Um terço dos governadores do Brasil foi a Nova York, no feriadão de 1º de Maio. Não estavam a passeio: foram trabalhar, tentar ganhar dinheiro. Participaram dos encontros do Fórum de Desenvolvimento Sustentável, promovido pela ONG “Associação das Nações Unidas-Brasil” com apoio do Council of Americas e do banco de investimentos Brasilinvest, do empresário Mário Garnero. Dois ex-presidentes dos Estados Unidos (George H. Bush e Bill Clinton), um ex-presidente brasileiro (José Sarney) e empresários multinacionais embarcaram também na empreitada. O carismático Clinton defendeu a ampliação do Conselho de Segurança da ONU, com um assento permanente para o Brasil. Causou frisson na platéia.
Como sempre acontece em eventos desse porte, os contatos e os discursos resultaram em boas e más notícias. Da primeira parcela, surgiram embriões de novos negócios na área da agroenergia. O etanol manteve o status de queridinho da imprensa e dos investidores, que vêem o produto como panacéia contra o aquecimento global e a dependência de petróleo. Na parte ruim, ficaram as evidências de que os americanos ainda não perceberam a importância dos programas para o desenvolvimento sustentável de nações emergentes, principalmente aqueles já criados pelos brasileiros. “Os políticos e o público americano em geral falam muito em falta de petróleo, mas não se ouve a mesma comoção com a futura escassez de água e oxigênio no planeta”, disse o desapontado Francis Albert Liles, da empresa americana EcoInvest.
Do setor oficial, veio uma boa notícia: o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) comprometeu-se a desembolsar empréstimos de US$ 3 bilhões para o setor de produção de etanol. A idéia é estimular a criação de empregos e diminuir a dependência do petróleo. A maior parte desta soma deverá ser destinada ao Brasil. “O Brasil tem de ser o maior ator na economia da bioenergia”, diz Garnero. O ex-presidente Clinton citou o País como exemplo de nação que apresenta alternativas viáveis ao desenvolvimento sustentável, com programas bem-sucedidos em diversas áreas, do combustível alternativo (etanol, biodiesel) à educação (Bolsa-Escola) e à saúde (medicamentos contra a Aids). Salvar o mundo não é mais uma utopia, afirmou. “Sabemos como fazê-lo.”
O governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), aproveitou a onda ecológica em Manhattan e prometeu transformar seus domínios no primeiro Estado “carbon free” do Brasil, com a anulação das emissões de carbono na atmosfera em 90 dias. Como? Reduzindo o desflorestamento, entre outras medidas. “O governo não pode fazer toda a conservação sozinho. Nós estamos fazendo a nossa parte, agora está mais do que na hora de os investidores privados fazerem a deles”, disse Braga a ISTOÉ.
No debate sobre a responsabilidade de cada um nas mudanças climáticas, o ex-presidente George H. Bush disse que “ainda não se tem certeza sobre se há mesmo o aquecimento atmosférico e quais são os causadores”. Assim, fez eco à política atual de seu país, não-signatário do Protocolo de Kyoto. “A China e a Índia vão ultrapassar os Estados Unidos nas emissões de carbono na atmosfera e é preciso que eles tratem deste problema”, disse. Esqueceu-se, convenientemente, que a nação que dirigiu ainda é a campeã das emissões e a poluição das chaminés e dos automóveis indianos e chineses são conseqüência direta dos incentivos comerciais dos Estados Unidos e do consumismo de seus cidadãos.