O último boletim mensal da Anfavea anunciou o início uma nova era. Pela primeira vez, em maio, os bicombustíveis dominaram o mercado de carros de passeio e comerciais leves, com 49,5% dos emplacamentos. Vá se acostumando à idéia. Dos quatro modelos mais vendidos até maio em 2005 (pela ordem: Gol, Palio, Celta e Mille), só o Chevrolet não tinha versão bicombustível. De agora em diante, tem: é o Celta 1.0 Flex Power. Era o que estávamos esperando para levar os quatro modelos, todos lançados recentemente, para um duelo na pista.
O preço do Celta flex não estava definido, mas os executivos da GM esperavam lançar o carro 3% acima do Celta a gasolina. Algo como 23850 reais – 880 mais que o Palio Fire Flex e 280 acima do Gol City Total Flex. O Mille Fire Flex corre por fora, a 20020 reais. “O preço de tabela é um detalhe, nivelado pelas guerras de descontos a cada fim de semana”, disse Samuel Russell, diretor de marketing da General Motors. “Toda segunda-feira eu recebo os anúncios de jornal que saíram em todo o Brasil, com nossos preços e os da concorrência. Se alguém baixar 500 reais, a gente não vende um Celta.”
Tamanha infidelidade é curiosa, afinal são carros bem diferentes. Palio Fire e Gol City são dois anjos caídos, já tiveram dias de glória. O painel desse Gol há dez anos esteve no GTI 16V. O luxo se foi, mas o passado glorioso deixou boas heranças, como o espaço generoso para quem se instala no banco de trás.
O Celta é o contrário: nasceu para ser o mais barato do país. Não conseguiu e foi ganhando caprichos para valorizar seu trunfo: o estilo. Ele entrega a origem humilde nos encostos de cabeça fixos e na buzina escondida na haste do pisca. Por fim temos o Mille e seus 21 anos. Ele não envelheceu tanto, da mesma forma que os Beatles não soam antigos diante do Oasis. Gol, Celta e Palio não reescreveram, só atualizaram a fórmula.
Outra fórmula que todos seguem é a da instalação de itens como ar-condicionado na concessionária. Não deixa de ser uma forma de parcelamento – você equipa quando puder – e um jeito de ver se precisa. Experimente antes de pedir a direção hidráulica. No Uno, é dispensável. Ele é leve. Tem de ser.
Os quatro cumprem o vaivém diário com agilidade. Palio, Mille e Gol venceram a rua Caiowaá, onde o Fox 1.0 refugou. O Celta não estava emplacado, quando der vai também. Valentes quando vazios, eles amansam ao viajar com a família. E, se a potência é pouca, não dá para desperdiçar. Daí, levamos os carros a um dinamômetro de rolo, ver quanto de torque e potência (oficialmente medidos em bancada) chegaram à roda.
Nunca é a mesma coisa. Em parte porque existem perdas mecânicas na transmissão, da ordem de 10%. Em parte porque motores feitos em série têm variação (cerca de 5%, para mais e para menos) e também porque melhoram com o amaciamento. Este parece ter sido um fator determinante no equilíbrio de forças dos carros do comparativo. Celta e Palio, que marcavam cerca de 3000 quilômetros no hodômetro, apresentaram perda de 8%. Isso quer dizer que, dos 70 cavalos, só 64 efetivamente puxaram o Celta em Limeira. Já o Gol, com 8000 quilômetros rodados, tinha 68 cavalos, 3 acima do especificado na ficha técnica. Depois dos testes ergométricos e de um raio X nos detalhes de projeto, é hora de chamar cada carro no particular. Hora de abrir o envelope com os resultados.