Mercado

Eles são a elite do agronegócio

EXAME O gaúcho Eduardo Logemann, presidente do grupo SLC, acostumou-se nos últimos anos a cruzar o Brasil de avião, um Raytheon King Air 200, para conferir de perto os negócios em suas fazendas nos cerrados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Maranhão. Essas propriedades, que somam 110 000 hectares cultivados, colocam o SLC entre os maiores produtores brasileiros de soja, milho e algodão, com faturamento de 226 milhões de reais no ano passado apenas em seu braço agrícola. Mesmo quando está em Porto Alegre, onde fica a sede do grupo, Logemann continua atento ao que se passa nas sete fazendas do grupo, localizadas a milhares de quilômetros de distância — basta ligar o computador para visualizar os principais dados gerenciais de cada uma delas, graças a um sistema de informações online que alimenta a matriz e facilita a gestão financeira, a integração das compras e vendas, o controle dos custos e outras tarefas. Sempre que tem alguma dúvida, ele passa a mão ao telefone e inquire um dos gerentes de fazendas, todos eles profissionais com pós-graduação. Contratados com participação nos resultados, nos anos de melhor desempenho esses executivos chegaram a receber até sete salários de bônus. Há pouco mais de um mês, a SLC Agrícola entrou para o seleto grupo de empresas do agronegócio com capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo — captou 426 milhões de reais no Novo Mercado.

Eduardo Logemann

Presidente do grupo SLC

Gaúcho, 55 anos, formado em engenharia mecânica

Onde estão as propriedades

Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás e Maranhão

Negócios

Um dos maiores produtores de soja, algodão e milho do país. Planeja investir também no setor sucroalcooleiro

Faturamento anual

226 milhões de reais

Por que está entre os melhores do Brasil

Suas fazendas são gerenciadas por profissionais com MBA.A produtividade de suas culturas de milho é quase o triplo da média nacional.Vende 70% da produção no mercado futuro

É gente como Logemann, quase um desconhecido fora de sua área de atuação, que vem liderando uma das mais impressionantes transformações econômicas das últimas décadas. Por séculos a fio, o campo brasileiro caracterizou-se por uma agricultura de baixíssima produtividade, que aprisionava a maioria da população a uma situação de quase indigência. Era o velho Brasil. Em anos recentes, um grupo de empresários agrícolas — a elite do agronegócio brasileiro — vem transformando (para muito melhor) o setor e assustando concorrentes mundo afora. Essa elite combina o uso da tecnologia de ponta, o emprego de pessoal com alta capacitação e a gestão profissional dos negócios para explorar as vantagens do país no campo — sol o ano todo, água e terra farta –, tornando-se quase imbatível na competição internacional. O Brasil já é o maior exportador de suco de laranja, açúcar, café e carnes, e em breve deve adicionar uma ampla gama de produtos a essa lista (veja quadro abaixo). As exportações do agronegócio bateram novo recorde no ano passado, superando 49 bilhões de dólares, e geraram 96% do superávit comercial do país. Os especialistas são unânimes em afirmar que esse quadro é apenas o prenúncio do que poderá ser visto nas próximas décadas. “Se o século 20 foi o da agricultura americana, o século 21 será o da agricultura brasileira”, diz o cientista e agrônomo americano Norman Borlaug, considerado a maior autoridade mundial no assunto por ter concebido nos anos 60 a chamada “revolução verde”, técnica de produção que permitiu incorporar enormes áreas do planeta à agricultura e que lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz em 1970.

