O primeiro semestre termina apontando um cenário bastante promissor para o setor sucroenergético brasileiro. Vejamos:
- déficit mundial superior a 7 milhões de toneladas de açúcar na safra 2016/2017, com a queda na produção de países asiáticos, incluindo a Índia, que pressionam os preços internacionais. O dólar apreciado também remunera melhor o produtor brasileiro.
- preços remuneradores para o etanol, que estão 16,75% maiores neste primeiro trimestre da safra 2016/17 comparado com safra passada, segundo o Indicador Semanal Etanol Hidratado Cepea/Esalq.
- estabilidade na cogeração, considerando que mais de 80% dos excedentes de bioeletricidade estão contratados com preços superiores ao PLD e cobrem pelo menos os custos de produção e amortização dos investimentos.
- a agroindústria da cana criou mais de 26 mil vagas de trabalho no acumulado da safra 2016/2017 (abril e maio), em comparação com apenas 4 mil em 2015 (veja que há desemprego ainda mas já há reações positivas na página 14).
Mas nem tudo são flores para as usinas. Há diversos pontos que merecem a atenção dos produtores e executivos:
- a valorização do dólar em relação ao real, que agrava o endividamento da maior parte das usinas, e isto em meio à pior crise de crédito do Brasil em duas décadas. As possibilidades de se obter ou renovar financiamentos caiu pela metade e os custos da dívida dobraram!
- incertezas no cenário financeiro internacional quanto aos efeitos indiretos do Brexit, a médio prazo, como uma menor liquidez, maior aversão a risco e redução do fluxo de investimentos.
- “ano molhado” na região centro/Sul, onde boa parte das usinas sofreu com paradas de vários dias por conta das chuvas, causando maior volume de impurezas na cana, redução no ATR e queda no índice geral de produtividade.
- a mistura de safra chuvosa com escassez de recursos, que deve afetar significativamente a produtividade agrícola, a qual já vem sofrendo com a redução na renovação dos canaviais, e a industrial que, impulsionada pelo mix virado para o açúcar, sobrecarrega as demais etapas de produção, em especial a fermentação.
- as indefinições políticas, que dificultam traçar cenários de planejamento, “pois vários fatores podem variar em grau acentuado e em curto espaço de tempo: cotação do dólar, afetando os preços do açúcar e custos de produção; indefinição na política de combustíveis, que afeta diretamente o preço do etanol”, alerta Roberto Holland, CEO da USJ Estiva, de Novo Horizonte (SP), em entrevista na página 18.
- indefinições legais, especialmente “quanto à lei da terceirização da colheita e peso bruto das cargas dos caminhões”, também alerta Holland.
Diante deste cenário, os grupos sucroenergéticos tendem a controlar rigorosamente seus gastos e investimentos, priorizando aqueles que proporcionam geração de caixa no curto prazo, e continuar a reduzir a alavancagem.
Os espinhos sugerem que as usinas devem aproveitar esta safra para “arrumar a casa”, sem investimentos em expansão.
Afinal, nem tudo são flores neste mercado.
Boa leitura!