Mercado

Empresas revisam contratos para cortar custos

As empresas que mais sofreram com a crise já encerraram o período de demissões em massa decorrente da queda brusca de produção e exportações. Esta ferramenta de ajuste rápido de custos foi a mais utilizada pelas companhias nos últimos 12 meses. O corte de pessoal deverá permanecer na lista de medidas a serem adotadas pelas companhias ao longo deste ano, aliado a alterações em logística e distribuição, troca de fornecedores, renegociação de contratos de insumos e matérias primas e reengenharia de produtos e processos.

A perda de ritmo de atividade industrial deverá colocar os fornecedores das empresas sobre pressão. “Um fabricante de absorventes higiênicos ou fraldas que vinha utilizando 100% da capacidade, com uma queda de volume, pode dedicar parte de sua linha para testar insumos mais baratos”, afirma Fernando Martins, gerente da consultoria Bain & Company que realizou pesquisa junto a 30 executivos em janeiro e fevereiro deste ano para avaliar as prioridades de empresas de serviços financeiros, papel e celulose, transporte aéreo, logística, mídia, agroindústria, varejo, petroquímica e telecomunicações, entre outros segmentos.

“O mercado é a espada na cabeça de todo mundo”, afirma o economista André Rebelo, do departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Quando o mercado está tomador se repassa tudo para o preço. Quando ele está apertado, as empresas vão atrás do que dá para cortar”, assinala.

Para Rebelo, “o grande ajuste de pessoal na indústria já foi feito”. Uma redução maior no contingente de mão-de-obra só poderá ocorrer se houver algum fato novo que provoque uma nova onda de demissões. O comportamento da demanda será determinante para definir se haverá redução no número de trabalhadores. O economista da Fiesp cita o caso da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), que se adequou a uma queda nas encomendas de aeronaves. “Para fazer menos aviões por ano ela precisou adequar o pessoal à demanda”, afirmou.

De acordo com a pesquisa da Bain & Company, a intervenção sobre custos terá como motores principais as renegociações de contratos, essencial para 77% dos entrevistados, ajuste seletivo de mão-de-obra é prioridade para 63%, e corte de investimentos para 57% dos executivos. A troca de fornecedores está nos planos de 57% das empresas consultadas. A reengenharia de processos será fundamental para 47%. Perderam espaço a centralização de instalações fabris (30%) e a terceirização (10%).

Martins assinala que a retração nos preços das commodities permeia toda a cadeia de produção e as empresas conhecem a estrutura de custos dos insumos que adquire. Com base nestes dados, as equipes de compras podem negociar uma redução de preços. “Uma empresa do setor de celulose sabe quanto custa fabricar a soda cáustica que ela compra”, afirma Martins. A revisão de contratos pode trazer resultados neste período de desaceleração, reforça Rebelo. “É possível que a renegociação se converta em custos menores. O mundo de hoje é muito diferente de seis meses atrás, afirma o economista da Fiesp.

Terceirização em baixa

O processo de terceirização que foi muito intenso no passado durante fases de forte retração econômica perdeu terreno. Os executivos desconfiam dos resultados, assinala Martins.

A escolha de um parceiro que assuma uma área ou atividade requer a reavaliação constante dos contratos e qualidade dos serviços. O gerenciamento destas empresas, em muitos casos, acabou delegado a departamentos que ficaram sobrecarregados, sem condição de acompanhar o desempenho e corrigir desvios de rota.

Para um período mais longo, de 12 meses, as prioridades mudam. As áreas de distribuição, logística, o gerenciamento de custos de produção e de administração passam a compor as classes de custos que receberão maior atenção das empresas. O transporte rodoviário ainda é considerado o meio mais eficiente e rápido. O desaquecimento da demanda permite que a rapidez dos caminhões possa ser trocada por uma economia que varia de 25% a 5% com o uso de ferrovias ou transporte marítimo de cabotagem, que cobre uma área costeira que vai do porto de Manaus (AM) a Buenos Aires, na Argentina.

Segundo Martins, várias companhias de cabotagem estão desenvolvendo projetos nesta área. O processo de substituição do caminhão leva meses e os embarques aumentam a medida que os testes forem bem sucedidos. Se o desempenho atender as expectativas, os volumes e o período de uso da via marítima aumentam. O deslocamento de conteineres por trem também deve crescer.

A logística é um componente relevante para vários setores produtivos, segundo Rebelo. “A indústria gasta, em média, 15% do seu faturamento em logística. Na hora que está comprimindo custos, tem de ir para cima disso”.

O perfil de investimentos muda com a desaceleração da economia. Na avaliação de Martins, há empresas que ficaram com o caixa baixo e encontram dificuldades em aproveitar as oportunidades do mercado. “Há ativos disponíveis”, assinala Martins. Este quadro é mais evidente no setor sucroalcooleiro que conta com muitas usinas à venda.

Rebelo acrescenta que, no ano passado, o forte do investimento se concentrava no aumento da produção. Este ano, o investimento está voltado a melhoria do produto. “A melhoria do produto está direcionada à diferenciação para enfrentar a baixa do mercado. A crise muda a finalidade do investimento. Com o mercado encolhido se investe para abrir nichos de mercado e melhorar preços”, afirma.