“O hidrogênio já é o combustível do presente”, afirma Gerhard Ett, diretor da microempresa Electrocell, residente do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec/USP), em São Paulo (SP). A Electrocell lançou o primeiro gerador brasileiro diferenciado, com tecnologia 100% nacional, no ano passado.
A empresa é especializada em desenvolver e produzir sistemas e periféricos associados à tecnologia de células geradoras de eletricidade, que utilizam hidrogênio como combustível. A potência da célula a combustível brasileira é de 50 KW, o suficiente para abastecer 350 geladeiras simultaneamente. Ela é considerada a mais potente da América Latina.
Doze mestres e doutores em várias especialidades da Engenharia compõem a equipe da Electrocell. Em 2004, ela recebeu o Prêmio Nacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI) na modalidade Ecologia. Graças a essa microempresa incubada, o Brasil está bem na corrida mundial por novos combustíveis e energias renováveis.
Energia
O hidrogênio é o elemento mais abundante no universo (75%). É também o terceiro elemento mais presente na Terra. Incolor e inodoro, era considerado o combustível do futuro, até pouco tempo atrás. Um quilo de hidrogênio possui aproximadamente a mesma energia que 3,5 litros de petróleo ou 2,1 quilos de gás natural ou 2,8 quilos de gasolina.
A energia gerada pela célula a combustível é resultado da conversão da energia química diretamente em energia elétrica. Essa conversão, segundo Gerhard, é feita a partir da alimentação constante de hidrogênio, retirado de matérias-primas que possuem biomassa, como a cana-de-açúcar. Foi da cana-de-açúcar que foi retirado o hidrogênio que move a célula geradora de energia elétrica da Electrocell, esclarece o pesquisador e empresário.
“Conseguimos fazer a célula a combustível com alto grau de inovação tecnológica, tanto em termos nacionais como internacionais”, comemora. A empresa já solicitou a patente do produto. “Essa tecnologia é nossa, do Brasil”, argumenta.
Hoje a busca da inovação está em extrair hidrogênio de outras fontes. “O grande gargalo é ter hidrogênio disponível. E reformar a biomassa e transformá-la em hidrogênio utilizável”, esclarece Gerhard.
Segundo ele, a energia da célula a combustível é muito confiável e de excelente qualidade, características fundamentais aos sistemas mais complexos de diversas indústrias e serviços, como também na transmissão de dados. “Para esses setores, a energia não pode falhar durante temporais e nem por uma fração de segundo”, ressalta.
“A nossa célula já tem tamanho para ser colocada num automóvel, mas queremos compactá-la ainda mais”, diz o empresário e pesquisador. Ela é considerada a célula a combustível com maior potência em funcionamento na América Latina e está pronta para ser utilizada em hospitais, metrôs, sistemas de telefonia celular e de transmissão de dados, entre outras aplicações que dependem do fornecimento ininterrupto de energia elétrica.
Em busca de capital
No momento, a Electrocell está saindo da fase de protótipo e entrando na etapa pré-comercial. O diretor da empresa diz que está buscando capital para alavancar a produção de células a combustível. O plano de investimento já está pronto. “Está faltando demanda para concretizarmos a experiência brasileira do carro a hidrogênio”, lamenta.
Ele revela que dois grupos empresariais, chinês e norte-americano, já estão de olho nas realizações da Electrocell. A equipe da microempresa incubada recebeu propostas para trabalhar nesses países, mas seus integrantes preferem continuar no Brasil.
As bancadas de teste para célula a combustível, produzidas pela Electrocell, são o segundo produto que desperta interesse internacional. Elas são as mais compactas do mundo e custam 50% a menos do que as fabricadas em outros países.
Segundo o diretor da Electrocell, a empresa está aguardando a certificação para exportar esse produto. Pessoas fora do Brasil estão sendo contatadas para comercializar as bancadas de teste das células a combustível brasileiras.
A contribuição do Sebrae
“Se não fosse a incubadora, os sócios não teriam se conhecido”, diz Gerhard. “A Electrocell está aqui devido ao Sebrae”, afirma Sérgio Risola, gerente da Incubadora do Cietec. Ele conta que, entre 1998 e 2003, a instituição foi responsável pelo custeio total dos 27 consultores e do espaço de 6,5 mil m² ocupados pela incubadora do Cietec. Atualmente, o Sebrae arca com 65% dos recursos necessários para o seu fomento.
“Os cursos do Sebrae são muito bons. Eles nos dão visão de mercado, marketing, negócios e gestão”, afirma Gerhard. Como engenheiro e pesquisador, confessa que tinha conhecimento teórico a respeito de gestão administrativa e financeira, mas não em termos práticos. O diretor da Electrocell declara que os cursos do Sebrae o ajudaram muito na constituição da empresa.
Corrida mundial
A corrida mundial em busca de novos combustíveis é liderada por grandes grupos internacionais e institutos de pesquisa dos países mais ricos. Nos próximos cinco anos, o hidrogênio deverá ser comercializado como combustível para automóveis, prevê Sérgio Risola, gerente da incubadora do Cietec. Dentro de 20 anos, essa tecnologia estará totalmente desenvolvida, segundo Risola.
A energia renovável baseada no hidrogênio não gera poluição atmosférica e ruídos e tem baixo custo de manutenção, ao contrário do que ocorre com os motores a gasolina e diesel. “O petróleo é uma matéria-prima muito nobre para ser queimada. Temos de ser mais racionais no seu uso”, argumenta o diretor da Electrocell.
O grande desafio, hoje, é a armazenagem do hidrogênio. As grandes montadoras de automóveis já estão investindo em reformadores de gás natural e etanol em hidrogênio. Nos postos de gás na Europa, esses reformadores possibilitam a conversão em hidrogênio, feita por meio de cilindros de alta pressão.
“Em 10 anos, a frota brasileira de carros a hidrogênio vai começar a ser formada”, diz Risola. No próximo ano, avisa, um ônibus a hidrogênio (ou a célula a combustível) começará a circular na cidade de São Paulo.
Devido às pesquisas e produtos da Electrocell, o Brasil está em pé de igualdade aos estudos e desenvolvimento de componentes e equipamentos capazes de produzir energia elétrica a partir do hidrogênio, diz o gerente da incubadora do Cietec. “A área pública precisa apostar e acreditar em empresas como a Electrocell, antes que a economia privada encampe seus excelentes resultados”, alerta Risola. Ou que grupos empresariais internacionais levem a equipe dessa microempresa e seus produtos para fora do Brasil, complementa o gerente.