Mercado

Empresários esperam que as exportações dobrem

Com o desenvolvimento do mercado externo de álcool, a expectativa dos grandes usineiros é de que as exportações brasileiras do produto praticamente dobrem nos próximos seis anos. Os embarques de álcool deverão alcançar 7 bilhões de litros em 2012/2013 e as exportações de açúcar também crescerão – uma vez que aumentará muito a área plantada de cana – devendo chegar a 26,8 milhões de hectares no mesmo período.

Para a safra 2006/2007, que se encerra em abril, a expectativa da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), é de que as exportações brasileiras de açúcar cheguem a 19,7 milhões de toneladas e as de álcool, a 3,1 bilhões de litros. “Entre os mercados mais promissores estão os países que têm um programa de mistura de etanol na gasolina, como aconteceu nestes últimos dois anos com os Estados Unidos e a Índia”, diz Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica.

A produção de cana na atual safra está prevista para 425,6 milhões de toneladas (ante 386,6 milhões de toneladas na safra 2005/2006). Pelos cálculos de Rodrigues, a falta de chuva em grande parte de área canavieira do Centro-Sul, de abril a setembro deste ano, afetará a produtividade agrícola das canas plantadas em fevereiro/maio e das canas colhidas no início da safra. “Em compensação, haverá um incremento significativo na área a ser colhida, o que significará maior oferta de cana com conseqüente aumento na produção de açúcar e de álcool.”

Nunca uma tecnologia nacional despertou tanta cobiça do exterior quanto a do combustível renovável derivado da cana. Não é por acaso que empreendedores como Bill Gates, da Microsoft, assim como os “enfants terribles” Larry Page e Sergei Brin, do Google, também alimentam planos de investir em etanol no Brasil.

Além disso, lembra Rodrigues, alguns países europeus, como a Suécia, têm demandado cada vez mais álcool brasileiro. “A conscientização aumenta à medida que as catástrofes naturais acontecem e novos estudos mostram a ligação entre o aquecimento global e a mudança do clima. Ela já é bastante forte na Europa, mas tem muito a avançar ainda nos Estados Unidos e no Brasil. Aqui, a escolha do combustível é mais ligada a preço – o que representa uma vantagem para o álcool combustível na maior parte do ano.”

Num cenário de pesados investimentos na construção de novas usinas, poderia parecer que as exportações iriam “explodir” e não só dobrar em seis anos. Mas Guilherme Almeida Prado, gerente de relações com o investidor do Grupo Cosan, lembra que a expectativa é de que a demanda do mercado doméstico de álcool aumente muito também. “O aumento previsto para 25% da mistura de álcool na gasolina vai colaborar para isso, mas o fator primordial para o crescimento da demanda é a expansão da venda de veículos bicombustíveis, aliada ao diferencial favorável do preço do álcool em relação à gasolina atualmente.”

Na safra 2006/2007, a produção de álcool está prevista para 17,4 bilhões de litros, ante os 15,9 bilhões de 2005/2006. Segundo Padua Rodrigues, o aumento da mistura de álcool à gasolina se deve justamente à resposta que o setor produtivo deu com o incremento da produção de álcool nesta safra, de 1,5 bilhão de litros, e com a redução de demanda de álcool anidro obtida em março e novembro em mais de 800 milhões de litros de álcool. “A questão do abastecimento do álcool está bem equacionada neste fim de safra”, assegura. “Os investimentos em novas unidades e na ampliação das existentes sinalizam uma oferta tranqüila para os próximos seis anos.”

De fato, tudo leva a crer que a produção brasileira está crescendo o suficiente para atender à demanda prevista de açúcar e álcool nos mercados interno e externo. A Unica, que monitora com lupa a evolução do setor, trabalha com a expectativa de que 16 das 50 novas usinas de açúcar e álcool em obras entrem em operação em 2007. As 34 restantes devem estrear em 2008. Se outras 27 unidades, cujos projetos já foram anunciados, saírem do papel, deverão ser inauguradas a partir de 2012.

E não é só no Centro-Sul que os projetos do setor canavieiro florescem, mas também no Centro-Oeste. Em Mato Grosso do Sul, há nove projetos em andamento. Em Goiás, o plantio poderá dobrar nos próximos anos, com 12 projetos já em andamento.

Como o Valor já informou, a instalação de usinas sucroalcooleiras nesse Estado trouxe ânimo novo aos produtores e começa a provocar uma corrida por terras na região. Os sojicultores, endividados pela crise das safras anteriores, reduzem progressivamente a área com a oleaginosa para apostar no plantio de cana, em uma guinada que também reúne produtores de algodão e pecuaristas. (J.G.)