Mercado

Entressafra interrompe a queda da inflação

Após meses consecutivos de deflação, o Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) subiu em agosto. Divulgado ontem, o indicador teve alta de 0,62% após uma queda de 0,20% em julho, mostrou a Fundação Getúlio Vargas (FGV). A inflação do município de São Paulo, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da USP, também subiu. Foi de 0,91% na primeira quadrissemana de setembro, acima do fechamento de agosto, quando ficou em 0,63%. Da mesma forma, a primeira prévia do IGP-M do mês, divulgada segunda-feira, havia registrado alta, de 0,69%.

O repique inflacionário registrados pelos últimos índices tem duas causas principais: uma prática e outra mais subjetiva. Para economistas e analistas de mercado, a entressafra de produtos agrícolas e os reflexos das últimas medidas econômicas adotadas pelo governo são as causadoras da alta de preços das últimas semanas.

Para o coordenador do curso de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Ellery, após meses de baixa, os preços dos produtos agrícolas voltaram a subir. “A entressafra é a causa concreta das altas, facilmente observada pelo reajuste dos preços no atacado.” O IGP-DI, por exemplo, mostra a variação dos preços principalmente no atacado (caso dos produtos agrícolas). “Mas o mercado também está sendo influenciado pelas últimas decisões da equipe econômica e do governo”, afirma.

Segundo Ellery, a redução dos juros – que deverá aumentar o volume de dinheiro no mercado -, a queda do compulsório bancário e a demora na aprovação das reformas institucionais também contribuem para o repique. “São fatores mais psicológicos, mas não deixam de ter seu peso e a sua influência nos preços.”

Já nos grandes centros, como São Paulo, as tarifas públicas continuam sendo importantes vilãs. De acordo com Salomão Quadros, chefe do Centro de Estudos Estatísticos da Fundação Getúlio Vargas, responsável pelo IGP-D, a queda da inflação seria mais contínua ou acentuada nestas cidades se os preços administrados, como as contas de telefonia, gás e eletricidade, não tivessem registrado alta.

O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), Heron do Carmo, já previa que as tarifas públicas continuariam a pressionar o índice. Segundo ele, após a alta das tarifas de energia e telefone no mês de agosto, em setembro seria a vez da água subir – a Sabesp reajustou o preço de seus serviços em 18,95%.

O núcleo do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), calculado pela FGV dentro do IGP-DI, caiu em agosto para o menor nível desde julho de 2002. A variação foi de 0,45%, contra 0,53% apurada no mês anterior.

Para o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor de política monetária do Banco Central, a queda do núcleo sustenta um corte de até três pontos da taxa Selic, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para a semana que vem. “O mercado pode ser surpreendido outra vez”, diz.

O IGP-DI de agosto revelou poucas pressões inflacionárias além da entressafra, que elevou em 1,77% o preço dos produtos agrícolas no atacado. O IPA (Índice de Preços por Atacado) teve alta de 0,70%, após cair 0,59% no mês anterior. O INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) passou de 0,99% para 1,44%, por conta de reajustes salariais concedidos aos trabalhadores do setor.

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