Mercado

É preciso cuidar do mercado de etanol

O crescimento expressivo da demanda por combustíveis é reflexo das políticas anticíclicas do período pós-crise, da estabilidade econômica brasileira nos últimos anos e do aumento de renda da população.

Tudo isso facilitou a aquisição de bens de consumo duráveis, inclusive automóveis. No período 2005-2012, a frota de veículos ciclo Otto cresceu 63%, uma taxa média de 7,2% ao ano.

A frota flex-fuel aumentou 14 vezes no período, enquanto a quantidade de veículos movidos exclusivamente a gasolina encolheu 22% no período. Desta forma, a frota flex-fuel ultrapassou a gasolina e respondeu, em 2012, por 57% do total.

A hegemonia do carro flex-fuel trouxe uma nova dinâmica para o mercado de combustíveis, já que agora grande parte dos consumidores pode escolher o combustível que utilizará no momento do abastecimento.

O preço relativo dos combustíveis é o critério preponderante de escolha, o problema é que o preço subsidiado da gasolina distorce o mercado e reduz a competitividade do etanol.

A baixa competitividade do etanol fez com que a média das vendas diárias de gasolina em 2012 fosse 41% maior que em 2009 e as de etanol 41% menor comparando o mesmo período. De nada adianta o governo estabelecer uma política de incentivos aos carros flex-fuel para fomento do setor de etanol se continua a subsidiar a gasolina.

Além da competição desleal com a gasolina, o setor vem enfrentando adversidades também em outras áreas. Desde a crise de 2008, o setor tem tido dificuldade em levantar recursos para investimento em ampliação, renovação e mecanização do canavial, e, para piorar, as últimas safras tiveram seus custos aumentados por problemas climáticos.

Como consequência dessas adversidades, das 330 usinas de açúcar e etanol da Região Centro-Sul do Brasil, responsáveis por 90% de toda a cana de açúcar processada no país, 60 deverão fechar as portas ou mudar de dono nos próximos dois a três anos.

Nos últimos cinco anos, 43 usinas foram desativadas e outras 36 entraram em recuperação judicial. Desde 2008, nenhuma decisão de instalação de nova usina foi tomada no país. Só quatro unidades estão previstas para entrar em operação até 2014, mas são projetos que foram decididos antes da crise.

Os efeitos da crise do setor também se revelam na atividade econômica das regiões nas quais as destilarias estão localizadas. Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), feito com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, em 2012, o setor sucroalcooleiro eliminou mais de 18 mil postos de trabalho no país.

A correção do preço do combustível e o aumento de 20% para 25% do porcentual do etanol na gasolina tendem a melhorar a situação do setor, mas são medidas de curto prazo. O setor carece de segurança para investir, e isso depende da elaboração de um marco regulatório de longo prazo e da definição clara do governo sobre o papel do etanol na matriz energética.

*Texto originalmente publicado no Brasil Econômico de hoje (7).

Adriano Pires

Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)