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Economia alagoana: bons ventos nos canaviais

O alagoano tem se deparado há vários meses com sucessivas notícias positivas relacionadas ao universo de negócios do setor sucroalcooleiro do País. Desde que o petróleo iniciou tendência de alta no mercado internacional, ao mesmo tempo em que o Protocolo de Kyoto entrou em vigor, crescem as perspectivas de exportação do álcool combustível no exterior.

Além disso, no mercado interno as vendas dos veículos flex fuel – que há dois meses ultrapassaram as vendas de veículos à gasolina – também trazem um aumento no consumo de álcool. Em junho, os veículos bicombustíveis tiveram 51,9% de participação nas vendas no Brasil, contra 41% dos carros a gasolina. Os carros movidos somente à álcool por sua vez, vêm perdendo cada vez mais espaço no mercado, encerrando o mês com apenas 2,7% de participação.

O açúcar brasileiro, por sua vez, também foi beneficiado com novidades vindas do cenário internacional. No final de abril, a Organização Mundial de Comércio (OMC) confirmou seu parecer contrário ao subsídio do açúcar europeu, considerando-o ilegal. A decisão, já esperada pelos empresários brasileiros, deve fazer com que a exportação do produto nacional aumente em até 4 milhões de toneladas por ano, de acordo com especialistas do setor sucroalcooleiro.

Todas estas notícias dizem respeito à agroindústria canaviera alagoana, na medida em que ela exporta 70% do seu açúcar, tem uma capacidade instalada para produzir até um bilhão de litros de álcool, e é produtora de energia através da utilização da biomassa, utilizando o bagaço de cana-de-açúcar – retirando carbono da atmosfera.

“O setor sucro-alcooleiro está nas nuvens. É uma chuva de boas notícias. Até a Petrobrás entrou no mercado de álcool para dar uma força à entrada do combustível no exterior, tendo em vista que muitos países tendem a introduzir o etanol na composição da gasolina – como faz o Brasil”, diz o economista Cícero Péricles de Carvalho, professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

O acadêmico, que tem vários livros publicados sobre o setor sucroalcooleiro, como o Reestruturação produtiva do setor sucroalcooleiro alagoano, também menciona que o programa do biodiesel abre perspectivas para o consumo de mais alguns milhões de litros de álcool no País, já que o produto vai ter em sua fórmula um percentual de álcool. Esse conjunto de novos fatos diminui o espaço da agenda baseada no processo administrativo interno e amplia a agenda de longo prazo, dominada pelos temas de futuro: a relação do setor com o Estado brasileiro, as inovações tecnológicas, os programas energia alternativa e os acordos internacionais que abrem perspectivas para o álcool. “Com o aquecimento das demandas tanto do álcool quanto do açúcar no mercado externo e interno, haverá um crescimento de investimentos na região Centro Sul do País que ainda dispõe de área para ampliar a fronteira agrícola, inclusive é possível que a migração de capital alagoano para o Sudeste seja também aumentada”, diz Cícero Péricles.

De fato, a aplicação de investimentos alagoanos no Centro Sul está se intensificando. Recentemente, a imprensa paulista noticiou novos investimentos do Grupo Tércio Wanderley no Triângulo Mineiro, onde serão destinados R$ 260 milhões na construção de duas novas usinas destilarias. O conglomerado alagoano, que controla entre outros negócios a Usina Coruripe (em Coruripe) e a Cipesa Engenharia, passará a ter cincos unidades industriais em Minas Gerais com os novos investimentos. O grupo fez seu primeiro investimento no Triângulo Mineiro em 1994, quando montou a filial da Coruripe em Iturama. Em seguida vieram as de Campo Florido e Limeira do Oeste. Os dois novos empreendimentos serão estabelecidos nas cidades de Carneirinho e União de Minas. Outro grupo que anunciou aporte de capital na região do Triângulo Mineiro foi o Triunfo, do empresário João Tenório. Recentemente o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 37 milhões para o grupo implantar uma destilaria autônoma de álcool no município de Santa Juliana, em Minas. A unidade industrial iniciará suas atividades agroindustriais em junho do ano que vem.