Mercado

Economia com energia solar

O chuveiro elétrico, equipamento barato e intensamente utilizado no Brasil para aquecimento dágua de banho doméstico é considerado o vilão da distribuição da energia elétrica no meio urbano. Seu uso intensivo no horário de pico de demanda de energia elétrica, compreendido entre 18 e 21 horas, resulta na queda da qualidade do fornecimento da energia (distorção das harmônicas da corrente elétrica), na sobrecarga dos transformadores de distribuição e por conseguinte, com freqüência, na violação dos padrões de qualidade de fornecimento de energia elétrica.

Aproximadamente 90% das residências no Brasil possuem chuveiro elétrico, os quais contribuem com 23% do consumo de energia elétrica doméstica, podendo chegar a 35% deste consumo no caso de famílias de baixa renda. O equipamento pode ser adquirido a preços que variam entre R$ 30 e R$ 60, para potências nominais na faixa situada entre 4kW e 8kW.

Conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o custo marginal de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica (GTD) para responder a demanda dos chuveiros elétricos é da ordem de até US$ 850 por unidade instalada.

O Brasil é um dos raros países onde se utiliza extensivamente o chuveiro elétrico para banho doméstico. A potência total instalada para satisfazer a demanda dos chuveiros elétricos no horário de pico corresponde a 8,5% da demanda total neste horário e é da ordem de 4.800MW, cerca de 40% da potência instalada da usina hidrelétrica de Itaipu.

Essa potência demandada no período do horário de pico, corresponde aproximadamente a 14.400 MWh. Essa quantidade considerável de energia poderia ser armazenada nos reservatórios das hidroelétricas do País, para consumos mais nobres e também para reduzir os riscos de colapso, na circunstância de situações de oferta energética crítica.

O investimento para gerar, transmitir e distribuir a fração de energia destinada aos chuveiros no horário de pico é da ordem de US$ 8 bilhões. Esse investimento marginal é certamente debitado na conta de energia dos consumidores. São os consumidores também que pagam os prejuízos decorrentes da má distribuição da energia elétrica fora dos padrões de qualidade, por decorrência das falhas do sistema e das avarias dos próprios equipamentos elétricos residenciais.

A medida adotada pelas concessionárias de energia elétrica para inibir a utilização dos chuveiros elétricos no horário de pico, com o aval da Aneel, é a prática da sobre-tarifa, que na prática se constitui numa penalidade. Ao consumidor de baixa renda, já penalizado com a inflexibilidade dos horários de emprego, dos problemas de transporte urbano e outras restrições de acesso ao consumo, resta pouca liberdade de escolha quanto ao banho doméstico, pois para evitar a sobre-tarifa, deve ele necessariamente transferir seu banho e relaxamento corporal para horários mais favoráveis após as 21 horas.

A energia solar é renovável, livremente acessível e abundante em todo o território nacional, com média diária de 6000 Wh/m2 na região nordestina e de 4.600 Wh/m2 na região mais desfavorável do Brasil, que compreende o litoral norte de Santa Catarina e do Paraná, abrangendo parte substancial do Vale do Itajaí. Esse potencial é 50% maior que o potencial solar médio anual máximo da Alemanha, país líder em tecnologia solar.

O Ministério de Minas e Energia, através do Programa Procel, adotou a premissa de que o uso de aquecedores solares de baixo custo poderia ser a solução para desagregar ou reduzir o pico de demanda dos chuveiros elétricos no Brasil. Esta premissa é correta. Entretanto, para cerca de 18% dos dias do ano, a demanda dos chuveiros elétricos no horário de pico permanece praticamente inalterada, como demonstram estudos experimentais realizados pelo Laboratório de Energia Solar (Labsolar) do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tendo por base o Condomínio Residencial Solar Buona Vita de Canasvieiras – Florianópolis. Este efeito é esperado em menor grau para outras regiões do Brasil. Com novas tecnologias desenvolvidas no laboratório, a redução do pico de demanda poderia alcançar 90%.

O preço mínimo de referência de um aquecedor solar de boa qualidade, aprovado em teste segundo norma específica do Inmetro, de pequeno porte, com capacidade de 100 litros é da ordem de US$ 400,00. Considerando-se que esse equipamento poderia reduzir em média 70% da demanda dos chuveiros no horário de pico, o custo marginal de GTD poderia ser reduzido na mesma proporção para US$ 600,00 por chuveiro instalado.

Por conseguinte, financiando integralmente o equipamento com a receita economizada de GTD, a economia líquida por chuveiro elétrico seria da ordem de US$ 200,00. Por conseguinte, deveria o consumidor também ser informado de que a eliminação dos chuveiros no horário de pico melhoraria a qualidade do fornecimento da energia elétrica, reduziria os riscos de falha nos equipamentos e também, que o financiamento dos aquecedores solares promoveria o crescimento do setor, que é conhecido pelo elevado índice de geração e emprego por unidade de investimento.

Sendo os aquecedores solares movidos a energia renovável, sua instalação em grande escala no país viria a resultar também na acumulação de créditos de carbono, proporcionais a redução do consumo de energia elétrica. O incentivo a energia solar promoveria o desenvolvimento do setor industrial afim, reduzindo por conseguinte o risco de a China, líder de produção asiática também em coletores solares de alta tecnologia, vir a dominar este precioso mercado no país.

kicker: O Brasil é um dos raros países onde se utiliza extensivamente o chuveiro elétrico para banho doméstico