Na tentativa de amenizar a escalada de preços do álcool combustível — sempre presente nos períodos de entressafra, mas agora agravado pela valorização do acúçar no mercado internacional — o governo decidiu reduzir de 25% para 20% o percentual obrigatório de adição de etanol anidro combustível à gasolina. A decisão vale a partir de 1º de fevereiro e tem prazo de duração limitado a 90 dias, o que significa que, a partir de 1º de maio, o percentual de adição volta aos 25% tradicionais.
Segundo o Ministério da Agricultura, o uso de etanol adicionado à gasolina serve para aumentar a octanagem (medida da quantidade de um combustível para ! motor à gasolina necessária para produzir, em um motor padrão, o mesmo desempenho que o combustível em questão) e reduzir a emissão de monóxido de carbono na atmosfera. Em nota, o governo se absteve de explicar o objetivo da medida, que é o de assegurar o abastecimento do etanol e, ao mesmo tempo, tentar segurar a alta dos preços do combustível. Mas, enquanto a medida não entra em vigor, o preço do álcool e da gasolina continuará subindo (leia texto abaixo).
Chuvas
Além da entressafra, que só termina em abril, as fortes chuvas que caíram sobre a região produtora de cana-de-açúcar nas últimas semanas atrasaram as colheitas. A situação foi agravada pela concorrência do açúcar, que está com bom preço no mercado internacional e, por isso, detém a preferência dos produtores. A solução de emergência do governo foi a de reduzir a mistura e, com isso, injetar mais álcool no mercado. “O que não queremos é que haja desabastecimento. Como estamos economizando álcool, a tendência é de! que não haja aumento de preço”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, no início da noite, segundo a agência Reuters.
Mexer no percentual da mistura do álcool à gasolina é uma medida recorrente em tempos de crise. Especialistas garantem, no entanto, que os efeitos são paliativos. A mudança na composição, segundo a conta feita pelo setor, resultará numa oferta adicional de cerca de 100 milhões de litros de etanol, o que representa algo em torno de 10% da demanda mensal.
A portaria que alterou o percentual da mistura do álcool à gasolina foi assinada ontem pelos ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes, e de Minas e Energia, além dos interinos da Fazenda, Nelson Machado, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho. Todos eles fazem parte do Conselho Interministerial do Açúçar e do Álcool (Cima).
Estoques
Tanto o governo quanto os representantes do setor sucroalcooleiro descartam a possibilidade de falta do produto no mercado. Ambos afirmam que os estoques são suficientes. Mesmo a preferência pelo açúcar, por causa do preço, tem uma margem de manobra limitada para os produtores. De acordo com os especialistas, o produtor consegue elevar, de uma hora para outra, a produção de acúçar em, no máximo, 5%.
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), entidade que congrega mais de 50% da produção nacional de cana e 60% da produção de etanol, apoiou a medida. Segundo seu diretor técnico, Antônio de Pádua Rodrigues, as razões pelas quais o governo decidiu pela redução da mistura do álcool na gasolina são aceitáveis pelo setor, desde que se respeite o prazo de 90 dias para o retorno ao patamar atual.
Na redução deste ano, a entidade comemorou ter sido ouvida pelo governo. “É louvável o fato de o governo ter ouvido o setor e estabelecido um prazo para a vigência da medida, cujo término, aliás, ocorrerá no início da maior safra históri! ca estimada no país”, destacou Rodrigues.