Mercado

Emprego no campo esbarra em falta de qualificação

À medida que aumentam as contratações no campo, impulsionadas pelo avanço do setor, a disponibilidade de mão de obra qualificada torna-se um problema crescente para os empregadores.

Especialistas avaliam que a capacitação profissional é urgente: “O déficit de trabalhadores capacitados gera perdas para o produtor rural, e irá se agravar”, afirma um deles.

Com o processo de mecanização das lavouras, os trabalhadores “de facão” passaram a migrar, deixando lacunas na operação de máquinas, segundo análises.

“Em Mato Grosso, existe uma competição pelo empregado rural, que ganha, em média, de 15% a 20% mais do que os de outros setores”, afirma o gerente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), Marciel Becker.

Embora promova 3,5 mil treinamentos (600 dos quais na área mecânica) por ano, atendendo a cerca de 50 mil trabalhadores, o Senar mato-grossense já tem demanda para mais de 4.500.

“Há uma deficiência histórica na mecanização rural. O agricultor compra uma máquina de R$ 1 milhão e não aproveita seu potencial – trata a Ferrari como se fosse um fusca”, ilustra Becker.

Em 2011, o parque de máquinas e equipamentos agrícolas do Mato Grosso cresceu 47%. Cerca de 4,3 mil tratores e colheitadeiras foram adquiridos, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

“Falta disponibilidade de trabalhadores para operar a frota”, diz a analista de Conjuntura Econômica do Imea, Gemelli Lira.

O instituto observa que o nível de emprego rural tem crescido acima da média geral nos últimos anos (uma relação de 10% contra 5%, aproximadamente).

Movida por 713 mil empregos formais (28% destes no campo), aos quais devem se acrescentar mais 33 mil neste ano, a massa salarial do Mato Grosso deve ter incremento de R$ 500 milhões até o fim de 2012.

Mercado paulista

Em São Paulo, produtores de laranja e de cana-de-açúcar enfrentam resistências para negociar salários ou até mesmo arranjar ou manter empregos, de acordo com representantes da base produtiva. Sem contratações, os citricultores da cidade de Itapuí – onde mais se produzem citros- estão dependendo de cestas básicas e ajuda de custo para voltar a sua terra natal, geralmente na Região Nordeste do País.

A situação é relatada pelo presidente do Sindicato Rural de Ibitinga e Tabatinga, o citricultor Frauzo Ruiz Sanches. “A colheita industrial cortou empregos. Está todo mundo apavorado”, ele diz.

Por conta disso, a discussão salarial a respeito da safra atual passou para segundo plano, de acordo com o representante.

“Na cana, a mecanização [também] dispensa funcionários. Mas falta qualificação profissional para operar as máquinas”, acrescenta o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo (Fetaesp), Braz Albertini.

O representante diz que as negociações salariais, no estado, são feitas localmente e giram em torno de R$ 750 a R$ 780 – alta de 8% a 10%. “Não está fácil negociar com o pessoal. As usinas estão em situação complicada, com pedidos de recuperação judicial”, diz.

O sócio-diretor da consultoria FBM, Sílvio Ferreira, responsável pela operação da empresa em Ribeirão Preto – onde melhor se remuneram os cortadores de cana -, atesta: “Via de regra, as usinas têm trabalhado com alto grau de endividamento”.

A FBM trabalha junto a onze usinas sucroalcooleiras e propõe a reestruturação administrativa e contábil dessas companhias. O “ponto fraco” do negócio, segundo Ferreira, é o perfil de gestão familiar e centralizado.

“Dentro de uma estrutura de liderança, a diretoria pode ser profissionalizada com a distribuição de papéis”, sugere o especialista.

Ou seja, empregadores devem descentralizar decisões e utilizar ferramentas modernas de gestão. “Decisões pessoais têm visão limitada”, diz Ferreira. “Mas a mentalidade vem mudando.”