Jorge Maeda

Presidente do grupo Maeda

Paulista, 53 anos, formado em agronomia

Onde estão as propriedades

São Paulo, Bahia e Goiás

Negócios

Algodão, soja, milho, cana-de-açúcar, óleos vegetais e fiação. Está investindo numa usina de açúcar e álcool

Faturamento anual

260milhões de reais

Por que está entre os melhores do Brasil

Busca desenvolver alianças estratégicas para acelerar o crescimento do grupo. É sócio da Monsanto na produção de sementes e acaba de associar-se ao fundo BrasilAgro para atuar na compra de terras

O cenário promissor para a produção agrícola do país ficou obscurecido nos dois últimos anos por uma crise conjuntural no setor de grãos, que combinou velhos problemas de infra-estrutura com preços em queda e valorização da taxa de câmbio. Com a recuperação das cotações nos mercados externos, o agronegócio brasileiro vive novamente uma boa fase. O investimento direto estrangeiro em atividades de agricultura e pecuária no Brasil atingiu 3,5 bilhões de dólares em 2006, segundo o Banco Central. Na área de grãos, estima-se que a safra atual ultrapasse os 130 milhões de toneladas — será a maior da história. Mais que volume, os produtores esperam ver de volta a rentabilidade nas principais culturas e nutrem expectativas de iniciar um novo e vigoroso ciclo de expansão. Meses atrás, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, alimentou a animação no setor sucroalcooleiro — hoje o mais pujante de todos — ao anunciar que os veículos americanos deverão utilizar 20% de combustíveis renováveis nos próximos dez anos. “Caso isso realmente aconteça, haverá desequilíbrio na produção mundial de grãos e de carnes, e o Brasil poderá tirar imenso proveito”, afirma o consultor José Vicente Ferraz, diretor do Instituto FNP, especializado em agricultura. Os Estados Unidos produzem etanol com milho, que é ingrediente de rações animais. O aumento do consumo americano de etanol, portanto, pode levar a um salto no preço de grãos utilizados na alimentação animal e também no da carne. Outra conseqüência é que o álcool obtido da cana-de-açúcar, produzido no Brasil, deverá ter sua demanda multiplicada. Tudo somado, um relatório da União Européia aponta que o Brasil será o país cuja agricultura terá maior crescimento em produção e exportações até 2020.

Jorge Maeda

Presidente do grupo Maeda

Paulista, 53 anos, formado em agronomia

Onde estão as propriedades

São Paulo, Bahia e Goiás

Negócios

Algodão, soja, milho, cana-de-açúcar, óleos vegetais e fiação. Está investindo numa usina de açúcar e álcool

Faturamento anual

260milhões de reais

Por que está entre os melhores do Brasil

Busca desenvolver alianças estratégicas para acelerar o crescimento do grupo. É sócio da Monsanto na produção de sementes e acaba de associar-se ao fundo BrasilAgro para atuar na compra de terras

As exportações do agronegócio cresceram 140% desde o início da década

(em bilhões de dólares)

2000 20,6

2006 49,4

O Brasil está entre os líderes mundiais em diversos produtos. Veja algumas colocações no ranking

1o lugar Etanol, suco de laranja, café, carne de frango e bovina, açúcar, tabaco

2o lugar Farelo de soja, soja e óleo de soja

3o lugar Carne suína e algodão

Fontes: Icone e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Se confirmado, será o segundo salto qualitativo do agronegócio brasileiro em apenas duas décadas. A primeira fase recente de grande expansão deu-se entre meados dos anos 90 e início do século 21, com ampliação de fronteiras e, principalmente, avanço qualitativo. Graças ao aumento de produtividade das lavouras em 33%, a produção de grãos mais que dobrou, mas a área plantada cresceu apenas 16% nos últimos 20 anos. O desafio no novo ciclo será manter a evolução da produtividade, uma vez que o aumento quantitativo — incorporação de novas fronteiras agrícolas — tende a esbarrar cada vez mais nos limites impostos pela floresta Amazônica. Grande parte do crescimento esperado poderá vir da absorção, por um número maior de produtores, das boas práticas adotadas pela elite do campo. Segundo uma simulação feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), se a tecnologia já disponível fosse usada intensivamente no país, a produção brasileira de grãos poderia alcançar quase 300 milhões de toneladas — mais que o dobro do volume esperado na safra atual. Isso significa que o Brasil pode produzir muito mais, para suprir o mundo com comida e bioenergia, sem devastar a Amazônia e as demais áreas florestais.

