Metade das usinas brasileiras de açúcar e álcool que fornece energia hoje à rede nacional está ganhando dinheiro – ou pleiteando isso – com a venda de créditos de carbono. Atualmente 26 usinas do país comercializam esses papéis no mercado internacional, o que representa um ganho aproximado de R$ 60 milhões até agora. Outras 27 aguardam a aprovação do Conselho Executivo da ONU, que regula esse mercado.
A venda de créditos de carbono no setor sucroalcooleiro é possível graças à cogeração a partir do bagaço da cana. Através desse processo, a usina gera energia para consumo próprio e vende o excedente, contribuindo para tornar a matriz energética ainda menos poluente. É esse excedente que permite às usinas receber e vender créditos.
A receita obtida com a venda internacional de carbono ajuda a encurtar a taxa de retorno de investimentos em cogeração. “Um projeto de cogeração, normalmente se paga em cinco anos e meio, com a venda da energia. Com o crédito de carbono, a taxa cai para quatro anos e sete meses”, diz Luiz Pereira de Araújo Filho, diretor de Sustentabilidade da ETH.
Apesar de o setor sucroalcooleiro ser um dos pioneiros em crédito de carbono, há ainda uma larga fatia para ser inserida neste sistema. Só no Centro-Sul, são 337 usinas que geram energia com menor eficiência e para uso próprio. O gargalo, nesse caso, é que os preços pagos pela energia nos leilões do governo ainda não remuneram o investimento para substituição de caldeiras velhas por equipamentos de ponta. Mas há outros entraves para o mercado de carbono. Um deles é a revisão periódica da metodologia aplicada nos projetos. Desde 2006 foram feitas dez atualizações de metodologia, o que implica perda de tempo e dinheiro.