Mercado

Empresa revê planos de exportar

A valorização do real frente ao dólar já está fazendo as empresas reverem seus planos de exportação de 2005. Tanto o aquecimento do mercado interno quanto a menor atratividade em exportar pode pôr em risco a melhora da balança comercial brasileira neste ano e os planos de expansão industrial.

O dólar abaixo de R$ 3 já tirou a rentabilidade das exportações da Azaléia, um dos maiores grupos calçadistas brasileiro. “O dólar hoje é a nossa maior barreira alfandegária. O Brasil está perdendo competitividade rapidamente”, reclamou o diretor de marketing do grupo Azaléia, Paulo Santana, para quem a cotação ideal seria entre R$ 3 e R$ 3,20.

Segundo ele, no ano passado as exportações da empresa subiram 5%, enquanto o mercado interno avançou 25%. “E o crescimento das exportações não nos gerou rentabilidade. Fizemos um sacrifício para manter nossas posições no mercado externo.” A Azaléia tem um faturamento próximo a R$ 1 bilhão e nos últimos anos avançou bastante no mercado externo. Entre 1995 e 2004, as exportações de calçados do Brasil cresceram 45%, enquanto a Azaléia cresceu 170%, exportando hoje 9 milhões de pares para mais de 80 países.

Os asiáticos dominam o setor, com a produção de 10 bilhões de pares. Mas, ao contrário do Brasil, países como a China adotaram uma política contra a valorização de suas moedas frente ao dólar (que desde 2002 perdeu quase 60% do seu valor em relação ao Euro), o que faz com que esses países se tornem ainda mais competitivos. No mais novo lançamento da Azaléia, a linha para pré-adolescentes Funny, 70% devem abastecer o mercado interno e apenas 30% deve seguir para o exterior.

Também revendo planos por conta da valorização do real está a Tecelagem São José, localizada em Jaboatão dos Guararapes. “Nós exportamos 12% da nossa produção e a nossa meta era avançar para 16% em 2005 e 20% em 2006. Mas com essa cotação não vamos alcançar”, disse Oscar Rache, presidente da empresa. A São José exporta hoje 100 mil metros de tecido por mês, ou US$ 2 milhões por ano.

“O câmbio a R$ 2,70 está desestimulando as exportações. Com esse preço não estamos ganhando nada”, reclama. “Exportar não é como vender pipoca, que você pode trocar de esquina. É um investimento de anos, com comprometimento com clientes. A gente mantém os contratos enquanto pode”, diz.

“Os bons números das exportações hoje representam os contratos feitos meses atrás. Se o País perder essas posições, para recuperar vai levar um longo tempo”, adverte Paulo Santana.

DECISÃO – Para o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool (Sindaçúcar), Renato Cunha, 2005 vai ser um ano difícil para se tomar uma decisão estratégica. “O dólar está adverso para o exportador. Quem pensava em expandir a produção para exportar se depara com esse problema.” Segundo ele, as exportações servem para as indústrias do Estado como uma forma de financiamento, porque se pode operar com antecipação cambial. “Somos quase forçados a exportar por falta de financiamento tradicional. Mas o cenário este ano não é bom”, reclama.

Até mesmo a Kabul Synthetics, empresa coreana que na semana passada firmou um protocolo de intenções com o Governo do Estado para implantar uma fábrica de tecidos de US$ 45 milhões em Suape, pode ser prejudicada pelo câmbio. “Nosso plano é exportar metade do que for produzido em Pernambuco. Mas se a valorização continuar, vamos ter que rever essa meta”, disse o presidente da Kabul, Hyo Sang Pak.

Para o economista Célio Fernando Bezerra Melo, integrante do Conselho Federal de Economia, o mais difícil do processo exportador é conseguir a distribuição no exterior e formar uma marca, por isso é tão difícil trocar o mercado interno pelo externo. “Além disso, se o produtor brasileiro redirecionar os produtos para o mercado interno, a tendência é que o preço caia, resultando em outra perda.” Para ele, o câmbio será pressionado para chegar entre R$ 3 e R$ 3,15 até o final do ano. “O Governo quer chegar a US$ 108 bilhões de exportações em 2005 e eu acredito que essa disposição continua.”