LOGEMANN É UM DOS PRODUTORES que têm muito a ensinar nessa nova onda positiva. Além da gestão profissional, sua empresa também se destaca pela produtividade. No milho, a colheita de 142 sacas por hectare proporcionada por suas lavouras representa quase o triplo da média nacional, de 53 sacas. Na soja, a SLC obtém rendimento 35% superior à média brasileira. A visão gerencial é herança do passado industrial da família. Durante mais de meio século, os Logemann, estabelecidos em Horizontina, no Rio Grande do Sul, dedicaram-se à fabricação de tratores. Em 1999, venderam a fábrica para seus sócios americanos, a John Deere, uma das maiores fabricantes de máquinas agrícolas do mundo. Capitalizado, o grupo SLC cresceu, diversificou as atividades e superou a marca de 1 bilhão de reais de faturamento total, somando a SLC Agrícola e outras empresas, como a Ferramentas Gerais, especializada em comercializar ferramentas e equipamentos para o setor industrial. “Os verdadeiros empresários de sucesso no setor são aqueles que conseguem aliar eficiência produtiva a eficiência administrativa”, diz o consultor Ferraz. “É essa elite que está gabaritada a levar o agronegócio a avançar ainda mais.”

Ma Shou Tao

Presidente do grupo Ma Shou Tao

Chinês naturalizado brasileiro, 83 anos, formado em economia e administração

Onde estão as propriedades Conquista, no sul de Minas Gerais

Negócios

Soja e derivados, cana-de-açúcar, pecuária de corte e de leite

Faturamento anual

Não informado

Por que está entre os melhores do Brasil

Para proteger-se de oscilações do mercado, é credenciado para fazer diretamente operações de derivativos na bolsa de Chicago. Mantém silos com capacidade para armazenar 100% da produção

Os resultados colhidos hoje pelos melhores produtores devem muito a conquistas tecnológicas registradas nas últimas décadas e que possibilitaram a chamada tropicalização do cultivo de variedades originárias de regiões de clima temperado, como a soja e o algodão. Nesse processo, foi vital o impulso dado pelos laboratórios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e de outros centros de excelência na pesquisa agropecuária no país. O avanço técnico — por exemplo, no desenvolvimento de novas sementes — está na base da incorporação do Centro-Oeste como pólo produtivo. Um dos mais tradicionais grupos agrícolas do país, fundado há 80 anos por um imigrante japonês e hoje capitaneado pelo paulista Jorge Maeda, neto do fundador, acompanhou de perto essa evolução. Até o início da década de 70, o algodão era colhido manualmente nas fazendas dos Maeda, ainda restritas às zonas mais tradicionais de produção do Sudeste. Hoje, no interior de Goiás, os algodoais do grupo ocupam grandes extensões de terra, contam com colheita mecanizada e alimentam modernas indústrias de beneficiamento.

Marcelo Vieira

Sócio e diretor da Adecoagro

Carioca, 54 anos, formado em engenharia mecânica

Onde estão as propriedades Minas Gerais e Bahia

Negócios

Oriundo de uma família com tradição secular na cafeicultura, ele revitalizou o negócio com o desenvolvimento de cafés especiais. É sócio e administra investimentos em café, açúcar e álcool de George Soros no Brasil

Faturamento anual

95milhões de reais

Por que está entre os melhores do Brasil

É um dos expoentes da produção de cafés especiais. Resgatou boas variedades que estavam esquecidas, renovou métodos de produção e agregou tecnologia para melhorar a qualidade do produto

