Mercado

Entidades pedem inclusão da biomassa nos leilões de compra de energia de março próximo

Certames só contemplam gás natural e carvão mineral

Entidades pedem inclusão da biomassa nos leilões de compra de energia de março próximo

Os Leilões de Energia Existente A-4 e A-5 de 2020, ambos agendados para o dia 31 de março próximo, não incluem a bioenergia.

Os certames contemplam a contratação de energia proveniente de usinas termelétricas movidas a somente duas fontes: gás natural e a carvão mineral.

A Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) e a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA) esperam sensibilizar o Ministério de Minas e Energia (MME) para incluir a bioeletricidade nesses Leilões.

Os leilões visam a recomposição de contratos das empresas de distribuição decorrentes dos leilões de energia nova realizados em 2005, 2006 e 2007.

Assim como contratos remanescentes do Programa Prioritário de Termeletricidade.

Leia também: 

Primeira unidade certificada no RenovaBio é produtora de biodiesel

Reavaliação é fundamental 

Para o diretor de Tecnologia e Regulação da Cogen, Leonardo Caio Filho, é fundamental que o MME reavalie o assunto, permitindo que as usinas de biomassa possam participar dos leilões.

“Esperamos que o MME possa reconsiderar o assunto”, diz.

“Um dos objetivos do leilão é o de substituir térmicas a óleo, mais caras e poluentes, por tecnologias mais eficientes.”

“As usinas movidas a biomassa podem substituir as térmicas a óleo e garantir o suprimento firme de energia elétrica. Além do mais, são renováveis”, atesta.

Aumento da concorrência

Para gerente de Bioeletricidade da UNICA, Zilmar de Souza, incluir a biomassa é importante até mesmo para aumentar a concorrência do certame.

“Nos leilões de energia nova, a biomassa tem concorrido com carvão mineral e o gás natural.”

“Até por uma coerência de política setorial, seria uma sinalização importante que  MME incluísse a biomassa”, afirma.

“Na verdade, nem defendemos que a biomassa concorra na mesma modalidade com carvão e gás – somos favoráveis à criação de uma modalidade separada.”

“Mas, dada a importância desses leilões, queremos participar e concorrer.”

Essa visão, emenda, é importante não só do ponto de vista do gerador e do investidor.

“Mas também pelo consumidor final, que acaba se beneficiando com a competição do certame.”

Descontratação em 2023

Uma das preocupações da Cogen e da UNICA é com o vencimento, em 2023, de muitos contratos de usinas de biomassa no ambiente regulado.

São mais de 2GW que terão seus contratos vencendo a partir de 2024.

“E esse momento casa exatamente com o período de início de entrega desses leilões A-4 e A-5 de energia existente”, afirma Leonardo Caio Filho.

“A possibilidade de participar desses leilões seria um incentivo a mais para investimentos em retrofit.”

“Não só das usinas que contribuem para o Sistema Interligado Nacional, mas também das que ainda não exportam energia”, destaca.

Para o diretor da Cogen, o MME deve considerar o incremento de produção das usinas de biomassa com  advento do programa de Estado RenovaBio.

O RenovaBio deve elevar a produção de etanol de 30 para 50 bilhões de litros anuais, entre 2030 e 2050.

O que ampliará em 200 milhões de toneladas o uso de cana por safra.

“Nos nossos cálculos, esse excedente a adicionar pelo menos mais 4GW de energia ao Sistema Interligado Nacional (SIN).”

Nos cálculos da UNICA, a bioeletricidade sucroenergética para a rede tem potencial para crescer mais de 50% até 2027.

Significa que sairá de 21,5 mil GWh em 2018 para 33,2 mil GWh.

Números a cogeração no Brasil

A cogeração no Brasil conta com 18,5 GW de capacidade instalada em operação comercial.

Esse montante equivale a uma capacidade 30% superior à da usina hidrelétrica de Itaipu Binacional (14 GW).

Do total de 18,5 GW, 62% corresponde à capacidade das usinas que geram energia a partir da biomassa da cana-de-açúcar.

Já a cogeração com gás natural representa 17%, enquanto o licor negro totaliza 14%.

As usinas movidas a biomassa correspondem a 15GW de capacidade instalada, das quais 77% correspondem a bagaço e cana, 18% de licor negro, 5% de resíduos de madeira e 5% de outras fontes.

No ano de 2018, as usinas de biomassa entregaram 51,3 TWh para o Sistema Interligado Nacional (SN).

Setor sucroenergético

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), das 369 usinas de cana catalogadas pela EPE em operação em 2018, 200 comercializaram eletricidade (54%).

Um total de 169 usinas produziram apenas para o autoconsumo (46%).

Das que exportam energia para o SIN, parte atua exclusivamente no ACL (60% ou 120 usinas) ou no ACR (20% ou 40 usinas).

Já o restante (20% ou 40 usinas) vende em ambos os ambientes de contratação.

Em 2018, 82% da bioeletricidade que foi fornecida ao Sistema Interligado Nacional (SIN) vieram do setor sucroenergético.

Em 2018, a bioeletricidade ofertada para a rede, pelo setor sucroenergético, foi 21,5 mil GWh.

Trata-se de uma geração equivalente a abastecer de energia elétrica 11,4 milhões de residências ao longo do ano.

E que evitou a emissão de 6,4 milhões de tCO2, marca conseguida apenas com o cultivo de 45 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos.