Melhores salários, condições de trabalho adequadas e investimentos em capacitação profissional. Essas são as três principais reivindicações do trabalhador rural brasileiro, no seu dia (25 de maio).
Na região de Araçatuba, o contigente de trabalhadores rurais chega a 12,3 mil pessoas durante a safra da cana-de-açúcar, cultura que mais emprega esse tipo de profissional.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araçatuba e Região, que abrange 16 municípios, contabiliza 12.300 trabalhadores, sendo 4.100 do setor canavieiro, 3.100 pequenos produtores rurais e 4.600 de culturas diversificadas, que inclui o cultivo de milho, de soja, de tomate, hortas, pecuária, granja, entre outras atividades agrícolas.
A safra da cana-de-açúcar é o período do ano em que ocorre o maior número de contratações de trabalhadores na região. São contratações sazonais. Os trabalhadores empregados são migrantes, pessoas oriundas de estados como Bahia, Alagoas e Minas Gerais, que buscam uma oportunidade de trabalho fixo. “Mesmo que as usinas não busquem os trabalhadores em outros estados, eles vêm de fora”, afirmou Marco Aparecido Guilherme Moura, advogado do sindicato.
Segundo Moura, a principal reivindicação da categoria continua sendo por melhores salários. Nos últimos anos, as negociações têm conseguido valores em torno do índice da inflação, motivo de comemoração.
No ano passado o reajuste foi de 5,6% para o setor da cana, cuja data-base é em 1º de maio, e o piso salarial de R$ 385. Já os trabalhadores das culturas diversificadas ganham R$ 330, mais adicional de 20% para tratorista e motorista rural. O reajuste de 2004 foi de 7,5% e a data-base é em setembro. “É preciso negociar bastante para que o reajuste chegue ao índice da inflação”, disse.
O advogado diz ainda que a maior parte das reclamações é sobre a má conservação de veículos que fazem o transporte dos trabalhadores rurais. Em contrapartida, os empregadores têm cumprido a legislação com rigor e boa fé, segundo ele. “O que se busca é a capacitação dos trabalhadores, o que acontece hoje mais com quem atua na área mecânica.”
Segundo Moura, o investimento pelo governo em profissionalização é pequeno e o sindicato não tem condições de oferecer mais aprimoramento em função da falta de recursos, mas ainda assim já foram realizados cursos sobre derivados de leite, artesanato em bambu e administração rural.
Moura diz que não houve conquistas para a categoria nos últimos anos. Ao contrário, retrocessos, na opinião do advogado do sindicato. Segundo ele, a emenda constitucional número 28 alterou a letra B do inciso XXIX, artigo 7º, e igualou o prazo para a reclamação trabalhista do trabalhador rural com a do urbano em cinco anos. Depois desse período, prescreve o direito de reclamação trabalhista enquanto estiver vigorar o contrato. Se houve recisão do contrato, o prazo de prescrição é de dois anos. “Antes, se ele trabalhasse 30 anos em uma mesma propriedade poderia reclamar seus direitos em qualquer tempo. Hoje tem apenas cinco anos para fazer isso”, explicou.
Vindo da Bahia, cortador de cana comemora o fato de estar empregado
O que move uma pessoa a sair da Bahia e vir para Araçatuba trabalhar com o corte da cana-de-açúcar? A possibilidade de ter um emprego fixo e uma remuneração garantida durante pelo menos oito meses do ano.
É o caso do trabalhador rural Edson Barbosa Pereira, 21 anos, que veio de Macaúba (BA) para trabalhar durante a safra aqui. “Lá a gente não tem serviço”, diz. Para driblar a solidão, Pereira veio acompanhado da mulher.
O trabalho é pesado e cansativo, mas segundo ele, compensa. Ele levanta às 5h, pega o ônibus às 6h45 e trabalha das 7h às 15h50 em um canavial. Em média corta entre 50 e 70 metros de cana por dia. Na primeira quinzena de trabalho recebeu R$ 530. Descontados os gastos com aluguel, de R$ 70, e com alimentação, pretende guardar o que puder.
Seu sonho? Construir a casa própria em sua cidade natal. Mas, para isso, deve voltar outras vezes para trabalhar durante a safra. E voltar a estudar, se possível, pois parou na 5ª série do ensino fundamental. Motivos para comemorar hoje? Sim: “O fato de estar empregado”, afirmou.
O trabalhador José Macedo dos Santos, 29 anos, também veio de Macaúba. Ao todo são 38 pessoas da mesma cidade. Ele não dispensa a companhia da esposa e de uma das filhas; a outra ficou com a avó na Bahia. “Ficar oito meses sozinho é ruim”, diz.
Apesar do cansaço pelo trabalho duro, Santos diz ser uma pessoa feliz, melhor apenas se pudesse encontrar emprego na cidade em que vive a família. Sua meta é guardar dinheiro para garantir o futuro das filhas. “Se conseguisse um trabalho fixo lá não precisaria vir para cá. Às vezes são 15 dias trabalhando e 15 dias parado”, afirmou.
Cana puxa alta de empregos na indústria do interior de SP
A indústria paulista criou 9.144 postos de trabalho em abril. De acordo com dados do Ciesp (Centro das Indústria do Estado de São Paulo), a variação foi de 0,47% acima do número de março – 7.617 trabalhadores contratados.
Nos quatro primeiros meses do ano, foram preenchidos 32.688 postos de trabalho ante 30.810 em igual período no ano passado.
No mês de abril, a região de Presidente Prudente foi a que mais empregou – crescimento de 2,93% no número de vagas. Em seguida, aparecem Piracicaba, com 2,85%, e Sertãozinho, com 2,81%.
Nas três regiões, os resultados são influenciados fortemente pelo início da safra de açúcar e do álcool. Os setores industriais de maior peso na economia paulista são metalúrgico, produtos alimentares e material de transporte.
A região de Araçatuba ficou em sétimo lugar, com variação positiva de 2,55% no nível de emprego industrial de abril, em relação a março – ocupação de 844 postos de trabalho. Da mesma forma que em Prudente, Piracicaba e Sertãozinho, a indústria canavieira, que está em plena safra, foi a responsável pelo grosso das contratações na região de Araçatuba no mês passado.
“O emprego no primeiro quadrimestre deste ano foi marcado por setores que estão ligados às exportações, ao crédito e à safra da cana de açúcar e álcool”, comenta Boris Tabacof, diretor do departamento de economia do centro.
Os piores resultados ficaram com a região de Rio Claro, que teve redução de 1,11%, Sorocaba (-0,88%) e Cotia (-0,56%).