A crescente internacionalização e concentração do setor sucroalcooleiro preocupa o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues. “Vejo o processo com preocupação, mas, por outro lado, com naturalidade, pois no mundo todo e em todos os setores da economia há concentração e internacionalização dos processos produtivos”, disse Rodrigues. “O importante é que a coluna dorsal da cadeia sucroalcooleira, que são os plantadores de cana-de-açúcar, seja preservada”, acrescentou o ministro, que é produtor de cana no município de Guariba, no interior paulista.
Rodrigues encerrou ontem, em Ribeirão Preto, a 25ª reunião do conselho da Associação Mundial dos Produtores de Cana e Beterraba (cuja sigla em inglês é WABCG). O encontro, pela primeira vez realizado no Brasil, reuniu representantes de 17 países.
Para Manoel Ortolan, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), organizadora do evento, o proces-so de internacionalização e concentração do setor “ocorre rapidamente e traz no bojo a exclusão social”. “Hoje, em São Paulo, os fornecedores representam 25% da cana processada, mas este percentual pode cair rapidamente para 10%, 5% ou até desaparecer”, disse.
Segundo Ortolan, para manter a participação, os fornecedores têm de acompanhar o movimento das usinas, que realizam novos investimentos sobretudo no oeste de SP e no Centro-Oeste.
Ortolan disse que a Orplana (fornecedores) discute com a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo Unica, que representa os usineiros) um novo patamar de preços para a matéria-prima. “Não é possível um lado (as usinas) ir tão bem e outro (os fornecedores de cana) não. Temos uma batalha muito dura pela frente”, disse Ortolan, que quer atualizar os parâmetros que compõem o Consecana, índice que determina os preços da cana.
De todo modo, para o ministro Rodrigues, “o cenário do setor é positivo e otimista”. Ele disse aos membros da WABCG que “o petróleo dá sinais de que pode passar de US$ 100 o barril, e isto significa que estamos saindo da ‘civilização do petróleo’ para uma outra civilização”.
“O mundo todo discute este assunto e tem demonstrado interesse crescente no etanol e no biodiesel como substitutos ou combustíveis complementares ao petróleo, o que me leva a crer que a agroenergia é o novo paradigma da agricultura”, afirmou. Segundo Rodrigues, antes de o planeta usar células de combustível e hidrogênio como fonte de energia, terá de usar etanol e biodiesel.
“A expectativa de aumento de consumo de energia é óbvia e fantástica. Muitos produtores de beterraba passarão a fazer álcool, abrindo espaço para o açúcar brasileiro”, acrescentou o ministro, que acredita que em dez anos, a produção brasileira de cana-de-açúcar deverá saltar 50%, de 400 milhões para 600 milhões de toneladas anuais de cana.