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Energia e sustentabilidade

Energia é essencial para o desenvolvimento. Cada brasileiro consome em média 1,5 tonelada equivalente de petróleo por ano quando se consideram todas as formas de energia, inclusive eletricidade. Seria desejável que este consumo dobrasse nos próximos 20 anos, o que nos colocaria no nível de consumo de nações industrializadas como Itália, Espanha e Portugal.

Nossa situação no que se refere ao suprimento de energia, hoje, é confortável: produzimos praticamente todo o petróleo que consumimos e a eletricidade é quase toda gerada em usinas hidroelétricas. Além disso, etanol produzido com cana-de-açúcar e a eletricidade gerada com bagaço complementam o que necessitamos.

Petróleo é um combustível fóssil e não vai durar para sempre (mesmo considerando o que se espera do pré-sal), mas energia hidroelétrica e etanol de cana são energias renováveis que no fundo se originam do sol. Enquanto o sol brilhar elas estarão conosco.

Cerca de 47% da energia que se usa no Brasil é renovável, índice este que só é superado pela Suécia. Estamos, portanto, no bom caminho de contar com uma matriz energética sustentável, isto é, que vai durar.

O problema é conseguir manter esta matriz renovável durante muito tempo, porque o consumo certamente vai aumentar. Por exemplo, se começarmos a gerar eletricidade com carvão ou gás natural a contribuição das energias renováveis vai diminuir. Este é o desfio que enfrentamos hoje.

A rigor não deveria haver problema em expandir a produção de eletricidade em usinas hidroelétricas na Amazônia, mas erros que foram cometidos no passado na construção destas usinas geraram a oposição dos ambientalistas.

É por essa razão que existem controvérsias sobre a construção de Belo Monte. Um grande esforço deveria ser feito para identificar locais para a construção de hidroelétricas em que os problemas ambientais e sociais sejam reduzidos e há amplas possibilidades para tal.

Além disso, outras fontes de energia elétrica estão se viabilizando graças ao desenvolvimento tecnológico. O principal é a energia dos ventos da qual a Região Norte do País é bem dotada. Energia dos ventos é hoje uma das direções em que a matriz energética deve se mover.

Nos planos da Empresa de Planejamento Energético, a energia eólica deverá atingir dez mil megawatts até 2020, o que é um aumento considerável em relação ao que é usado hoje. Junto com a expansão do programa de etanol de cana-de-açúcar no Sudeste poderemos manter a matriz energética brasileira renovável no nível atual de quase 50%.

Estimulando também o uso mais racional de energia estaremos, assim, crescendo e nos desenvolvendo de uma maneira sustentável e não predatória como ocorre hoje nos países industrializados.

José Goldemberg

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Professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro de Ciência e Tecnologia