Nem sempre permanecer nas capitais é garantia de vaga de emprego e salário bom. O mercado competitivo e já saturado em muitas áreas tem levado os profissionais a buscar caminhos fora dos grandes centros.
“Existe uma tendência hoje em dia – ou pelo menos uma resistência menor – de você se deslocar para outros centros menores para trabalhar e viver”, afirma Joaquim Guilhoto, professor de Economia da USP.
A falta de experiência de quem está ingressando na carreira é uma reclamação constante de quem contrata – e isso dá pra adquirir com mais tranqüilidade em cidades onde a concorrência é menor. “Para o jovem, é uma oportunidade ímpar, porque você vivencia novas idéias, novas experiências, amadurece. A partir daí, ele tem condição de arrumar uma colocação melhor”, concorda Guilhoto.
Na maioria dos casos os salários são menores, mas o custo de vida também é mais baixo. Também há casos em que o salário é bem alto, principalmente em lugares um pouco mais afastados.
O professor Marcelo Donizete Chaves saiu de São Paulo para trabalhar numa universidade de Imperatriz, cidade com 250 mil habitantes no interior do Maranhão – e ganhando mais. Marcelo fez doutorado em odontologia em São Paulo, mudou-se há seis meses e agora coordena um curso.
A vaga de Marcelo surgiu numa das quatro faculdades particulares abertas em Imperatriz nos últimos cinco anos, além das duas públicas que já existiam. Para ele, esse mercado em expansão faz com que os salários cresçam. “Nós temos alguns casos aqui em que você consegue até três vezes mais que nos grandes centros do pais”, conta. Ele também acha que mudar com a família não atrapalha: “A família acaba adquirindo novas culturas, conhecendo coisas novas”.
Mapa do emprego
No Nordeste, o desenvolvimento do turismo cria muitas vagas no setor de serviços: procuram-se garçons, recepcionistas, agentes de viagem e também gente para trabalhar na construção civil.
Em Pernambuco, a instalação de uma refinaria e de um estaleiro também deve trazer oportunidades na construção civil, além da metalurgia e da engenharia naval.
Na Bahia, há chances na expansão do pólo petroquímico de Camaçari e na produção de automóveis.
No interior de São Paulo, é a cana-de-açúcar que movimenta a economia e atrai profissionais de diversas áreas. O aumento do interesse pelo álcool combustível no mundo inteiro fez crescer ainda mais as oportunidades.
A necessidade de construir usinas para processar a cana transformou a cidade de Sertãozinho num pólo de excelência da metalurgia Tem tanta gente indo para a cidade que a espera para alugar uma casa ou um apartamento pode chegar a quatro meses.
O caldeireiro Joabson do Nascimento tomou uma decisão: trocou o Recife pelo interior de São Paulo. “Foi pela oportunidade de trabalho que tem aqui, devido a minha área de atuação”, ele diz. “O salário aqui tem uma diferença de praticamente 100%. É bem melhor!”.
No Centro-Oeste, por causa da implantação de um pólo animal, há vagas para quem quer trabalhar na criação de aves e suínos e também pra quem quer dar suporte na construção civil. Engenheiros e técnicos em eletrônica também podem encontrar uma oportunidade.
Em Goiás, a vaga pode estar na indústria automobilística. No Paraná, quem quer trabalhar com madeira, papel e celulose também terá boas chances. Em Santa Catarina, a dica é a área da cerâmica, que é muito forte.
“Os grandes centros estão cada vez piores para viver, em termos de trânsito, segurança. Acho que uma cidade menor é muito bem-vinda”, diz o professor Joaquim Guilhoto.
Mudar de cidade ou de estado é uma decisão que deve ser muito bem pensada, mas talvez o investimento valha a pena. Além de experiência de trabalho, é uma oportunidade de adquirir experiência de vida – o que pode ajudar muito se um dia quiser voltar para as grandes cidades.