Entre as famílias que compõem a vanguarda do campo, há alguns nomes normalmente associados a outros ramos de atividade. É o caso de Raul Randon, dono da Randon, uma das maiores empresas de material de transporte do país, com sede na cidade gaúcha de Caxias do Sul. Acostumado a tratar a tecnologia como uma prioridade do negócio na área industrial, Randon aplicou o mesmo conceito ao decidir entrar no agronegócio. Para iniciar-se na pecuária de leite, trouxe dois aviões de carga com vacas dos Estados Unidos. Levando a sério a sugestão de um amigo italiano, Randon decidiu produzir queijos finos em sua fazenda. Mas antes foi à Itália buscar o conhecimento necessário à manufatura do grana padano, um dos queijos mais famosos do planeta. Atualmente, a produção do Gran Formaggio RAR (iniciais de Raul Anselmo Randon), semelhante ao grana padano, é de 400 toneladas anuais, em peças de 40 quilos que ficam em câmaras de maturação por 12 meses para ganhar o sabor característico, levemente adocicado. Antes dos queijos, Randon começou a produzir maçãs nos anos 70, em Vacaria, no Rio Grande do Sul, e foi um dos responsáveis por reverter a condição do Brasil de importador para exportador da fruta. Desde aquela época, não conseguiu fazer da agricultura, que o ocupa principalmente nos fins de semana, um mero passatempo. “Entrei nisso meio de brincadeira, mas agora é sério”, diz Randon. “Ou o negócio é bom ou caio fora.”

O EXEMPLO DE RANDON mostra como a busca por maior qualidade também distingue a elite do agronegócio. Melhorias conseguidas pelos produtores foram a chave para o Brasil aumentar as exportações nos últimos anos em áreas como cafés finos e frutas. No caso do café, o país tem tradição bicentenária, e o produto foi âncora da economia ao longo de décadas. Mas, até há pouco tempo, por falta de atualização com as mudanças do mercado mundial, estava praticamente fora da parte mais sofisticada do negócio, a da produção de variedades mais finas — e rentáveis –, demandadas pelos novos consumidores da bebida. Não havia, por exemplo, café brasileiro entre os utilizados pela rede americana Starbucks. O cenário de estagnação foi o que o carioca Marcelo Vieira encontrou por volta de 1990, quando se viu à frente dos combalidos negócios de sua família, produtora de café há cerca de 100 anos no sul de Minas Gerais. Como salvar o negócio? A resposta encontrada passou pela qualidade e pela diferenciação. Vieira uniu-se a outros produtores da região para fundar a Associação Brasileira de Cafés Especiais. Percorreu velhas fazendas em busca de variedades esquecidas há meio século no circuito de produção comercial. Métodos produtivos antigos também foram devidamente atualizados. “Aplicamos ao café o mesmo conceito do vinho, que tem vários atributos valorizados, como o gosto e a apresentação”, afirma Vieira. Além dos cuidados na frente agrícola, a associação investiu em promoção e marketing no exterior. Como resultado, o Brasil entrou com destaque no circuito internacional dos bons cafés e já exporta 100 milhões de dólares nessa categoria. “Hoje sabemos que podemos produzir o melhor café do mundo e temos condições de multiplicar a exportação por três ou quatro”, diz Vieira.

Raul Randon

Presidente da Rasip e da Randon Agropecuária

Gaúcho, 76 anos, autodidata

Onde estão as propriedades

Vacaria, no Rio Grande do Sul

Negócios

Leite, queijos finos, maçãs, uvas, soja, milho, suínos. Está investindo em vinhos em parceria com a Miolo

Faturamento anual

54milhões de reais

Por que está entre os melhores do Brasil

Empresário do setor de autopeças, investiu no agronegócio aplicando a experiência de industrial.Ao decidir entrar na pecuária leiteira, por exemplo, buscou na Itália a tecnologia de ponta para produzir queijos únicos no Brasil

