na hora de comprar o carro, ter segurança de que não vai ficar a pé em razão de políticas de abastecimento e poder usar o que mais lhe convier. O medo do novo é o único argumento contrário.
“Tudo que é novidade deixa o consumidor com um pé atrás. A melhor forma de tirar o medo é a propaganda boca a boca”, diz Cristiane Sanches, 32, gerente de marcas da linha Chevrolet.
Se houve alguém que não teve receio da nova tecnologia, essa pessoa foi Luís Gustavo Giordano, 24, o primeiro proprietário de um modelo bicombustível no país. “Quando comprei, não sabia que iria ser o primeiro. Foi sorte”, conta o empresário de Americana (128 km a noroeste de São Paulo). “Já misturei várias vezes, e o carro nunca deu problema.”
Ainda vai ter um
Novidade há 15 meses, o mercado de bicombustíveis já avançou a ponto de estar encostando em um quinto das vendas de modelos novos. O percentual, de acordo com a Anfavea (associação dos fabricantes), chega a 17% neste ano. Na General Motors, do total de modelos vendidos em maio, 22,7% eram Flexpower.
Até o final do ano, nenhuma das cinco grandes montadoras (Fiat, Ford, GM, Renault e Volkswagen) deixará de oferecer a opção. Segundo a Folha apurou, a Ford terá a opção nos novos Fiesta e Fiesta Sedan a serem lançados em setembro. A Renault começa a fabricar modelos com motor bicombustível no final deste ano.
Indagado sobre a preferência “oficial” da fábrica, Pedro Manuchakian, diretor de engenharia da General Motors do Brasil, respondeu da seguinte maneira a quem o questionou sobre com que combustível a Meriva sai da linha de montagem: “Com álcool, é claro. É o mais barato, e nós não somos bobos nem nada”. (LPZ)