Da safra de boas notícias do campo, talvez a mais alvissareira seja a constatação de que o agronegócio tem enorme potencial para levar prosperidade a áreas até então inóspitas. É essa transformação que se vê no Vale do São Francisco, nos estados da Bahia e de Pernambuco. Nos últimos anos, a região tornou-se um importante pólo internacional de fruticultura — a uva e a manga de lá são os produtos que mais contribuíram para os 500 milhões de dólares que o país obteve com a exportação de frutas frescas em 2006. Graças ao clima e ao controle de irrigação praticado, agora é possível colher no vale duas safras e meia de uva por ano. As mangueiras são plantadas cuidadosamente para florescer no período de entressafra dos principais concorrentes — o México em especial. Mas só isso não seria suficiente para conquistar clientes no exterior. Na exportação, a qualidade e a aparência das frutas são fundamentais, e o desafio logístico é fazer com que o produto chegue à Europa ou à Ásia em boas condições. Os engenheiros civis baianos Aristeu Chaves Filho e César Coutinho começaram a investir nesse negócio em 1983, quando fundaram a FruitFort, plantando apenas 18 hectares no Vale do São Francisco. Hoje, com quatro fazendas no entorno de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), exportam 27 milhões de dólares por ano, principalmente de mangas e uvas sem sementes. A FruitFort foi a primeira a exportar manga, mas tem de fazer um duro dever de casa para manter-se competitiva. Após a colheita, as frutas são avaliadas pela qualidade e separadas por peso. As de mesmo calibre são embaladas juntas e armazenadas em refrigeradores. Dali saem para o embarque acomodadas em contêineres também refrigerados. No ano passado, após muitos anos de resistência, o Japão, um dos principais mercados do mundo, decidiu liberar a entrada da manga brasileira. Em janeiro deste ano, a FruitFort fez um embarque experimental para o país. Como os 30 dias que um navio leva para chegar ao Japão podem comprometer a qualidade, a opção foi estabelecer uma rota aérea Petrolina­Tóquio, com conexão em Luxemburgo. A partir de setembro, a FruitFort pretende fazer até quatro embarques por semana.

A diferença entre a elite e os produtores tradicionais ficou ainda mais evidente na recente crise que abateu parte do setor. A SLC, que havia mais que dobrado o faturamento entre 2001 e 2004, surfando na excelente onda da exportação de soja, viu as receitas diminuírem 10% no ano passado. “Tivemos de botar o pé no freio”, diz Logemann. Mas, ainda assim, enquanto milhares de agricultores viram-se altamente endividados e registraram prejuízos, a SLC colheu um lucro de 6,7 milhões de reais. O que fez a diferença foi o fato de 70% da produção ter sido protegida da flutuação de preços por contratos futuros de venda, escapando, assim, das quedas que ocorreram. Além de antecipar vendas, Logemann trata de antecipar ao máximo suas compras. “Sempre procuramos nos proteger, sair da loteria”, diz ele. Um dos meios de se resguardar é manter profissionais permanentemente atentos às duas pontas do negócio — a da produção e a financeira. “Agricultura não é uma aposta em um mundo volátil”, diz Maeda. “É um negócio, para o qual tenho de ter um craque ligado nas finanças globais e um bom gerente junto ao pé de algodão.”

Aristeu Chaves Filho

Sócio e diretor da FruitFort

Baiano, 57 anos, formado em engenharia civil

Onde estão as propriedades

Vale do São Francisco, na Bahia e em Pernambuco

Negócios

Cultivo de mangas e uvas para exportação

Faturamento anual

60milhões de reais

Por que está entre os melhores do Brasil

Graças a investimentos na qualidade das frutas e à agressividade comercial, sua empresa tornou-se a primeira do Vale do São Francisco a exportar manga para os Estados Unidos e para a Europa. Depois, fez o mesmo com a uva

UTILIZAR INSTRUMENTOS modernos de gestão financeira não é algo ao alcance apenas das maiores empresas, como os grupos SLC e Maeda. Prova disso é a refinada estratégia de comercialização desenvolvida pelo grupo Ma Shou Tao, de Conquista, no sul de Minas Gerais, que cultiva 3 500 hectares, uma área modesta se comparada à da SLC. “Somos credenciados para atuar diretamente na bolsa de commodities de Chicago, o que nos dá muita flexibilidade”, diz Jonadan Ma, diretor executivo do grupo e filho do imigrante chinês, hoje com 83 anos, que iniciou o negócio na década de 70. Cerca de 25% da produção dos Ma, principalmente de soja, é negociada nos mercados de derivativos. Desde os primeiros tempos, o chinês Ma Shou Tao preocupou-se em montar estruturas de armazenagem próprias na fazenda, uma raridade entre os agricultores brasileiros. Hoje, seus silos possuem capacidade superior ao próprio volume de produção. O produto estocado pode ser vendido a qualquer momento, escapando da maré de preços baixos que sempre acompanha o aumento da oferta no mercado na época da colheita.

As práticas da elite

Os métodos de gestão diferenciam os agricultores mais modernos dos produtores convencionais

Agricultor tradicional

– Toma decisões emocionalmente. Por falta de planejamento, assume riscos elevados com base em situações de euforia

– Não investe em instrumentos modernos de comercialização e não desenvolve alianças estratégicas

– Gosta de produzir, mas não gosta de administrar. Controla os custos de maneira precária

– Geralmente não tem liquidez na época da safra, o que o obriga a vender de imediato, a preços baixos

– Tem baixa flexibilidade na produção. Fica preso pelas circunstâncias a um tipo de produto

Agricultor da elite

– Cresce com planejamento e toma decisões com base na racionalidade econômica. Aproveita as oportunidades, mas administra os riscos

– Busca instrumentos sofisticados de comercialização, como mercados futuros e alianças estratégicas

– Dedica-se principalmente à administração e controla os custos de maneira rigorosa

– Procura manter-se capitalizado e aguarda as boas oportunidades de mercado

– Entende que a flexibilidade na produção é essencial para o sucesso do negócio

As conclusões tiradas por empresários como Ma, Logemann, Maeda, Vieira, Randon e Chaves podem ser lições preciosas para outros produtores elevarem o padrão de seus negócios e valorizarem seus empreendimentos. Algumas dessas empresas são as primeiras candidatas a receber como parceiros investidores — nacionais e estrangeiros. O grupo Maeda, por exemplo, mantém uma sociedade com a americana Monsanto, a MDM, para a produção de sementes transgênicas. Recentemente, fechou mais duas parcerias. Uma foi feita com a BrasilAgro, empresa montada para desenvolver investimentos imobiliários rurais. A outra é a Tropical BioEnergia, sociedade criada com as usinas Vale do Rosário e Santa Elisa para a produção de álcool e açúcar e a co-geração de energia. “Associações desse tipo dão velocidade ao nosso crescimento”, diz Maeda. Com as novas investidas, ele espera recuperar o faturamento anual, que já andou na casa dos 300 milhões de reais, mas diminuiu um terço em 2006 devido à queda de preços e ao câmbio desfavorável. A qualidade dos empreendimentos de Marcelo Vieira, que também incluíam uma usina de álcool herdada da família, fez pousar em sua mesa, no ano passado, uma proposta do investidor George Soros. O empresário húngaro-americano incorporou duas das fazendas de Vieira, a Alfenas Café e a Monte Alegre. Vieira tornou-se sócio e passou a conduzir os negócios de Soros no setor rural no país. Entre eles, destacam-se a implantação de 3 000 hectares de café na Bahia e a construção de mais três usinas de álcool. “O potencial do campo brasileiro é gigantesco”, diz Vieira. “A grande oportunidade está justamente em implantar modelos de gestão profissional, que vão elevar tremendamente o valor dos negócios.”